Desmatamento na Amazônia pode crescer até quatro vezes, de acordo com relatório ‘Isolados ou dizimados’

Desmatamentos no Sul do Amazonas podem quadruplicar e alcançar cerca de 170 mil km2 em 2050, com riscos de genocídio indígena, segundo o Instituto Socioambiental (ISA) (Divulgação)

Nicole Gomes – Da Revista Cenarium

MANAUS – O novo relatório da campanha intitulada “Isolados ou Dizimados“, publicado nesta segunda-feira, 14, aponta que a Terra Indígena Jacareúba-Katawaki, localizada nos municípios de Canutama e Lábrea como uma das regiões que está sofrendo constantes invasões, e mesmo com registros da existência de indígenas isolados, segue desprotegida desde dezembro de 2021. Logo, se o cenário não mudar e medidas do governo não forem tomadas, o desmatamento pode ser quatro vezes maior do que a média histórica de 2012 a 2016.

O Sistema de Cadastro Ambiental Rural (Sicar) registra 639 cadastros irregulares de invasores, que ameaçam mais de 60 mil hectares no interior da Terra Indígena. Além disso, segundo o Projeto de Monitoramento do Desmatamento na Amazônia Legal por Satélite (Prodes/Inpe), aponta que até julho de 2021 já foram desmatados 5.889,4 hectares no interior de Jacareúba, correspondendo a mais de três milhões de árvores derrubadas.

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Esse mesmo território possui registro em estudo desde 2007 e tinha uma portaria de Restrição de Uso, que era renovada durante dez anos seguidos, entretanto, o acordo chegou ao fim em dezembro de 2021 e com a entrada do novo governo. Já a “Nova Funai” escolheu não tomar as medidas necessárias para garantir a proteção dos isolados dessas Terras Indígenas (TIs).

Desmatamento em abril de 2021 (Divulgação)

Povos isolados

Em conversa à REVISTA CENARIUM, o coordenador do Programa de Monitoramento de Áreas Protegidas do Instituto Socioambiental (ISA), Antônio Oviedo, explicou como o desmatamento ameaça os indígenas isolados na Amazônia.

“O desmatamento dentro dos territórios indígenas promovem uma perda de biodiversidade e ecossistemas naturais que impactam a segurança alimentar desses povos. Os grupos isolados dependem da floresta para coleta de produtos de extrativismo, para fabricação de utensílios de suas malocas. Logo, os criminosos degradam e acabam com esses recursos da floresta, que são imprescindíveis para reprodução social dos grupos isolados”, afirmou o pesquisador.

Por outro lado, há também o desmatamento que ocorre fora dos territórios indígenas com riscos para os grupos isolados. “A medida que a paisagem e o ambiente fora das terras indígenas fica degradado com o desmatamento, isso gera um “Efeito de Borda”, que também pode promover impactos negativos para dentro dos territórios indígenas. Por exemplo, quando na borda externa de uma terra indígena têm pastagens e os fazendeiros colocam fogo para manejar, muitas vezes esse fogo invade as florestas e ecossistemas das terras indígenas e impacta nos recursos florestais desses povos”, explicou Antônio.

Indígenas em terras isoladas (Divulgação)

Impactos Ambientais

Ainda de acordo com o coordenador da ISA, existem inúmeros estudos que mostram o papel da floresta na captura do carbono, característica importante para a manutenção do clima no planeta.

“A principal causa de desregulação do clima é o efeito estufa, que é o excesso da liberação de carbono da atmosfera, a partir da queima dos combustíveis fósseis, que faz como um cobertor sob o planeta, mantendo uma temperatura e dificultando as trocas de energia da terra com a atmosfera. Então, quanto mais a gente queima, mais a temperatura do planeta vai se elevando, ocasionado toda essa bagunça no clima. Antigamente a gente tinha as quatro estações do ano bem mais delimitadas, hoje em dia tem durante o período do verão a estiagem (chuvas no verão) de 20 a 30 dias ou o inverso, como ocorreu recentemente em Petrópolis, no Rio de Janeiro”, contou Oviedo.

Cobranças e Políticas Ambientais

Dessa forma, a medida em que aumenta o desmatamento e diminui a quantidade de floresta no planeta, cai a capacidade da Terra em regular a temperatura, logo, a tendência do efeito estufa e aquecimento global é intensificada. Para reverter esse quadro é preciso direcionar a atenção para as políticas ambientais no País.

“Uma medida primordial e urgente é a restauração da política ambiental no Brasil, em especial as ações de fiscalização ambiental e implementação dos mecanismos de gestão das áreas protegidas. Um segundo ponto, especialmente no período de eleição, é a sociedade civil cobrar e se informar sobre a atual política e governo tem promovido para a política ambiental e tem fomentado o crime ambiental”, defendeu Antônio Oviedo.

Petição para proteção das Terras Indígenas

Devido ao descaso aos isolados, a campanha “Isolados e Dizimados”, realizada pela Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira (Coiab), junto ao Observatório dos Direitos Humanos dos Povos Isolados e de Recente Contato (Opi) e com apoio das organizações aliadas, está promovendo ações para dar visibilidade a violência e o perigo que grupos de isolados estão correndo.

Para apoiar a causa, é possível acessar e assinar a petição www.isoladosoudizimados.org.

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