Eleições: candidatos se comprometem com agenda agroecológica de povos indígenas e tradicionais

Amazônia será importante para garantir o desenvolvimento da agricultura no mundo (Elza Fiúza/Agência Brasil)

Bruno Pacheco – Da Revista Cenarium

MANAUS – Para garantir políticas públicas de apoio à agricultura familiar e à agroecologia dos povos indígenas e comunidades tradicionais, uma campanha está mobilizando candidatos nas eleições municipais. Em todo o país, 350 postulantes a prefeitos e vereadores já fizeram adesão ao projeto elaborado pela Articulação Nacional de Agroecologia (ANA).

Em entrevista à REVISTA CENARIUM, o membro do Conselho Nacional das Populações Extrativistas (CNS), Dione Torquatto, explicou que agroecologia ainda está em um processo de transição no Brasil, cujo segmento busca mais segurança e qualidade alimentar, fazendo com que a população consuma o alimento sem o uso agrotóxicos.

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Dione Torquatto, membro do Conselho Nacional das Populações Extrativistas (CNS) – (Arquivo)

Segundo o extrativista, há um grande esforço de mobilização para que os agricultores familiares adotem, cada vez mais, medidas de transição para o uso de produtos que não sejam químicos e passem usar os naturais.

“Essa mobilização ela tem sido somado num esforço mais amplo, com a perspectiva de termos o maior número de adesão de candidatos, haja vista o atual contexto político federal que é muito complicado para a agricultura familiar, para o meio ambiente e para a garantia dos povos e comunidades tradicionais. Queremos assegurar que os gestores municipais tragam essa pauta da agroecologia também para os Estados e municípios”, disse Torquatto.

Amazônia

Para a região amazônica, Torquatto explicou que a agroecologia é a garantia dos recursos naturais do meio ambiente, cujo segmento é visto como tradição para os povos tradicionais da floresta.

“Para a Amazônia, a agroecologia é a vida, ela representa o território dessas populações. A agroecologia é, inclusive, como princípio básico a relação do modo de vida das populações tradições da floresta”, disse. “Defender a agroecologia é defender o modelo de políticas públicas que têm uma sustentabilidade maior e uma promoção a uma qualidade de vida maior”, salientou.

Dione Torquatto explica, ainda, que a agroecologia é o meio pelo qual os indígenas garantem a existência de sua cultura e é preciso dar mais visibilidade à temática sustentável. O extrativista enfatizou, também, que os povos tradicionais sempre viveram da base ecológica, ou seja, sem o uso de veneno ou agrotóxicos.

“O que a gente quer, dando mais visibilidade à agroecologia, é justamente tentar impedir com que os agrotóxicos cheguem na mesa dos brasileiros e que sejam utilizados pelos agricultores, pois é um produto que causa não somente mal a quem o consome, como, principalmente, quem faz o manuseio de agrotóxicos de forma desordenada”, finalizou Torquato.

Desafios

Nos Estados do Norte do País, a carta-campanha da ANA tem apenas dez candidatos que já firmaram compromisso. As maiores adesões estão presentes nas regiões Nordeste e Sudeste do Brasil, com com 162 e 128 assinaturas, respectivamente.

Torquato frisou que a Articulação Nacional de Agroecologia, por meio da campanha, oferece propostas para que os candidatos possam aderir, mas é necessário que os Estados criem políticas públicas de incentivo à agroecologia e à sustentabilidade.

“Para que ela seja implementada, é preciso que os Estados e municípios, por exemplo, criem suas políticas de agroecologia e esse tem sido um desafio, pois, na verdade, nem os Estados conseguem criar suas políticas. Ressalta-se o Estado do Amazonas que, em 2018, aprovou a Política Estadual de Agroecologia, mas a gente precisa seguir isso, ainda, nos municípios”, concluiu.

Elaboração de propostas

De acordo com ANA, as propostas foram elaboradas por organizações, coletivos e movimentos sociais por meio de um levantamento da própria entidade em todos os estados do Brasil, que identificou 700 iniciativas de políticas e programas municipais que contribuem para o desenvolvimento assunto.

Entre os temas reivindicados pela ANA, estão a inclusão produtiva com segurança sanitária; melhoria das infraestruturas e serviços públicos nas áreas rurais; garantia de reforma agrária e direitos territoriais de povos indígenas e comunidades tradicionais; criação de políticas de apoio à construção de infraestruturas para captação e armazenamento de água da chuva, além de ações comunitárias de compostagem de resíduos orgânicos.

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