EDITORIAL – O jogo eleitoral da exceção, por Paula Litaiff

Urna eletrônica em cima de um tabuleiro (Composição de Paulo Dutra/Revista Cenarium)

“Toda vez que você coloca um sujeito num lugar de exceção, você desliga ele do seu lugar de origem”, disse uma das maiores escritoras brasileiras contemporâneas, Maria da Conceição Evaristo de Brito, ao explicar a estratégia do sistema político para desconstruir a identidade ancestral dos povos e garantir seu alijamento no processo de formação da consciência social.

Aos 75 anos, Conceição Evaristo, representante da literatura afro-brasileira, diz não abdicar do voto nas eleições, apesar de não lhe ser obrigatório. O ativismo de Conceição é voltado à população negra e pode ser aplicado a todo grupo social historicamente alvo de subalternização. O jogo eleitoral da exceção é camuflado de ideologia e religiosidade e só pode ser combatido se houver consciência de seus efeitos letais para a sociedade.

Pensando em trazer a reflexão sobre o protagonismo social neste ano, a REVISTA CENARIUM traz, nesta edição, reportagens com opiniões de especialistas sobre o que está em jogo na agenda socioambiental e de sobrevivência dos povos nas eleições de 2024, e como o processo pode intervir na crise climática e na biodiversidade.

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Vivemos um ano de 2023 carregado do peso pela negação ambiental deixada por omissões administrativas passadas e pela irresponsabilidade do mundo com a exploração econômica. O Amazonas sofreu uma das maiores secas dos últimos 121 anos, forçada pelo El Niño; o Brasil perdeu um território do tamanho do Uruguai para as queimadas, com prejuízos para os biomas da Amazônia e do Pantanal; a crise sanitária continua latente na Terra Yanomami (RR) tomada pelo garimpo ilegal. Não saímos do discurso e o debate socioambiental arrefeceu no início deste ano.

É neste momento que se faz premente a análise sobre o cenário de exceção e a perda de protagonismo de determinados grupos sociais que somam a maioria do eleitorado, mas acabam virando massa de manobra para quem detém o poder político e o poder econômico. O conhecimento ainda é a melhor arma para combater a subalternização nas eleições e a CENARIUM se coloca como um veículo de comunicação potencializador deste debate.

Edição de janeiro da Revista Cenarium (Capa: Hugo Moura/Revista Cenarium)
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