Emissões de CO2 devem atingir recorde em 2022 e não mostram sinais de queda

Usina a carvão na Alemanha, operada pela RWE, em Neurath (Ina Fassbender - 13.jul.2022AFP)
Da Revista Cenarium (*)

MANAUS – As emissões globais de gases de combustíveis fósseis provavelmente atingirão níveis recordes em 2022 e não mostram sinais de declínio, disseram pesquisadores nessa quinta-feira, 10. A tendência coloca os países ainda mais longe de sua meta de conter o aquecimento global.

Este ano, os países deverão emitir cerca de 36,6 bilhões de toneladas de dióxido de carbono (CO₂) que aquece o planeta devido à queima de carvão, gás natural e petróleo para geração de energia, conforme novos dados do Global Carbon Project.

Isso é 1% a mais do que o mundo emitiu em 2021 e um pouco acima do recorde anterior em 2019, que ocorreu antes de a pandemia de coronavírus causar uma queda temporária no uso e nas emissões globais de energia.

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As conclusões foram divulgadas na COP27, conferência da ONU sobre mudanças climáticas em Sharm el-Sheikh, no Egito, onde líderes mundiais estão reunidos para discutir como evitar níveis catastróficos de aquecimento.

Prédios da usina soltando fumaça pelas chaminés
Usina a carvão na Alemanha, operada pela RWE, em Neurath – Ina Fassbender – 13.jul.2022AFP

Os cientistas alertaram que o mundo como um todo precisará parar de adicionar dióxido de carbono à atmosfera por volta da metade do século para estabilizar as temperaturas globais e minimizar os riscos de ondas de calor mortais, aumento do nível do mar e colapso do ecossistema.

Esse prazo está ficando mais difícil de cumprir a cada ano que passa, dizem os especialistas.

“A cada ano que as emissões aumentam torna-se muito mais desafiador reduzi-las novamente até uma determinada data”, disse Glen Peters, diretor de pesquisa do Centro Internacional de Pesquisa Climática e Ambiental em Oslo, na Noruega. Ele é um dos mais de cem cientistas envolvidos na pesquisa.

Relativamente poucos países são responsáveis pela maior parte das emissões mundiais de combustíveis fósseis, sendo eles: China (32%), Estados Unidos (14%), União Europeia (8%) e Índia (8%).

Neste ano houve algumas tendências energéticas incomuns, como a invasão da Ucrânia pela Rússia e os efeitos prolongados da pandemia que perturbaram a economia global.

As emissões da China devem cair cerca de 0,9% este ano, sua primeira queda desde 2016, já que os frequentes bloqueios por causa do coronavírus e a desaceleração do desenvolvimento imobiliário provocaram quedas no uso de combustíveis fósseis e cimento. O rápido crescimento da energia eólica e solar também ajudou a manter a demanda da China por carvão praticamente estável em 2022.

Na Europa, as emissões também devem cair cerca de 0,8% este ano, em grande parte pela queda acentuada no consumo de gás natural depois que a Rússia cortou o fornecimento. Esta foi apenas parcialmente compensada pelo maior uso de carvão, já que para aliviar o déficit de energia países como Alemanha e Áustria reiniciaram usinas a carvão há muito desativadas.

Por outro lado, nos Estados Unidos, as emissões devem aumentar cerca de 1,5% este ano, impulsionadas por um aumento no uso de gás natural à medida que a economia se reanima. As emissões de petróleo também aumentam conforme as viagens aéreas se recuperam das baixas da pandemia.

Na Índia, calcula-se que as emissões de combustíveis fósseis aumentarão quase 6%, o maior fator individual de crescimento do CO₂ globalmente. A Índia ultrapassou recentemente a União Europeia como terceiro maior emissor do mundo, embora suas emissões por habitante sejam apenas um terço das da Europa.

No resto do mundo, as emissões de combustíveis fósseis aumentaram cerca de 1,7% este ano. As emissões do carvão provavelmente atingirão níveis recordes, em parte porque muitos países estão migrando para o combustível altamente poluente em resposta ao aumento dos preços do gás natural.

Uma grande questão é se as emissões de combustíveis fósseis continuarão crescendo nos próximos anos.

Um relatório recente da Agência Internacional de Energia, um importante órgão de previsão, diz que a demanda global por combustíveis fósseis provavelmente atingirá o pico e depois se estabilizará em algum momento desta década. Uma das principais razões é que muitos governos responderam à Guerra da Ucrânia adotando políticas mais fortes para se desligar do petróleo, gás e carvão.

Nos Estados Unidos, por exemplo, o Congresso aprovou US$ 370 bilhões em gastos para turbinas eólicas, painéis solares, usinas nucleares, combustíveis de hidrogênio, veículos elétricos e bombas de calor elétricas.

A agência também calculou que o aumento deste ano nas emissões de combustíveis fósseis teria sido três vezes maior se não fosse a rápida implantação de turbinas eólicas, painéis solares e veículos elétricos em todo o mundo.

“Nossos números mostram que a crise atual pode muito bem ser um ponto de virada na história da energia”, disse Fatih Birol, diretor executivo da agência, em uma entrevista recente.

Os dados de emissões divulgados na quinta-feira contêm algumas boas notícias. A quantidade anual de dióxido de carbono liberada pelo desmatamento e mudanças no uso da terra parece ter diminuído nas últimas duas décadas, para cerca de 3,9 bilhões de toneladas em 2022. Isso incluído, as emissões totais de CO₂ pela humanidade de combustíveis fósseis e uso da terra permaneceram praticamente estáveis desde 2015.

Parte da explicação, segundo os pesquisadores, é que as florestas parecem estar se expandindo ou se recuperando em muitas regiões, como em terras agrícolas abandonadas na Europa. À medida que essas árvores crescem, absorvem CO₂ da atmosfera. Isso ajudou a compensar uma fração das emissões produzidas pelo desmatamento, que permanece teimosamente alto em lugares como Brasil, Indonésia e Congo.

Sob o acordo de Paris de 2015, os líderes mundiais concordaram em limitar o aquecimento global total a “bem abaixo” de 2°C, em comparação com os níveis pré-industriais, e fazer um grande esforço para manter o aquecimento em 1,5°C. O mundo já aqueceu 1,1°C, e os cientistas alertam que a cada fração adicional de grau dezenas de milhões de pessoas a mais em todo o mundo estarão expostas a ondas de calor com riscos para a vida, alimentos e água.

Os novos dados mostram que o tempo para atingir essas metas está se esgotando. Se as emissões simplesmente permanecessem estáveis nos níveis de 2022, concluíram os pesquisadores, o mundo provavelmente colocaria carbono suficiente na atmosfera para exceder o limite de 1,5°C em nove anos e exceder o limite de 2°C em 30 anos.

“No curso atual, sem cortes maciços nas emissões, esgotaremos nosso orçamento de carbono restante muito rapidamente”, disse Pierre Friedlingstein, cientista climático da Universidade de Exeter, no Reino Unido, que ajudou a chefiar a pesquisa.

(*) Com informações do Folhapress

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