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Em nova manifestação, MPF diz que exploração de gás da Eneva afeta lagos e povos tradicionais
UTE Jaguatirica 2 é movida a gás do complexo do Azulão, operado pela Eneva, na Bacia do Amazonas (Reprodução)
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17 de novembro de 2023
Da Revista Cenarium Amazônia*
MANAUS (AM) – O Ministério Público Federal (MPF) vem a público esclarecer seu posicionamento sobre o projeto de instalação da Usina Termelétrica Azulão, na Bacia do Amazonas. O objetivo é garantir a consulta aos povos indígenas e tradicionais da região que compreende os municípios de Silves e Itapiranga, bem como a correta e regular execução do processo de licenciamento ambiental do empreendimento, com a elaboração do Estudo de Componente Indígena (ECI).
Para tanto, a unidade do MPF no Amazonas vem acompanhando o avanço dos projetos de exploração de petróleo e gás em procedimento administrativo interno (PA 1.13.000.002064/2019-50), do qual esclarece as seguintes informações e posicionamentos:
A empresa Eneva S/A e o Instituto de Proteção Ambiental do Amazonas (Ipaam), ao solicitarem e analisarem o licenciamento ambiental – Estudo de Impacto Ambiental (EIA) e Relatório de Impacto Ambiental (Rima) – para o empreendimento, não consideraram a existência de terras indígenas em processo de demarcação. Ou seja, a exploração de gás e o seu licenciamento ignoraram a presença de indígenas, os impactos às comunidades e os territórios tradicionais de ribeirinhos e extrativistas.
Segundo relatório da Comissão Pastoral da Terra (CPT) sobre existência de comunidades indígenas na região, são sete aldeias em Silves e duas em Itapiranga, compreendendo as etnias Mura, Munduruku e Gavião, que não tem o seu processo demarcatório concluído. A constatação fica comprovada pelo acompanhamento dos habitantes pelo Sistema de Saúde Indígena, com os atendimentos do Distrito Sanitário Especial Indígena de Manaus (DSEI/Manaus).
A região também está dentro do Acordo de Pesca firmado com o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) – Portaria Ibama N° 2, de 28 de janeiro de 2008. A exploração do gás afeta diretamente muitos dos lagos e rios da região, o que ameaça a segurança alimentar das comunidades indígenas e tradicionais. Existem ainda estudos para a criação de uma Unidade de Conservação (UC), denominada Saracá-Piranga, e análises iniciais mostram que a área de influência direta do empreendimento sobrepõe parte da área proposta para a unidade de conservação.
Em recomendações já realizadas pelo Ministério dos Povos Indígenas (MPI) e pela Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai) foi solicitada a “suspensão do curso do processo de licenciamento ambiental das atividades de exploração de gás denominada Campo Azulão”. Entre os argumentos estão a declaração da Funai sobre a existência de povos indígenas na região e a omissão do Ipaam em enviar à Funai informações sobre o empreendimento.
Diante dos fatos constatados, fica claro que o empreendimento afeta comunidades em terras indígenas, mesmo ainda não homologadas, e territórios tradicionais, o que faz com que o Ibama seja o órgão competente para a realização do licenciamento.
A emissão de qualquer licença pelo Ibama deve ser condicionada à consulta livre, prévia, informada e de boa fé aos indígenas e comunidades tradicionais potencialmente afetados, conforme prevê a Convenção N° 169 da Organização Internacional do Trabalho (OIT), bem como pela elaboração do Estudo de Componente Indígena (ECI), na forma exigida pela Funai e pelo MPI.
O MPF mantém na Justiça, em grau de recurso, parecer que pede a manutenção da suspensão das licenças ambientais emitidas pelo Ipaam, com a consequente determinação para que sejam realizados o ECI e a consulta prévia e a remessa do licenciamento para análise do Ibama.
Ainda importante ressaltar que há vedação constitucional, atualmente, a qualquer extração mineral, de petróleo ou de gás, dentro de território indígena; somente é cabível efetivar a consulta e o licenciamento em casos que potencialmente afetem territórios indígenas, mas estejam fora de sua área direta de usufruto tradicional.
Por fim, é importante destacar que estudos antropológicos sendo realizados pelo MPF revelam preocupação com a sustentabilidade dos recursos naturais ainda disponíveis e, consequentemente, com a viabilidade da permanência de algumas famílias indígenas e tradicionais em suas comunidades de origem.
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De modo geral, o Projeto de Produção e Escoamento de Hidrocarbonetos do Complexo Azulão e adjacências, na Bacia do Rio Amazonas, tem acirrado o clima de tensão e insegurança na região, marcado por episódios de hostilidade, ameaças e confronto. Neste sentido, a intenção do MPF é garantir, nos debates sobre o empreendimento, a participação efetiva dos povos indígenas e comunidades tradicionais, o respeito a seus direitos e evitar o acirramento de conflitos na região.
A REVISTA CENARIUM AMAZÔNIA publicou, em sua versão impressa de outubro, a denúncia de lideranças de povos tradicionais, junto à Comissão Pastoral da Terra – Prelazia de Itacoatiara (CPT), na qual aponta que pessoas ligadas à empresa Eneva S/A, responsável pela Usina Termelétrica Azulão, na Bacia do Amazonas, assediam comunidades próximas ao empreendimento, com armas em punho e ameaças de morte.
A reportagem teve acesso, com exclusividade, a documentos da investigação realizada pelo Ministério dos Povos Indígenas (MPI) e pela Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai) junto aos povos originários que vivem no entorno do “Campo do Azulão”, como é popularmente conhecida a usina termelétrica.
Segundo a Comissão Pastoral da Terra (CPT), as denúncias foram encaminhadas ao Ministério Público Federal, à Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai) e ao Ministério dos Povos Indígenas (MPI) que estão acompanhando o caso.
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