‘Desinformação que Mata’: Governo Bolsonaro usou estudo tendencioso para negar segunda onda

Ex-ministro da Saúde no Governo Bolsonaro, Eduardo Pazuello (Divulgação)
Paula Litaiff – Da Revista Cenarium

MANAUS (AM) – Assinado por oito pesquisadores de seis instituições nacionais, o artigo científico sobre desinformação na pandemia apontou que os dados produzidos pelo Boletim Objetivos de Desenvolvimento Sustentável Atlas Amazonas (ODS Atlas Amazonas), sob a coordenação do pesquisador Henrique Pereira, foram usados pelo governo do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) para medidas negacionistas na gestão pública, no período que antecedeu o segundo ápice do novo coronavírus no Brasil. Gráfico da pesquisa de Henrique Pereira foi exposto pelo ex-ministro da Saúde, o general Eduardo Pazuello, em reuniões do Congresso, para arrefecer restrições sanitárias (ver abaixo).

Concluíram a informação os pesquisadores Lucas Ferrante, da Universidade Federal do Amazonas (Ufam); Alexandre Celestino Leite Almeida, da Universidade Federal de São João del-Rei (UFSJ); Jeremias Leão  da Ufam; Wilhelm Alexander Cardoso Steinmetz, da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG); Ruth Camargo Vassão, do Instituto Butantan de São Paulo; Rodrigo Machado Vilani, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ); Unaí Tupinambás, da UFMG; e Philip Martin Fearnside, do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa).

Em reunião na Comissão Mista do Senado sobre ações para conter a Covid-19, o então ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, informou, em 23 de junho de 2020, que o pico do novo coronavírus tinha “passado” em Manaus (AM) (Reprodução/TV Senado)

Conforme o artigo publicado no Journal of Racial and Ethnic Health Disparities, em 23 de junho de 2020, o ex-ministro da Saúde do ex-presidente Jair Bolsonaro, o general Eduardo Pazuello, apresentou os gráficos do boletim ODS Atlas Amazonas em sessão da Comissão Mista de Acompanhamento do Coronavírus no Congresso Nacional, alegando que os dados mostravam que a tendência dos registros do novo coronavírus era a “normalidade” e a “curva é quase zero”.

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Essa crença pode ter contribuído para a natureza desastrosa da gestão da pandemia pelo governo Bolsonaro em todo o Brasil. (…) Esse resultado trágico foi resultado do negacionismo da Covid-19 e da resistência associada às medidas de distanciamento social, tanto por indivíduos quanto por líderes políticos”, apontou o estudo.

Apresentação de Eduardo Pazuello, em junho de 2020, apontava “fim da pandemia” na Região Metropolitana de Manaus, no Senado (Reprodução/TV Senado)

No canal da TV Senado, no YouTube, consta a transmissão da reunião da comissão, na mesma data apontada pelo artigo, na qual Pazuello visa prestar contas com os parlamentares sobre a atuação do governo federal e as ações promovidas pelo ministério no combate ao novo coronavírus.

Para convencer os membros do Senado de que os registros da doença apresentavam curva em queda, Eduardo Pazuello afirmou que estudos nos quais se baseava o sistema do “LocalizaSUS” apontavam que a curva da Região Norte estava diferente da curva do Brasil.

As curvas já se mostram bem diferentes e nós vamos aprofundar um pouquinho na Região Norte, e vamos escolher um Estado, o Estado do Amazonas. Aí, vocês observam a curva do Estado do Amazonas completamente diferente da curva da Região Norte do Brasil, uma curva muito mais clara onde o pico já passou, e o número tende à normalidade no final da curva”.

Paciente com oxigênio na pandemia, em Manaus. (GettyImages)

Ao falar de Manaus, o ex-ministro Pazuello afirmou que a capital amazonense redimiu a doença. “Manaus e região metropolitana, vocês veem a curva da Região Metropolitana, praticamente, tendendo ao zero, praticamente tendendo ao zero. Isso mostra que naquela capital, que naquela região metropolitana, naquele Estado, naquela região do Brasil é essa a curva”, completou.

Com até 3 mil mortes registradas ao mês por Covid-19 no Brasil no ápice da segunda onda, o general Eduardo Pazuello deixou o cargo de ministro da Saúde, no Governo Bolsonaro, no dia 16 de março de 2021, em meio a denúncias de negligência na função e suspeita de corrupção na aquisição de vacina contra o novo coronavírus.

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O assunto foi tema de capa e especial jornalístico da nova edição da REVISTA CENARIUM do mês de maio de 2023. Acesse aqui para ler o conteúdo completo.
(Reprodução)
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