Destruição na Amazônia cai 11%; houve redução em todos os Estados da região, menos no AM

Os dados do Prodes mostram que, novamente, os Estados que mais desmataram foram Pará, Amazonas, Mato Grosso e Rondônia, que respondem por quase 88% do desmate documentado (Reprodução)
Da Revista Cenarium*

SÃO PAULO – Pelo quarto ano consecutivo, o desmatamento na Amazônia, em um ano, ultrapassou os 10 mil quilômetros quadrados. Os dados do programa Prodes, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), divulgados nesta quarta-feira, 30, mostram que foram ao chão 11.568 quilômetros quadrados de floresta, de agosto de 2021 a julho de 2022. O valor, porém, é cerca de 11% inferior à taxa do ano anterior e interrompe uma sequência de crescimento que vinha desde 2018.

De toda forma, os números permanecem elevados, especialmente, ao se considerar os alertas de que a Amazônia não está distante de um ponto de não retorno, no qual, devido ao desmatamento, a floresta poderá passar por uma savanização, com a perda de sua biodiversidade e serviços ecossistêmicos.

A situação é ainda mais crítica ao se considerar o avanço da crise climática, que deixa cada vez mais explícitos os eventos extremos que deverão ser experienciados ainda mais frequentemente pela população mundial.

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Os Estados que mais desmataram foram Pará, Amazonas, Mato Grosso e Rondônia, que respondem por quase 88% do desmate documentado (Lalo de Almeida/Folhapress)

Conter o desmatamento, especialmente na Amazônia, é central para o papel do Brasil frente à crise climática, considerando que a derrubada de floresta é a principal fonte de emissões de gases-estufa do País.

Além disso, o desmate explosivo, ocorrido sob o governo de Jair Bolsonaro (PL), vem trazendo problemas para a imagem brasileira internacional, o que, consequentemente, leva a maiores dificuldades comerciais e perdas de parcerias — o exemplo máximo foi a paralisação do bilionário Fundo Amazônia.

Desde antes do início de sua gestão, Bolsonaro colocou em dúvida dados de desmatamento e de queimadas produzidos pelo Inpe, um orgão do governo. Também criticou, publicamente, ações de combate ao desmatamento.

Os dados do Prodes mostram que, novamente, os Estados que mais desmataram foram Pará, Amazonas, Mato Grosso e Rondônia, que respondem por quase 88% do desmate documentado.

O Amazonas, dessa forma, pelo segundo ano consecutivo, ocupa a segunda posição no ranking de devastação, que até 2020 era ocupado por Mato Grosso. O avanço do desmate no Estado é fator de atenção e preocupação, considerando as ainda amplas áreas bem conservadas da região.

Inclusive, o Amazonas foi o único, de agosto de 2021 a julho de 2022, a registrar aumento de desmate em relação ao Prodes anterior. O crescimento foi de cerca de 13%. Pará e Mato Grosso, os outros Estados que completam o top 3 de desmate tiveram reduções de, respectivamente, quase 21% e cerca de 14%.

Apesar da divulgação somente nesta quarta, segundo apuração da Folha, o Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações (MCTI) já havia recebido os dados antes da COP27, a conferência do clima da ONU, que terminou no dia 20 de novembro. No evento, a reportagem chegou a questionar o ministro do Meio Ambiente, Joaquim Leite, sobre os dados do Prodes. A resposta foi: “não faço ideia”.

A nota técnica publicada pelo Inpe, nesta quarta, tem a data de 3 de novembro registrada, ou seja, ainda antes do início da COP27.

Durante a COP27, o estande oficial do Brasil se manteve distante da Amazônia e buscou difundir a ideia de que o Brasil é um País de energia verde.

Em meio à crise climática e aos seus efeitos devastadores, Leite usou seu discurso na conferência climática para falar que não acredita em uma “redução de emissões extremamente forçada, via taxas e custos a vários setores econômicos, com risco de geração de inflação verde e aumento da pobreza”. O ministro também se ausentou das negociações.

