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‘É significante e traz representatividade’, diz amazonense ativista, travesti e única brasileira que atua como ponto focal da ONU 2022
A amazonense recebeu a missão de participar de grupos e mobilizações na Constituinte de Crianças e Juventudes, em Comunidades Sustentáveis (Divulgação)
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21 de maio de 2022
Priscilla Peixoto – Da Revista Cenarium
MANAUS – “Estar em um ambiente de tomadas de decisões é um desafio para mim, a gente sabe que é um ambiente, historicamente, não idealizado para pessoas como nós, principalmente, para alguém como eu, que representa uma parcela da juventude brasileira, negra, periférica e, sobretudo, LGBT por ser travesti”, a declaração é da ativista e pesquisadora amazonense, Vitória Pinheiro, 25, escolhida como a única brasileira, dentre as pessoas nomeadas, como Ponto Focal da Organização das Nações Unidas (ONU) para 2022.
A amazonense recebeu a missão de participar de grupos e mobilizações na Constituinte de Crianças e Juventudes, em Comunidades Sustentáveis, representando crianças e jovens do Caribe e América Latina. A Constituinte integra o sistema formal da agenda de implementação de medidas de avanço da Nova Agenda Urbana, na Região Norte do País, e da agenda de Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS).
“Meu papel, enquanto ponto focal, é justamente facilitar e ser o ponto de contato entre espaços que se constituem como formais dentro da ONU e como a United Nations Environment Programme, (Unep), que é um programa voltado à promoção do meio ambiente e desenvolvimento sustentável) (…) é como se fosse condensar quais as visões que os grupos de crianças e juventude têm pensado e desenvolvido ações, e como isso pode chegar em espaços de decisões”, resume Vitória.
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De acordo com Vitória, a nomeação aconteceu em novembro de 2021, mas só foi assumida no início deste ano. O mandato deve durar um ano e pode ser prolongado. A jornada da ativista envolve, dentre outros pontos, a produção de relatórios com base em dados que possam impactar no processo de tomadas de decisão e auxilia na inserção da população em espaços de relevantes decisões políticas e os impactos sofridos pela comunidade.
“Agora estou conduzindo, junto à Aline Oliveira, jovem do México que também é ponto focal da América Latina, um mapeamento voltado para a saúde, educação e direitos sociais e como a juventude tem percebido o avanço da nova agenda urbana e a preparação para o desafio que é enfrentar as consequências das mudanças climáticas. A produção dessas consultas vão ser utilizadas em junho, na cidade da Katowice, na Polônia, durante o 11° Fórum Urbano Mundial, ou seja, estamos preparando como esses grupos podem informar a política pública mundial“, conta a ativista.
Representatividade na ONU
Vitória destaca a caminhada enquanto pessoa interessada nas questões climáticas, políticas públicas e com os que sofrem, diretamente, pela falta de acesso às oportunidades e espaço de poder, como mulheres, negros, periféricos e a população LGBTQIA+. Na leitura da ativista trans, atuar em organizações como a ONU, em prol desta parcela da população, traz a representatividade e mostra o quanto ela pode ser um ponto para além do debate.
“Apesar de ter uma trajetória que me leva até esses espaços, não venho de uma situação de privilégio, minha mãe é vigia e meu pai uber e para mim isso é muito. É algo muito significativo e aponta o quanto necessitamos falar sobre representatividade, mas de uma maneira ativa, e como podemos alcançar algo de maneira efetiva em nossas vidas”, destaca.
Jornada
Há pelo menos sete anos trabalhando com ativismo e participação na política de juventudes, a amazonense ressalta a precariedade, falta de apoio, desinformação e a dura realidade vivida pelos jovens nos bairros periféricos. Com o curso de Políticas Públicas e Desenvolvimento Rural, na Universidade Federal do Rio Grande do Sul, interrompido, a ativista conta que a vivência despertou a necessidade de lutar por mudança na jovem criada no bairro Zumbi dos Palmares, Zona Leste de Manaus.
“A minha história com o ativismo surgiu muito por necessidade, comecei a fazer parte de projetos no Zumbi, bairro em que eu morava. Acredito que minha luta por questões de gênero, raça e ambiental faz parte da minha vida. Eu, enquanto corpo negro, de descendência indígena, de uma família simples, participar desses projetos me fez ver que poderia transformar a comunidade em um espaço melhor, então, sou ativista por mim porque eu sinto essa necessidade de luta e mudança e, vendo isso, começo a me engajar para que os outros também percebam que unidos podemos fazer algo por nós”, afirma Vitória.
Além de estar como ponto focal na ONU, Vitória tem no currículo a atuação como diretora executiva da Palmares e a participação na Conferência do Clima das Nações Unidas – COP26, realizada em Glasgow, na Escócia, em 2021, mesmo ano em que foi intitulada Jovem Defensora dos Rios e Oceanos da Embaixada da França no Brasil. Questionada sobre a leitura que faz quando a pauta é em relação aos jovens, ao ativismo, políticas e espaços de poder ela afirma:
“A gente já sabe como engajar, já fazemos ativismo, seja em coletivos, por meio das artes que tem essa potencialidade de conectar e gerar mudança. Penso que precisamos lembrar que estes espaços também são nossos. Acredito que no Brasil temos muito essa visão da política como uma coisa desconexa, mas ela é tão presente como o tempo e a novela que a gente conversa sobre o dia a dia”, finaliza.
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