Eleitores da extrema-direita fecham rodovias em oito Estados da Amazônia Legal

A CENARIUM acompanhou as manifestações realizadas em Rondônia e mostrou a violência e o terror sofridos por passageiros, motoristas e até jornalistas nas rodovias bloqueadas (Maison Bertoncello/CENARIUM)
Iury Lima – Da Revista Cenarium

VILHENA (RO) – Manifestantes estão bloqueando trechos de rodovias, de norte a sul do País, nesta segunda-feira, 31, em protestos contra o resultado do 2° turno das eleições gerais que derrotou o presidente da República Jair Bolsonaro (PL). As interdições ocorrem em, pelo menos, 25 Estados, além do Distrito Federal, segundo a Polícia Rodoviária Federal (PRF). Ao menos oito deles estão localizados na Amazônia Legal: Acre, Amazonas, Roraima, Mato Grosso, Maranhão, Pará, Tocantins e Rondônia

Só em Rondônia, o segundo Estado da região amazônica que mais votou em Bolsonaro, 16 trechos permanecem interditados. A maioria deles, 11 no total, estão localizados na BR-364, principal via de acesso para outras unidades federativas e o escoamento de produtos.

Como a maioria dos trechos bloqueados em Rondônia não têm cobertura de telefonia ou internet, a PRF orienta que as pessoas só peguem a estrada em caso de extrema necessidade. Ainda não há previsão para liberação das rodovias.

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Bloqueio da BR-364, em Vilhena, RO, a 706 quilômetros de Porto Velho (Maison Bertoncello/CENARIUM)

Outras três estradas federais foram afetadas em território rondoniense: BR-421, BR-425 e BR-435. O Estado chegou a ter 17 trechos interditados no total. Um ponto da BR-421, em Ariquemes, distante mais de 200 quilômetros de Porto Velho, foi liberado por volta das 18h do horário local, pela polícia.

Interdições

As primeiras manifestações começaram logo após a confirmação da vitória de Luiz Inácio Lula da Silva (PT), na noite do último domingo, 30. Em Cacoal, no interior de Rondônia, os manifestantes incendiaram barris e bloquearam o trânsito da BR-364 com terra.

Em Vilhena, a 706 quilômetros de Porto Velho, os apoiadores da extrema-direita estão erguendo tendas e impedindo a passagem de caminhões descarregados. O grupo também aborda motoristas de carros pequenos e perguntam em quem eles votaram antes de liberar ou não o fluxo. Já está faltando combustíveis em alguns postos na cidade.

Grupo interroga motoristas sobre voto para presidente da República antes de liberar o fluxo (Maison Bertoncello/CENARIUM)

A REVISTA CENARIUM tentou localizar os líderes do movimento, mas os participantes negaram entrevista. Eles afirmam apenas que não têm a intenção de deixar o local. Dezenas de pessoas permanecem em uma das entradas da cidade, com direito a churrasco e bebidas.

Manifestantes realizam churrasco em bloqueio da BR-364, em Vilhena, interior de Rondônia (Maison Bertoncello/CENARIUM)

Outros Estados

Em Roraima, a última atualização da PRF indica que resta um único ponto bloqueado na BR-174, em Boa Vista. Lá, já é permitida a passagem para carros de passeio, caminhões com cargas perecíveis ou combustíveis para usinas de energia, além dos veículos de emergência. 

No Acre, os protestos afetaram, logo pela manhã, pelo menos três pontos: dois trechos na BR-317, no interior do Estado, e outro, em Rio Branco, localizado na BR-364.

O Sindicato dos Caminhoneiros do Acre (Sintraba) se posicionou contra a participação de profissionais do ramo no ato político. “A entidade respeita o direito de manifestação de todo cidadão, entretanto, defende que ele seja exercido sem prejudicar o direito de ir e vir das pessoas”, afirmou em nota.

Sindicato dos Caminhoneiros do Acre se posicionou contrário ao protesto (Alexandre Lima/Reprodução)

O Amazonas tem ainda três pontos bloqueados, segundo a última informação da PRF. O primeiro, na BR-174, na capital Manaus, que está parcialmente interditada, além de dois trechos da BR-320, nos municípios de Humaitá e Manicoré. 

Inconformados com a derrota de Bolsonaro, os apoiadores convocaram motins e pediram intervenção militar, em Manaus, ainda no domingo. Eles também compartilharam mensagens sobre fraudes nas eleições, como mostrou reportagem da CENARIUM

Em vídeos compartilhados nos grupos de WhatsApp, os manifestantes empilharam pneus de veículos no meio da pista, em forma de protesto (Reprodução/Redes Sociais)

Em Mato Grosso, a PRF contabilizou 16 bloqueios com participação de mais de 6,4 mil participantes e acionou a Justiça para liberar as rodovias bloqueadas. Já o Ministério Público Federal (MPF) mandou abrir inquérito para identificar os manifestantes que interditaram o total de cinco estradas: BR-163, BR-364, BR-157, BR-070 e BR-174.

Assim como em Rondônia, manifestantes de Mato grosso fecharam vias com caminhões de terra (Reprodução)

Quatro rodovias tiveram bloqueio no Maranhão. Em Açailândia, a mais de 500 quilômetros de São Luís, foi na BR-010. A cidade de Esteiro também teve bloqueio na mesma estrada. Já no município de Balsas e na capital do Estado, os bloqueios ocorreram na BR-230 e BR-135.

Bloqueios afetaram quatro cidades do Maranhão (PRF/Reprodução)

No Tocantins, foram seis pontos paralisados em quatro rodovias: BR-153, TO-080, TO-050, TO-110. Uma ponte entre Palmas e Luzimangues foi fechada pelos manifestantes e caminhoneiros na noite desta segunda-feira.

Manifestação bloqueou uma ponte, em Tocantins (Reprodução)

Por fim, no Pará, foram 28 locais interditados em oito rodovias federais: BR-010, BR-316, BR-155, BR-153, BR-222, BR-163, BR-230 e BR-422. Manifestantes paraenses queimaram pneus e fecharam as pistas com caminhões e tratores.

Apenas o Estado do Amapá não teve bloqueios.

Rodovias federais do Pará foram interditadas com caminhões, tratores e queima de pneus (Reprodução)

O que diz a PRF

Mesmo com a nítida motivação política alimentada por eleitores de extrema-direita, a Polícia Rodoviária Federal diz que “as manifestações são pacíficas”. Sem previsão para liberação total dos locais, só veículos de emergência estão autorizados a transitar pela maioria deles.

A polícia também informou que “já acionou a Advocacia-Geral da União em todos os Estados onde foram identificados bloqueios para obter interdito proibitório na Justiça federal, como forma de garantir a manutenção da fluidez nas rodovias”.

Em todo o País, são pelo menos 361 pontos de bloqueio que permanecem ativos, segundo atualização mais recente da PRF.

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