Não é a primeira vez que o governo de Jair Bolsonaro evita divulgar os dados de desmatamento em uma COP do clima — tradição que vinha sendo mantida desde 2005 pelos governos brasileiros.

Queimada às margens da rodovia Transamazônica, BR-230, em Lábrea (Lalo de Almeida/Folhapress)

Em 2021, o ministro do Meio Ambiente, Joaquim Leite, defendeu, ao longo da COP26 (realizada na Escócia), que o desmatamento na Amazônia apresentava tendência de baixa, usando dados dos últimos meses do Sistema de Detecção do Desmatamento em Tempo Real (Deter).

Embora tivesse o dado anual do Prodes disponível desde o dia 27 de outubro daquele ano, o governo só revelou o resultado após uma nota do Sindicato dos Servidores Públicos Federais do Setor Aeroespacial (SindCT) ter afirmado que a informação já estava disponível há quase um mês.

Governos anteriores

Com base nos dados do Inpe, Bolsonaro tem uma média anual de desmatamento superior a de governos anteriores. Durante o mandato de Bolsonaro, cerca de mais de 11,3 mil quilômetros quadrados de Amazônia foram ao chão, anualmente.

É a maior média desde o primeiro Governo Lula (PT), com início em 2003, no qual a média foi de 21,6 mil quilômetros quadrados. Há, porém, uma diferença importante entre os dois cenários: Lula herdou taxas já elevadíssimas de desmatamento — acima de 20 mil quilômetros quadrados — e, a partir do segundo ano de seu governo, foram registradas quedas de destruição praticamente consecutivas (com exceção de 2008), até o ano de 2012, onde foi alcançada a mínima histórica de desmate, já sob o Governo Dilma Rousseff (PT).

No início do mandato de Bolsonaro, a Amazônia já vinha com tendências de alta de desmate. Porém, no governo atual, houve uma explosão do desmatamento.

A ONG Observatório do Clima, que reúne dezenas de entidades da sociedade civil, aponta que sob Bolsonaro houve um aumento de quase 60% na média anual de desmate, em comparação aos quatro anos anteriores ao Governo Bolsonaro (ou seja, considerando parte do mandato de Dilma e o período Temer).

“É a maior alta percentual num mandato presidencial desde o início das medições por satélite, em 1988”, diz, em nota, o Observatório do Clima. “Bolsonaro superou, até mesmo, o aumento visto no primeiro Governo FHC, quando o forte aquecimento da economia, no início do Plano Real, causou o maior desmatamento da série histórica, de 29 mil quilômetros quadrados, em 1995”.

No início do mandato de Bolsonaro, a Amazônia já vinha com tendências de alta de desmate. Porém, no governo atual, houve uma explosão do desmatamento (Lalo de Almeida/Folhapress)

Trata-se do último dado do Prodes, exclusivamente, sob Bolsonaro. Isso porque a próxima taxa de desmatamento será relativa ao período de agosto de 2022 a julho de 2023, englobando, assim, os primeiros seis meses de Governo Lula.

Os últimos meses de Governo Bolsonaro, porém, têm apresentado elevadas taxas de desmate, segundo dados do Deter, programa do Inpe que auxilia nas ações de fiscalização de crimes ambientais. Setembro e outubro tiveram desmatamentos recordes, considerando o histórico recente do Deter, com início em 2015. Agosto registrou 1.661 quilômetros quadrados de derrubada, o segundo maior valor já observado em agosto, no histórico recente do bioma, perdendo apenas para o de 2019, primeiro ano do Governo Bolsonaro.

O presidente eleito Lula tem prometido não medir esforços para zerar o desmatamento e a degradação dos biomas nacionais, especialmente, na Amazônia, tal qual foi dito em seu discurso na COP27.

(*) Com informações da Folhapress
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