Fazendeiros cobram pedágio a Yanomami para que possam chegar à sede de município em RR

A informação também foi confirmada à Agência Brasil pelo líder indígena Júnior Yanomami. Segundo ele, o "pedágio" cobrado por fazendeiros pode chegar a R$ 300 por viagem (Amanda Perobelli/2.fev.23/Reuters)
Da Revista Cenarium*

BOA VISTA (RR) – Indígenas do povo Yanomami, em Roraima, são obrigados a pagar uma taxa de acesso de, pelo menos, R$ 200 cobrada por fazendeiros, para que possam chegar à sede do município de Alto Alegre, na região oeste do Estado. A denúncia consta em relatório divulgado pelo Conselho Estadual dos Direitos da Criança e do Adolescente de Roraima (Cedcar) que visitou a cidade esta semana acompanhando uma comitiva do Ministério dos Direitos Humanos e Cidadania. A entidade apresentou um documento, com o resumo da visita, em uma coletiva de imprensa na sexta-feira, 3, em Boa Vista. 

“Em decorrência de toda essa questão do garimpo, eles precisam ir até a sede do município comprar alimentos e há a cobrança, de forma ilegal e arbitrária, de R$ 200, por cada grupo de indígenas que possa passar pela terra de fazendeiros. A gente repudia isso”, afirmou Paulo Thadeu, secretário-geral do Cedcar.

A informação também foi confirmada à Agência Brasil pelo líder indígena Júnior Yanomami. Segundo ele, o “pedágio” cobrado por fazendeiros pode chegar a R$ 300 por viagem.  

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O relatório apresentado pelo Cedcar faz um resumo da visita realizada em quatro municípios que fazem fronteira com a TI Yanomami (Fernando Frazão/Agência Brasil)

“[Cobram] cerca de R$ 300 em pedágio. A gente depende disso para poder chegar em Alto Alegre”, afirmou. O município faz fronteira com a Terra Indígena Yanomami (TIY) e é muito acessado, por via terrestre, pelos indígenas que vivem mais próximos. Eles precisam ir até a cidade comprar comida, mantimentos, sacar benefícios sociais, como o Bolsa Família, buscar atendimento de saúde, dentre outros serviços. No entanto, nem todos os indígenas Yanomami conseguem acesso por estradas. Maior Terra Indígena (TI) do País, a reserva Yanomami é imensa e, em algumas localidades, só é possível chegar por via área.

O relatório apresentado pelo Cedcar faz um resumo da visita realizada em quatro municípios que fazem fronteira com a TI Yanomami. Além de Alto Alegre, houve reuniões com gestores municipais de Mucajaí, Iracema e Caracaraí. 

Garimpo

No distrito da Vila de Campos Novos, que pertence ao município de Iracema, a denúncia é sobre a existência de pistas de pouso que atendem ao garimpo ilegal. “Foi dito que a Vila de Campos Novos, distrito do município de Iracema, serve de base de apoio logístico para a atividade garimpeira, pois a mesma fica bem na fronteira da terra indígena. As pistas de voo também ficam próximas a esta vila e não têm nenhum controle das autoridades. O município não possui um cadastro específico de atendimento dos povos indígenas. O Estado brasileiro precisa fazer uma ação emergencial na área de saúde, social e segurança nesta região”.

Próximo à sede do município de Alto Alegre, foi informada também a existência de uma estrutura de pouso e decolagens de helicópteros. De acordo com o relatório do Cedcar, empresários do garimpo cobram até R$ 8 mil para transportar garimpeiros para a terra indígena. “Esse valor é pago pelo empresário, que será descontado depois, do garimpeiro, durante o seu trabalho na área de garimpo”, diz um trecho do documento. 

Falta de estrutura

Em Mucajaí, gestores municipais denunciaram a falta de estrutura do hospital da cidade para atender os indígenas. Eles também apresentaram um estudo sobre a contaminação da água do município, que afeta o consumo da população local e a pesca. 

Em Caracaraí, que fica mais ao sul, na beira do Rio Branco, conselheiros tutelares e gestores municipais informaram que, pelo menos, 30 indígenas estão acampados na cidade e que não há qualquer atendimento de poder público para essas pessoas. Segundo a denúncia, três crianças Yanomami chegaram a ser acolhidas pelo conselho tutelar e depois devolvidas aos familiares, mas mais seis crianças seguem institucionalidades na unidade de acolhimento da rede pública. 

“A gestão disse que, hoje, a etnia Catrimani já convive na cidade e que existem relatos de relacionamento entre indígenas e não indígenas, o que ocasiona a gravidez dessas mulheres indígenas e que, muitas vezes, acaba provocando o abandono das crianças, pois, dificilmente, seriam aceitas na comunidade.”

(*) Com informações da Agência Brasil
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