‘Estratégia de intimidação para calar a classe artística’, diz Nando Reis que alega manipulação em vídeo durante festival de rock

Nando Reis durante show no Festival Prime Rock Brasil, em Belo Horizonte (Reprodução/YouTube)
Priscilla Peixoto – Da Revista Cenarium

MANAUS – “É importante esclarecer que a publicação de fake news envolvendo artistas críticos ao atual governo faz parte de uma estratégia de intimidação que tem por objetivo calar a classe artística”. A declaração é apenas um trecho do texto postado nesta quarta-feira, 27, na rede social do cantor e compositor Nando Reis, ao qual a assessoria do artista alega ter sido vítima de uma fake news, envolvendo questões políticas, em um show de festival de rock realizado no último dia 16 de julho em Belo Horizonte.

Durante o show, Nando, ao interagir com a plateia, que exclamava críticas ao atual presidente, dispara: “Eu estou com os povos indígenas e quem está vaiando não está sacando nada. A gente quer paz e não pode ter um homem que quer guerra, vamos ficar em paz. Não há porque guerrear, não tem que ter morte, não tem que ter arminha, está todo mundo louco, eu estou junto com todo mundo, nós temos que ficar juntos, mas isso que está acontecendo…”

Segundo a assessoria do cantor, o registro desse momento foi disseminado na internet de forma cortada e manipulada, com intuito de parecer que a maioria do público se manifestava em apoio ao atual presidente da República, Jair Bolsonaro, e repreendendo Nando com vaias, o que segundo a assessoria do artista seria exatamente o contrário.

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“O vídeo em questão mostra a plateia do show em uma falsa manifestação de apoio ao atual presidente, quando, na verdade, a imensa maioria do público se manifestava de forma contrária, exaltando as críticas ao chefe de Estado. A manipulação sonora do vídeo dá a entender, inclusive, que Nando Reis endossaria o apoio político ao presidente, o que é o oposto da verdade. Nando é um defensor da democracia e se posiciona de forma contrária ao atual governo“, consta a publicação que lamenta, ainda, a disseminação do material “alterado” por alguns setores da imprensa, “causando ainda mais nebulosidade sobre o ocorrido”.

Segundo a assessoria do artista, este seria o vídeo original sem manipulação sonora (Reprodução/Instagram Nando Reis)

“Rede de desinformação”

Na leitura do cientista político Helso Ribeiro, a “artimanha” para dissimular a informação, infelizmente, será algo comum nessas eleições. Para Helso, o episódio vivido por Nando é mais um que faz parte de uma rede de desinformação utilizada para propagar inverdades e, na maioria das vezes, por não ser checada toma proporções preocupantes.

“Essa é uma situação real no mundo todo e cabe ao eleitor ser extremamente criterioso para ver qual a fonte das informações. Não checar antes de disseminar causa essa corrente de fake news, que é apenas um dos ataques sofridos pela democracia nos últimos anos. Acredito que cada um de nós precisamos ser extremamente criteriosos, principalmente, neste período eleitoral“, considera o cientista político relembrando o chamado “Gabinete do Ódio”, nas eleições de 2018.

O “Gabinete do ódio” foi o nome dado ao grupo de assessores do Palácio do Planalto que tinha como foco as redes sociais e gestão de páginas de apoio à família Bolsonaro disseminando desinformação e ataques a adversários políticos do presidente.

“Lembremos do Gabinete do Ódio que teve uma certa influência nas últimas eleições. Entendo que isso se repetindo pode até mesmo macular o processo eleitoral, caso não haja uma fiscalização rigorosa para tentar brecar isso”, diz o cientista político.

“Nós pedimos socorro”

Nesse mesmo show de Nando Reis, no Festival Prime Rock, inclusive, a MC Anarandá, representante do povo Guarani-Kaiowá fez uma participação ao lado do artista e “pediu por socorro” para seu povo, em Amambai, que vem sofrendo uma série de ataques em Mato Grosso do Sul.

Nós estamos pedindo socorro. O apoio de todos vocês, todos os artistas, chamando a atenção para que olhem para o nosso povo. O nosso povo está morrendo! A Amazônia está sendo atacada!”desabafou Anarandá questionando, ainda, o que tem sido feito para proteção dos povos tradicionais. No show, a cantora pede o “fim do derramamento de sangue indígena” e a demarcação de terras originárias.

Nas redes sociais, o cantor descreveu que, ao ouvir os relatos e o canto da rapper, ficou ainda mais convicto de que o mundo está ao contrário. Na publicação, Reis afirmou que o “Brasil é sanguinário”, tecendo mais críticas ao governo de Jair Bolsonaro (PL).

O Brasil é sanguinário. A matança das vidas e das culturas dos povos originários, que começou com a chegada dos portugueses e, agora, conta com o incentivo desse desgoverno é de uma crueldade sem tamanho. Quem não vê isso? Não há argumento, só há uma coisa a ser feita: enxovalhar essa escória em outubro!”, escreveu Nando Reis, no Instagram.

A assessoria do cantor alega que o vídeo teria sido manipulado como estratégia de intimidação (Reprodução/Internet)
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