Estudantes indígenas aprovados em universidades de SP arrecadam recursos para comprar passagens

Marcela Leiros – Da Revista Cenarium

MANAUS – Um grupo de 11 indígenas do Amazonas aprovado em universidades de fora do Estado está arrecadando recursos para comprar as passagens aéreas antes do início do período letivo. Os estudantes conquistaram vagas na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), ambas no Estado de São Paulo, mas o preço do transporte aéreo torna quase inviável a ida dos jovens.

Os estudantes residem nos municípios de São Gabriel da Cachoeira, São Paulo de Olivença, Tabatinga e Santa Isabel do Rio Negro, no interior do Amazonas. Por não haver voos diretos das localidades a São Paulo, é necessário se deslocar até Manaus, capital do Estado, de barco ou avião, de onde partem aeronaves para o Estado do Sudeste. Uma passagem de Tabatinga à capital, por exemplo, chega a custar quase R$ 2 mil.

A iniciativa de arrecadação é uma ideia da mestranda em Linguística na Unicamp e professora indígena Claudia Baré. Residindo na cidade de Campinas, onde a Unicamp está localizada, ela encarou as mesmas dificuldades que os universitários enfrentam.

“A gente [de Manaus] já tem a maior dificuldade em vim e agora imagina os parentes que estão nas ‘bases’, em São Gabriel da Cachoeira, São Paulo de Olivença, Tabatinga, Santa Isabel do Rio Negro… Então, a gente tem que fazer alguma coisa pelos parentes porque é uma oportunidade que surge”, explicou.

Leia também: ‘Vaquinha’ online de estudante Nota 1000 no Enem do AM chega a quase R$ 140 mil

Auxílio

Aline Matos, 26 anos, da etnia Tukano, foi aprovada para o curso de Pedagogia, no vestibular indígena da Unicamp. O valor a ser arrecadado, por ela, é R$ 2 mil. À REVISTA CENARIUM, a agora universitária explicou que a universidade disponibiliza um auxílio emergencial de R$ 1.200, mas o valor não cobre os custos totais da viagem a São Paulo.

“O que a Unicamp dá é uma bolsa de auxílio emergencial de R$ 1.200, que arca somente com metade da passagem de Manaus para São Paulo. No caso de São Gabriel da Cachoeira para Manaus, é a gente que consegue, com custo próprio. Então, esse dinheiro que eu coloquei, com a meta de R$ 2 mil, é para arcar com o custo da passagem, de R$ 2.100“, disse.

André Barbosa Carvalho, 24 anos, também da etnia Tukano, também foi aprovado para o curso de Pedagogia, na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). A aprovação era um sonho dele e da família, que se tornou possível por causa do vestibular indígena. “É uma oportunidade de nós, alunos indígenas, aproveitarmos. A única que eu estou tendo na minha vida e não quero desperdiçar ela”, disse.

O estudante, que vem de família de agricultores, também criticou os preços “absurdos” das passagens aéreas. “As passagens daqui estão com preço muito absurdo, de R$ 2 mil para lá, ou R$ 2.800. É muito difícil encontrar uma passagem que caiba no nosso bolso. Como meus pais são agricultores, eles vivem da agricultura, e a renda mensal deles não é muito”, completou.

Leia também: Univaja critica ações de prefeito do AM por prejudicar educação escolar indígena

Veja os outros estudantes que também estão arrecadando recursos:

• Alexandre Brito, aprovado em Educação Física

• Bianca Paulino, aprovada em Pedagogia

• Célio Lopes Antônio, aprovado em Tecnologia em análise e desenvolvimento de sistemas

• Silvia Melgueiro Matos, fará Pós-graduação

• José Laureano Neto, aprovado em Engenharia Mecânica

• Evellyn Miguel da Silva, aprovada em Química

• Elivany Macary, aprovada em Arquitetura e Urbanismo

• Cleomar Gaspar Melgueiro, aprovado em Tecnologia de saneamento ambiental

• Janiacley Marques Dias, aprovada em Engenharia de Alimentos