Garimpeiros passaram nove dias detidos por indígenas do povo Kayapó, diz ONG

Indígena Kayapó em protesto em Brasília, em agosto de 2021 - Carl de Souza/AFP
Com informações do Infoglobo

MANAUS – Nove garimpeiros passaram os últimos dias detidos por integrantes do povo Kayapó após invadir a terra indígena Baú, no sudoeste do Pará. O grupo foi capturado dentro da unidade de conservação na quarta-feira passada, dia 18, e só liberados no sábado, 21, após os próprios indígenas contratarem um avião para levá-los à cidade mais perto, Novo Progresso.

Segundo uma carta enviada na segunda-feira, 23, às autoridades pela rede de organizações indigenistas Xingu Mais, à qual a reportagem teve acesso, os indígenas buscaram ajuda da Polícia Federal para retirar os invasores do local, mas, sem resposta, optaram por alugar um avião que levou os garimpeiros para fora da reserva.

“No dia 18 de maio, o grupo chegou ao Garimpo Pista Velha, onde flagrou nove invasores realizando atividades de exploração de ouro. Os indígenas detiveram os invasores garimpeiros e informaram, nos dias seguintes, o Ministério Público Federal e a Polícia Federal. Após aguardar até o dia 21 sem que qualquer operação fosse realizada no local, os indígenas contrataram um avião monomotor para transportar os invasores garimpeiros até a cidade de Novo Progresso, onde foram soltos sem a adoção de qualquer medida pelas autoridades competentes presentes na cidade, como a qualificação de seus dados pessoais”, diz trecho da carta, enviada ao Ministério Público Federal, à PF, à Funai e à coordenação da operação Guardiões do Bioma, do Ministério da Justiça. Procurada, a PF não retornou às tentativas de contato da reportagem.

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No sábado, 21, pelo Twitter, o MPF do Pará informou que Kayapós haviam detido os garimpeiros que tentavam reativar uma área de extração ilegal de ouro dentro do território. “A situação é tensa e há risco de conflito”, pontuou o MPF. Na ocasião, a Polícia Federal e a Polícia Civil do estado foram acionadas.

Na noite de domingo, 22, a PF informou em nota ter elaborado uma ação de retirada por via aérea dos garimpeiros capturados. O avião pousou na região do garimpo ainda no domingo, 22, mas os garimpeiros já tinham sido libertados. “Ao adentrar no garimpo Pista Velha, a Polícia Federal confirmou a informação de que os garimpeiros haviam sido retirados do local no dia 21/05”, diz a nota.

Os conflitos na terra indígena passaram a ocorrer com mais frequência desde que houve uma cisão entre os indígenas, há cerca de três anos. De um lado, há os que querem preservar a floresta. De outro, indígenas que se aliaram a garimpeiros para explorar os minérios da região.

Segundo a PF, os policiais buscaram uma solução pacífica com os indígenas que “estavam prestes a entrar em conflito armado” com os indígenas e garimpeiros de outro garimpo da região, chamado de “Pista Nova”, mas ainda há risco de novos conflitos.

No local, segundo a rede Xingu Mais, há um grupo de seis indígenas das aldeias Kamaú e Rotxopreti que foram aliciados por garimpeiros para fazer a segurança das áreas de garimpo.

De acordo com a rede Xingu Mais, os 28 indígenas que renderam os garimpeiros pertencem a um grupo de guerreiros do povo Kayapó que atua na área para repelir a presença de invasores. Liderados pelo cacique Bepdjo Mekrãgnotire, eles expulsaram cerca de 40 garimpeiros do local em maio do ano passado, além de incendiar equipamentos no garimpo.

Dados do Prodes computados pela organização indigenista mostram que no período de quatro anos, entre 2018 e 2021, houve o desmatamento por garimpeiros de 293 hectares na terra indígena Baú, o que corresponde ao dobro do que foi desmatado em dez anos, entre 2008 e 2017.

“Nos últimos três anos, foram abertos seis novos focos de garimpo, além da reativação e da tentativa de retomada de garimpos antigos”, segundo a carta assinada pela ONG. “O povo Kayapó vem sofrendo com diversas tentativas de aliciamento e de cooptação de alguns indígenas para atuarem nos garimpos ilegais e servirem como escudos humanos contra as operações de fiscalização, suscitando conflitos internos e desestruturação social entre os membros do povo”.

A Funai disse que acompanha o caso por meio da Operação Guardiões do Bioma, que também reúne Polícia Federal, Ibama e Exército, entre outras instituições.

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