Em 15 dias de setembro, queimadas varrem centenas de árvores na Amazônia

Até o dia 23 de setembro foram registrados mais de 28 mil focos de incêndios na Amazônia(Reprodução/João Paulo Guimarães)

Náferson Cruz – Revista Cenarium

MANAUS – Queimadas na Amazônia seguem o rastro do desmatamento e centenas de árvores continuam sendo varridas do mapa. Em apenas 15 dias, setembro de 2020 registrou mais queimadas na Amazônia que o mesmo mês inteiro no ano passado. A primeira quinzena de setembro registrou 23.277 focos de calor no bioma amazônico, enquanto que, em setembro do ano passado, foram 19.925.

Apesar dos volumosos recursos gastos em operações militares, as queimadas na Amazônia crescem exponencialmente. Os números que compõem arco de focos de calor elevam ainda mais se contabilizados os registros até esta quinta-feira, 24, com 28.279 focos, uma alta de 42%, em relação ao mesmo período do ano passado.

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O Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) informa ainda, que, as queimadas nas últimas duas semanas também superam o número registrado nos meses de setembro de 2011, 2013 e 2016. Segundo o instituto, a média diária de focos de calor encontrados neste mês (setembro) tem sido de 1,4 mil. Somente em três dias da primeira quinzena de setembro, houve registro de mais de 2000 focos.

O uso de fogo na Amazônia foi proibido pelo governo federal no dia 16 de julho, por 120 dias. Agosto e setembro são os meses mais secos na floresta amazônica. Nesse período, é comum que desmatadores queimem materiais derrubados anteriormente.

“Os números de focos de calor na Amazônia são tão ruins quanto em 2019 e a situação ainda é muito preocupante, pois a floresta segue sendo queimada e desmatada em taxas inaceitáveis”, diz à REVISTA CENARIUM, Cristiane Mazzetti, porta-voz da campanha Amazônia do Greenpeace, Organização Não Governamental (ONG).

Para Mazzetti, o atual cenário demonstra que estamos presenciando a mesma tragédia ambiental que se abateu sobre a Amazônia em 2019. Ela ressalta que os elevados números nos dados do Inpe é reflexo da política antiambiental implementada pelo governo Bolsonaro. Segundo ela, a atual política governamental enfraqueceu e tirou a autonomia dos órgãos de fiscalização, incentivando assim a impunidade.

“O pouco que o governo se propôs a fazer para “enfrentar” a destruição da Amazônia já foi pensado para não ter resultado e, claro, a gente não esperava nada diferente, uma oratória que proíbe o fogo, desassociada a forte fiscalização e com o emprego das Forças Armadas para fazer o combate ao desmatamento no lugar de órgãos com experiência nessa atividade, coloca a Amazônia nessa situação dramática que pode ser observada nas estatísticas”, disse a porta-voz da campanha Amazônia do Greenpeace.

De janeiro a setembro

Foram registrados 56.425 focos na Amazônia de 1º de janeiro a 9 de setembro deste ano. É o maior número desde 2010 no período. De agosto de 2019 a julho de 2020, houve aumento de 34% no desmatamento no bioma.

No dia 15 de setembro, o vice-presidente Hamilton Mourão afirmou, que há apenas 1 (um) funcionário dentro do Inpe de “oposição”. Ele seria o responsável por divulgar dados negativos sobre as queimadas na Amazônia, conforme Mourão. Dias antes, 9 de setembro, o vice-presidente e o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, publicaram em seus perfis do Twitter, um vídeo com imagens falsas sobre o tema. A gravação dizia que a Amazônia não estava queimando, mas usava filmagens da Mata Atlântica.

Temporada de fogo

A temporada do fogo em 2020 no Amazonas pode ser uma das maiores desde 1998, quando o Inpe iniciou o monitoramento de queimadas na Amazônia. Na comparação com 2019, um dos piores anos de queimadas na região, o número de focos de calor registrados em julho aumentou 33%. Em agosto, houve aumento de 19%.

O Instituto Socioambiental (ISA) estima que 45% da floresta derrubada em 2019 não foram queimadas ano passado e vem servindo como combustível para aumentar a intensidade dos incêndios na Amazônia.

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