Estudante indígena Arapium é alvo de racismo em jogos de Medicina em Tocantins

O estudante indígena Vanderson Matteus (Composição de Weslley Santos/CENARIUM)
Raisa Araújo – Da Revista Cenarium

BELÉM (PA) – O estudante indígena de medicina Vanderson Matteus, do povo Arapiun, da Aldeia São Miguel, localizada na região do Baixo Tapajós, no Pará, foi alvo de racismo durante os jogos do “X Intermed Norte” em Palmas, no Estado de Tocantins, evento que ocorreu entre 1º e 5 de maio. Expressões pejorativas como “índio, volta pra aldeia” e “índio, volta pra oca” foram dirigidas a ele durante a transmissão ao vivo da cobrança de pênaltis da semifinal de futsal masculino.

Vanderson Matteus está no 5º  período de do curso de Medicina na Universidade Federal do Pará (UFPA), no campus do município de Altamira, cidade do interior, e integra a Atlética Suprema. À CENARIUM, o estudante contou que os insultos ocorreram quando ele marcou um gol contra o time adversário. Veja o vídeo abaixo.

Ato racista foi transmitido ao vivo nas redes sociais (Reprodução/Redes Sociais)

“Quando o menino da nossa atlética errou o primeiro pênalti, eu peguei e disse ‘eu vou bater esse [pênalti] pra ver se a pessoa repete’. Na hora que eu peguei na bola, a mulher gritou novamente ‘volta pra aldeia, índio’.  Eu pensei que era pra mim mesmo”, relatou Vanderson. 

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O estudante também compartilhou o impacto emocional que o incidente teve sobre ele. “Eu sofri muito, eu estou sofrendo muito por isso. Não consegui sair ainda, para nada. Lá chorei muito, a viagem toda chorando, né?”, disse.

Vanderson Matteus está no 5º  período de do curso de Medicina na Universidade Federal do Pará (UFPA) (Reprodução/Arquivo Pessoal)

A Atlética de Altamira tomou medidas para investigar e responsabilizar os envolvidos no incidente, que não foram identificados no período em que ocorreu a disputa entre universidades.

“Repudiamos a ausência de punição à integrante e a demora na identificação por parte da atlética e, sobretudo, repudiamos a negligência das autoridades informadas em dar a devida visibilidade e importância ao ocorrido, sem o devido pronunciamento sobre o caso em nenhuma plataforma oficial”, diz nota da organização do interior do Pará.

Pedido de desculpas

A Atlética Soberana, vinculada à Faculdade Fesar, que é parte do grupo Afya Educacional, era responsável pela transmissão ao vivo do jogo, no Instagram, também se pronunciou sobre o ocorrido, expressando repúdio e indignação com o ato ofensivo direcionado ao estudante.

“Tal ato é uma expressão clara de racismo e preconceito, direcionada aos povos indígenas, que não pode ser tolerada sob quaisquer circunstâncias. Como entidade responsável pela transmissão, sentimos a necessidade de pedir sinceras desculpas ao Vanderson Matheus pelo ocorrido”, disse a instituição.

A entidade lamentou o ocorrido e informou que as medidas cabíveis para identificar e punir o responsável pelo ato deplorável estão sendo tomadas. ”Recebemos as orientações jurídicas necessárias para garantir que o processo de apuração seja conduzido com a seriedade e imparcialidade que a situação exige, e para assegurar que o ocorrido não seja invisibilizado”, informou a faculdade.

A REVISTA CENARIUM tentou contato com a Atlética Guerreira, fundadora do Intermed Norte e organizadora do evento em 2024, mas não obteve retorno. A atlética em questão está vinculada ao Centro Universitário Tocantinense Presidente Antônio Carlos (UNITPAC), localizada em Porto Nacional, em Tocantins, também pertencente ao grupo Afya Educacional.

Repúdio

O Conselho Indígena Tapajós e Arapiuns (Cita) manifestou publicamente repúdio ao ocorrido, enfatizando a importância de reafirmar o direito dos povos indígenas de ocuparem espaços diversos e desempenharem variadas funções, repudiando veementemente atitudes racistas que violam os princípios constitucionais.

”Nesse sentido, instamos a organização a identificar os responsáveis para aplicar medidas disciplinares e responsabilizá-los legalmente pelos atos racistas, assegurando que tais comportamentos não encontrem lugar nos eventos”, diz a nota do Cita.

Leia na íntegra a nota da Faculdade Fesar Afya:

A propósito do lamentável fato registrado na 10ª edição do Intermed Norte, a Faculdade Fesar Afya, comprometida com os mais altos padrões de respeito, inclusão e justiça social, reitera sua posição contra qualquer forma de preconceito, discriminação ou violência dirigida a qualquer grupo étnico ou cultural, especialmente aos povos indígenas.

A 10ª edição do Intermed Norte é um evento esportivo de grande importância para a comunidade acadêmica e a instituição lamenta profundamente que casos desta natureza tenha sido registrados ao longo da iniciativa.

A instituição informa que a Atlética Soberana, composta por alunos da Fesar Afya e participante dos jogos, trouxe à sua atenção a ocorrência de comentários ofensivos durante a semifinal de futsal masculino e que tais comentários esta registrados na plataforma Instagram.

Os relatos indicam que durante a transmissão estão audíveis ofensas direcionadas ao aluno Vanderson Matheus, membro da Atlética Suprema. A Faculdade Fesar Afya condena veementemente tais comportamentos, que são totalmente contrários aos valores institucionais de respeito mútuo e diversidade.

A Faculdade Fesar Afya está investigando ativamente o incidente, em estreita colaboração com os membros da Atlética envolvidos, e tomará todas as medidas necessárias para abordar esta questão de maneira justa e adequada. Caso seja constatado qualquer envolvimento de membros da comunidade acadêmica da instituição, serão aplicadas as sanções disciplinares cabíveis de acordo com os regulamentos internos.

A Faculdade Fesar Afya reitera seu compromisso inabalável com a promoção de um ambiente inclusivo, respeitoso e livre de discriminação para toda a comunidade acadêmica, e permanece firme na defesa dos valores de igualdade e diversidade.

Leia mais: Quilombo acusa amo do Boi Garantido de racismo recreativo
Editado por Adrisa De Góes

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