Dia da Visibilidade Bissexual: data marca o combate ao apagamento e invalidação da ‘comunidade Bi’

23 de setembro, Dia da Visibilidade Bissexual (Arte: Mateus Moura)
Priscilla Peixoto – Da Revista Cenarium

MANAUS – Considerada subjugada e, por vezes, ignorada, a população bissexual luta pelo respeito e reconhecimento da sociedade e até mesmo dentro de alguns espaços e movimentos LGBTQIAP+. Visando a mudança desta realidade, ativistas dos direitos bissexuais dos Estados Unidos instituíram, em 23 de setembro de 1999, o Dia da Visibilidade Bissexual fomentando o combate à invisibilidade da comunidade.

A data, voltada para a comunidade Bi, representada pelo B da sigla LGBTQIAP+, serve como ferramenta de debate e reflexão quanto ao “insistente hábito” de deslegitimar e invalidar a orientação sexual de uma população que, conforme dados da (Pesquisa Nacional de Saúde) realizada em parceria com o Ministério da Saúde, até o ano de 2019, tinha uma média de 1,1 milhão de pessoas maiores de 18 anos autodeclaradas bi.

Para a ilustradora Sarah Farias, 31, a celebração da data é um ato positivo contra a bifobia e traz um olhar particular quanto às especificidades da pauta envolta de clichês e desinformação. “Se tem data para ser lembrado é porque existe uma problemática. Uma discussão, uma necessidade do olhar da sociedade, é algo extremamente positivo“, considera.

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No dia 23 de setembro é comemorado o “Dia da Visibilidade Bissexual” (Reprodução/Pinterest)

Conceito e estigmas

Uma pessoa bissexual se define como alguém que sente atração por mais de um gênero ou dois e até mais gêneros. Atualmente, já não se limita mais a atração apenas por pessoas cisgêneros ou binários (homem e mulher). Mas vale ressaltar que apesar de não ser mais definido como atração por homem ou mulher, há pessoas bissexuais que sentem atração apenas por gêneros binários.

Atração que, por diversas vezes, vira estigma vinculado aos bissexuais tidos como promíscuos, indecisos, volúveis, infiéis e tantas outras questões que acabam prejudicando àqueles que, normalmente, já enfrentam uma série de barreiras por integrar a comunidade LGBTQIAP+, como lembra a ilustradora.

Eu, pessoalmente, já me senti muito culpada e uma fraude ao fazer parte da comunidade LGBTQIAP+, sendo que, por me relacionar com um homem, eu tenho ‘passabilidade hétero’, mas o preconceito que nós sofremos é particular (assim como o de todos os grupos da comunidade LGBTQIAP+) e tem suas próprias características. Eu, dificilmente, seria violentada na rua estando com meu parceiro, mas eu sou considerada por muitos homens um fetiche, o que me desumaniza e desumaniza meus afetos. Algumas mulheres héteros não se sentem seguras em ter nossa amizade, ainda considero que é mais fácil se assumir bi sendo mulher do que homem“, desabafa.

Identidade e Orgulho

Mulher declarada bissexual, Samantha Carvalho considera importante ter datas e meses com foco nas pautas LGBTQIAP+ para criar maior entendimento sobre as particularidades da comunidade e, principalmente, para a tentativa de quebras de paradigmas.

Aos 32 anos, ela compartilha parte da pressão vivida quando resolveu falar abertamente sobre a sexualidade. “Aos 13 anos me entendi como bissexual e isso desencadeou preconceito familiar. Aos 19, resolvi me declarar como lésbica devido à pressão no círculo de convívio social – majoritariamente LGBTQIAP+. Com o alcanço de maior maturidade, me afirmei como realmente sou: uma das siglas invisíveis, o B. Acho importante ter datas voltadas às pautas LGBTQIAP+ para promover entendimento sobre as particularidades da nossa comunidade“, conta a professora.

Dados

Pesquisas focadas na comunidade bi não são tão comuns, mesmo que a bissexualidade seja um tema mais em pauta. O Dossiê de Mortes e Violências contra LGBTI+, no Brasil, publicado em maio deste ano, traz dados mais recentes e, segundo o levantamento, no ano de 2021 ocorreram 316 mortes LGBTQIAP+ de forma violenta no País, (145 casos entre os declarados gays — (45%), 141 casos de mortes trans — (44,62%) 12 casos contra lésbicas (12%) e três casos de morte violentas de pessoas bissexuais (0,95%), número inferior aos demais.

Um estudo intitulado Bissexualidade, publicado pelas Nações Unidas, afirma que “pessoas bissexuais enfrentam discriminação, com base em sua orientação sexual, no âmbito da saúde, incluindo negativa categórica de acesso a serviços. Elas também enfrentam comentários sexuais indesejados ou estereótipos negativos baseados, especificamente, na sua bissexualidade”.

Segundo a Revista Galileu, com base em dados obtidos em 2020, após uma pesquisa feita pela ONG Livre & Iguais, do Instituto Brasileiro de Diversidade Sexual (IBDSEX), cerca de 17,6% de 8.918 mil pessoas entrevistadas se apresentavam como bissexuais.

Que a data traga, de fato, novas informações, ampliando a capacidade de entendimento e respeito ao próximo por meio do debate e conteúdo que, verdadeiramente, informem. Toda data comemorativa, reflexiva, tem significados relevantes para nossa sociedade”, finaliza Sarah.

Leia também: Bissexualidade: preconceitos, diferenciações e invisibilidade

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