Em entrevista na Band, Braga critica enfrentamento à pandemia, mas defendeu medida contrária orientada pelas autoridades de Saúde

Eduardo Braga durante a entrevista concedida a Band Amazonas (Reprodução)
Gabriel Abreu – Da Revista Cenarium

MANAUS – Em entrevista à emissora Band Amazonas nesta segunda-feira,10, o candidato ao Governo do Amazonas Eduardo Braga (MDB) respondeu perguntas sobre temas referentes à sustentabilidade, enfrentamento ao narcotráfico na fronteira do Amazonas, inclusão de jovens indígenas no mercado de trabalho, esporte e lazer. Ao responder os questionamentos dos jornalistas, o candidato esqueceu de mencionar as medidas que defendeu durante a pandemia, que iam na contramão das orientações das autoridades de saúde e que quase não se reelegeu ao Senado nas eleições de 2018.

O primeiro debate entre os candidatos ao Governo do Amazonas na emissora Band Amazonas se transformou em entrevista por conta da ausência do candidato à reeleição Wilson Lima (União), que justificou a não participação no debate por conta de uma agenda em Brasília para tratar sobre a situação da BR-319. O programa foi dividido em três blocos de 10 minutos cada que teve início com perguntas dos jornalistas Neto Cavalcante e Eduardo Galvão.

Braga destacou a criação do Bolsa Floresta, programa que, segundo ele, zerou o desmatamento das áreas de conservação do Estado. “A principal causa de desmatamento e de garimpo ilegal é a fome e a miséria (…) eu aprendi com a indígena Tikuna, no Alto Solimões, ela me disse o seguinte: governador, não pede para salvar aquela castanheira se o meu curumim está chorando com fome. A árvore precisa valer mais em pé do que derrubada, e nós precisamos pagar os serviços florestais aos que cuidam e que são os verdadeiros guardiões da floresta, aí nós vamos enfrentar o incêndio, o desmatamento, o garimpo ilegal, fazendo com que os guardiões sejam remunerados de forma correta“, disse o candidato.

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Questionado pelo jornalista Eduardo Galvão sobre o que pretende fazer para enfrentar o narcotráfico no Amazonas, caso eleito, o emedebista responde atribuindo responsabilidade à gestão federal e ressalta o investimento em tecnologia como ferramenta de auxílio no combate ao crime cometido na região.

“Bem, nós não produzimos narcotráfico no Amazonas, isso é crime de fronteira e de responsabilidade do governo federal, mas nós não nos omitiremos, faremos ação cooperada com o governo federal e estamos acreditando na proposta, na criação de uma Força Nacional Específica, juntamente com as Forças Armadas brasileiras com a Polícia Federal, com a Inteligência, com a Polícia Militar e com a Polícia Civil. Reestabeleceremos com tecnologia, com investimentos, o controle da nossa fronteira. É lá na nossa fronteira que nós temos que travar a grande batalha para não permitir que o narcotráfico invada o nosso País, invada o nosso Estado e que cause tantas dores a tantas mães, a tantos pais e a tantos jovens”, explicou o senador.

Debate na Band Amazonas (Reprodução/Youtube)

Contradição

No segundo bloco, jornalistas da emissora fizeram perguntas ao candidato do MDB. O primeiro a perguntar foi Luiz Henrique Almeida que questionou as propostas do candidato quanto aos idosos e melhorias no esporte e lazer dos amazonenses.

Eu, enquanto governador, construí os centros de Convivência da Família para que nós pudéssemos dar aos nossos idosos todas as alternativas para atividades físicas, fisioterapia, hidroterapia, atividades intelectuais, como xadrez, jogo de dama e uma convivência familiar fundamental para estabelecer a alegria e a esperança de viver. Nós vamos construir mais centros de convivências, vamos abrir nossas escolas, nos fins de semana, para fazer políticas públicas com os jovens e os idosos”, destacou Braga.

