Hatoum diz que os governos de Lula e Dilma promoveram inclusão cultural: ‘Resultado está aparecendo’

Escritor amazonense, Milton Hatoum. (Ricardo Oliveira/ REVISTA CENARIUM)
Priscilla Peixoto – Da Revista Cenarium

MANAUS – O escritor amazonense Milton Hatoum falou, em entrevista à REVISTA CENARIUM, neste sábado, 11, sobre literatura e política, e defendeu que os governos anteriores de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Dilma Rousseff (PT) promoveram a inclusão de indígenas, negros, mulheres e pessoas marginalizadas culturalmente nas universidades. Para ele, o resultado dessa inclusão está aparecendo agora. O escritor também reviveu memórias de Manaus.

Hatoum visitou Manaus nesta semana, onde participou da pré-estreia do filme “O Rio do Desejo”, inspirado em sua obra “O Adeus do Comandante”. O evento ocorreu na terça-feira, 7, no Teatro Amazonas. Hatoum também recebeu o título de Doutor Honoris Causa, da Universidade Federal do Amazonas (Ufam), na quinta-feira, 10.

Milton Hatoum recebeu a equipe da Revista Cenarium para um bate-papo na manhã deste sábado, 11. (Ricardo Oliveira/ REVISTA CENARIUM)

Na leitura do amazonense, há uma pluralidade de vozes resultantes da oportunidade ao acesso à universidade e que já começam a despontar para a escrita e seus diversos vieses. O escritor falou, com grande expectativa, sobre o futuro da literatura no País.

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Acho que há um movimento, no Brasil, onde há muitas vozes de jovens que se formaram em uma inclusão na universidade, de duas gerações, onde indígenas, negros, mulheres e pessoas que estavam à margem da nossa cultura foram incluídos no então Governo Lula e, em parte, no Governo Dilma. Agora, o resultado disso está aparecendo, pois a cultura passa pelo estudo“, analisa.

De acordo com o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), em 2002, primeiro ano do Governo Lula, uma média de 3,5 milhões de estudantes estavam no Ensino Superior. Em 2010, no último período do Governo Lula, a presença de alunos nas universidades chegou a 6,3 milhões. No Governo Dilma, a oferta de vagas no Ensino Superior atingiu 1,586 milhão, ao longo de 2015 e no primeiro semestre de 2016.

Período tenebroso

Durante o Governo Bolsonaro, que encerrou em 2022, a cultura sofreu com os impactos do esvaziamento da pasta. A extinção do Ministério da Cultura e desmonte da Agência Nacional do Cinema (Ancine) é um dos exemplos deixados pela gestão anterior. Para Milton Hatoum, o governo de Jair Bolsonaro foi um período tenebroso e o País passa, agora, por um momento de esperança e muito trabalho de reconstrução, não só no âmbito cultural.

Nós saímos de uma longa e tenebrosa noite, de um período de trevas destruidor, cruel, de uma política deliberadamente destrutiva em todas as áreas. E agora, no Governo Lula, que é de fato democrático, creio que tudo será retomado: a cultura, a educação pública, a saúde, os direitos humanos. Penso que seja o momento de muita esperança, mas também de muita luta, pois reconstruir não será fácil como foi destruir“, defendeu.

Milton é admirador declarado das arquiteturas presentes nos prédios do Largo São Sebastião. (Ricardo Oliveira/ REVISTA CENARIUM)

Memórias

O local da entrevista foi uma escolha do próprio Hatoum: em frente à Banca do Largo, localizada no Largo São Sebastião, no Centro Histórico de Manaus. O estabelecimento pertencia a Joaquim Melo, grande amigo do escritor, que morreu em janeiro deste ano. Milton Hatoum relembrou os bons momentos vividos em um dos seus locais preferidos da cidade.

“Eu frequentava muito os arredores do Teatro Amazonas, acordava com os sinos da igreja. Lancei meus livros aqui, na Banca do Largo, com o nosso querido e saudoso Joaquim Melo, que foi um grande divulgador da cultura não só manauara, mas amazônica, e deixou seu legado. Quando venho a Manaus, ando pelas praças da cidade, a Praça da Polícia, da Saudade, a parte que abrange o Centro mais antigo”, contou.

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Hatoum também rememorou uma das frases mais conhecidas contidas em uma das suas produções literárias, Para onde vou, Manaus me persegue“.Essa frase, de fato, marcou e é uma frase de um conto que se passa em Manaus, escrevi enquanto estava na Universidade da Califórnia. Condiz ao fato de Manaus ser minha infância, esse teatro, essa praça, eu morava a 150 metros daqui. Para quem escreve, a infância e primeira juventude são decisivas“, revelou Milton.

Novos talentos

Considerado um dos grandes nomes da literatura contemporânea, Hatoum falou sobre a importância das novas gerações para o fazer literário. Para o escritor, é “extremamente desejável” e necessário novos talentos para a literatura. “Ela não para só em uma geração, ela continua, os jovens estão aí produzindo, escrevendo, não só ficcionistas, mas poetas importantes também de Manaus, Belém, do Norte, da Amazônia“, considerou.

Filme

Hatoum usou a pré-estreia do filme “O Rio do Desejo”, na terça-feira, 7, para exemplificar a busca do público por boas iniciativas culturais e avaliou o trabalho dirigido por Sérgio Machado, que tem entre os protagonistas Sophie Charlotte, Daniel Oliveira, Rômulo Braga e Gabriel Leone.

Reconstruir é muito duro e a prova disso é a estreia do filme ‘O Rio do Desejo’, realizada aqui, no Teatro, lotado, e ainda tinham 800 pessoas fora. Isso é uma resposta a essa destruição e ânsia pela retomada dos movimentos culturais e demais setores que as pessoas estão“, destacou o escritor, lembrando que a obra foi gravada em Itacoatiara, distante 270 quilômetros de Manaus.

Eu achei ótimo o Sérgio ter estreado o filme aqui e provar que Manaus também está atenta à cultura, esperando por uma obra que foi rodada em Itacoatiara. Um trabalho profundamente humano e amazônico. Isso é Manaus, é nossa cidade que volta a respirar em todos sentidos. Convido a todos a assistirem a esse belíssimo filme“, disse a autor do conto “O Adeus do Comandante”, que inspirou a película.

Em “O Rio do Desejo”, inspirado no conto de Milton Hatoum, Sophie Charlotte é Anaíra, uma mulher que atrai os desejos de três irmãos (Divulgação)

Quanto a possibilidade de Manaus estar, novamente, inserida em narrativas produzidas pelo autor, Milton revelou que já tem metas agendadas e vai fazer surpresas.

Meus quatro primeiros romances são ambientados em Manaus. É uma atmosfera da cidade ou do Amazonas, como “Órfãos do Eldorado’. Depois, eu publiquei dois volumes de uma trilogia, ‘A noite da espera’ e ‘Pontos de Fuga’. Neste ano, talvez, eu publique o terceiro e último volume, que aborda um pouco a minha experiência em Brasília e em São Paulo. O terceiro é uma surpresa, aparece uma outra cidade, um lugar mineiro. Depois, quem sabe, eu escreva mais sobre minha cidade novamente. Tenho alguns contos inéditos ambientados em Manaus”, finaliza.

Sobre Milton Hatoum

Milton Assi Hatoum é natural de Manaus, Amazonas. Além de romancista, também é formado em Arquitetura pela Universidade de São Paulo, estudou literatura na França e atuou como professor da Universidade Federal do Amazonas (Ufam), de quem ganhou o título de Doutor Honoris Causa, na quinta-feira, 10. Hatoum também tem experiência como colunista do jornal O Estado de São Paulo.

O autor tem obras traduzidas para 17 países e acumula vários prêmios literários, dentre eles, o Prêmio Jabuti, considerado o mais tradicional prêmio literário do Brasil, concedido pela Câmara Brasileira do Livro. “Relato de um Certo Oriente” (1989); “Dois irmãos” (2000); “Cinzas do Norte” (2005); “Órfãos do Eldorado” (2008) e “A Cidade Ilhada” (2009)” estão entre as obras mais famosas do escritor.

A entrevista especial completa com Milton Hatoum vai ao ar na terça-feira, 14, às 18h, no Canal da TV CENARIUM AMAZÔNIA no YouTube.

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