Na mesma resposta, o candidato voltou a falar sobre a falta de oxigênio no Amazonas, ao dizer que o governador Wilson Lima sabia da falta do insumo, e destacou os Estados do Pará e Paraná como exemplos de enfrentamento à pandemia, mas esqueceu de mencionar que a própria Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Pandemia, no Senado, ao qual ele fez parte, concluiu no relatório final que o governo federal foi avisado pelo Estado sobre a falta do insumo nas unidades do Estado.

Enfrentaram os dois anos de pandemia, a guerra entre a Ucrânia com a Rússia, essa guerra desumana, mas não faltou oxigênio em nenhum desses Estados, faltou no Amazonas por falta de compromisso (…) Foram informados que ia faltar oxigênio“, disse Braga.

Ao contrário das afirmações feitas pelo candidato, documentos recebidos pela CPI da Pandemia revelaram que o Governo do Amazonas, após contato com Eduardo Pazuello, alertou oficialmente o Exército sobre o risco de desabastecimento de oxigênio para pacientes com Covid-19 em Manaus, em 7 de janeiro.

O material analisado por consultores da comissão contradiz a versão do ex-ministro da Saúde – que, em depoimento no Senado, disse ter sido informado sobre a real situação do colapso nos hospitais apenas em 10 de janeiro.

A sobrecarga hospitalar e, principalmente, o consumo de oxigênio tomou grandes proporções. A falta de insumos e de oxigênio causou comoção nacional e diversas personalidades do mundo se uniram para ajudar com arrecadações do material para hospitais da cidade.

Abertura do Comércio

No dia 26 de dezembro, 20 dias antes do Amazonas sofrer com a escassez de oxigênio medicinal em razão do aumento do consumo nas unidades de saúde, o senador Eduardo Braga (MDB) defendeu a abertura do comércio no Estado durante publicação em uma rede social.

O Governo do Amazonas publicou, no dia 23 de dezembro, um decreto que ampliava o nível de restrição em razão do aumento de casos da Covid-19 no Estado, mas foi alvo de protestos por parte da sociedade e do senador. O aumento das medidas de isolamento tinha como base análises da Fundação de Vigilância em Saúde (FVS) que identificavam um recrudescimento da pandemia e a necessidade de reforçar medidas de isolamento social.

O aumento das medidas de isolamento tinha como base análises da Fundação de Vigilância em Saúde (Reprodução/Internet)

Terceiro Bloco

No terceiro bloco, o candidato voltou a ser questionado pelos profissionais da imprensa sobre propostas de seu plano de governo. O último bloco do programa foi aberto pela jornalista Kelly Abreu que indagou sobre a AM-010. Por fim, o jornalista Eduardo Galvão questionou ao candidato sobre a ida dele para o 2° turno, onde pesquisas apontavam o contrário. Em tom irônico, Braga responde:

Meu xará, treino é treino, jogo é jogo, final de campeonato é final de campeonato. Em 2018, eu fiz uma disputa para o Senado e era exatamente o contrário e, no entanto, ganhamos a eleição, sou senador da República. De qual modo, o senador Omar Aziz, neste pleito, foi e buscou a sua eleição, eu tenho fé no povo amazonense, porque esta é a verdadeira pesquisa o ‘datapovo’. Quando você abre a janela da sua casa e ouve a sua vizinha, você vai votar em quem? No Eduardo Braga, essa é a verdadeira pesquisa. Eu tô muito esperançoso, confiante de que nós chegaremos ao 2° turno com a vitória de que o Amazonas precisa crescer”, afirmou Braga.

No entanto, o então candidato ao Senado Eduardo Braga quase ficou de fora da segunda vaga que estava reservada ao Amazonas na eleição de 2018. Foi só com os votos dos eleitores do interior do Estado que Braga voltou ao Senado. À época, as urnas abertas, em boa parte da apuração, davam a vitória ao candidato da Rede Luiz Castro. No final da apuração, Braga conseguiu a virada e conquistou a reeleição com diferença de menos de trinta mil votos.

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