Índios mortos por Covid-19 foram contaminados dentro de hospitais, diz FVS

No Amazonas, dois indígenas já foram mortos pela Covid-19 - foto: arquivo/DSEI

Bruno Pacheco e Luana Dávila – Da Revista Cenarium

O estado do Amazonas tem sete casos confirmados de indígenas infectados pelo novo coronavírus e contabiliza dois óbitos. As informações foram divulgadas pela diretora-presidente da Fundação de Vigilância em Saúde (FVS), Rosemary Costa Pinto, nesta segunda-feira, 13, que chegou a afirmar que os índios mortos se contaminaram dentro de hospitais.

Uma das vítimas é uma índia da etnia kokama, de 44 anos, que morava na aldeia de Monte Santo, em São Paulo de Olivença. A segunda morte é de um idoso de 78 anos, da etnia tikuna, pertencente à comunidade Belém dos Solimões, no município de Tabatinga.

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As informações divulgadas são do Ministério da Saúde, através da Secretaria Especial de Saúde Indígena e do Distrito Sanitário Especial Indígena (DSEI) do Alto Solimões.

“O vírus está circulando em todo lugar”

De acordo com a diretora-presidente, os pacientes foram isolados logo ao apresentarem sintomas da doença. Rosemary lembrou que o vírus está circulando em todo lugar e que as pessoas que entram em contato com os indígenas, como acompanhantes e visitantes, podem ter levado o vírus até o local onde eles estavam internados.

“Contraíram o vírus dentro dos hospitais. Eles foram removidos para para terem assistência cardiológica e aqui eles se contaminaram com o vírus. Já eram pacientes de risco, porque vieram para por problemas cardíacos e já tinham um sistema imunológico muito vulnerável. Entraram em contato com o vírus e, infelizmente, agravaram e foram a óbito”, afirmou Rosemary.

Para o coordenador do DSEI Manaus, Mario Lacerda Ruy Júnior, a possível infecção de indígenas em hospitais da capital é preocupante. “Os pacientes que foram não vieram portando a Covid-19, vieram por conta de outras morbidades e acabaram nessa situação, contraindo a doença. A preocupação nossa maior é que esses pacientes tinham acompanhantes, que entravam e saíam de perto deles”, finalizou.

Ainda segundo o DSEI, um plano de contingência de infecção pelo coronavírus foi elaborado para realização de procedimentos. O Distrito Sanitário também criou um comitê de crise distrital no combate à Covid-19.

“Atendemos as recomendações de suspender os procedimentos odontológicos. Na sede do Dsei aderimos ao trabalho home office; afastamos todas as pessoas do grupo de risco e implantamos uma rota em Manaus para as pessoas que atuam na nossa Casa de Saúde, evitando assim o transporte público”, destacou Lacerda Júnior.

Divulgação/Dsei Manaus

Vacinações

Segundo o DSEI, a etapa de vacinação para os povos indígenas está prevista para acontecer no dia 9 de maio.

“Enfrentamos em Manaus algumas situações. Temos uma casa de apoio com quase 250 indígenas, em que 50% deles precisam voltar para as suas aldeias. Nós pleiteamos junto ao estado a antecipação de vacinas somente para este público”, disse o coordenador.

O presidente da Fundação Estadual do Índio (FEI), Edvaldo Oliveira, da etnia mundukuru, disse à Revista Cenarium que a entidade tem atuado de forma preventiva para combater o avanço da Covid-19 em terras indígenas e que já foram entregues mais de 3 mil cestas básicas.

No Amazonas, dois indígenas já foram mortos pela Covid-19 – foto: arquivo/DSEI

“Temos feito parceria com a Funai e temos feito a entrega de subsídios. Já entregamos mais de 3 mil  cestas básicas nos municípios de Rio Preto da Eva, Iranduba, Altazes, Manaquiri, Castanho e Manaus. Também temos feito entregas de álcool gel e de máscaras. Os subsídios são entregues nas barreiras feitas pelos próprios indígenas para evitar a entrada de outras pessoas”, afirmou.

A Fundação informou que no Amazonas há 112 etnias indígenas e uma população entre 300 e 350 mil indígenas residentes no estado.

“Junto com o DSEI divulgamos várias cartilhas preventivas em muitas comunidades indígenas. Não é permitido entrada e saída das aldeias. Tudo é  higienizado antes de chegar lá. Trabalhamos as campanhas via Whats App com aldeias que tem internet. As que não tem internet, atuam equipes da Dsei com autorização da Funai”, explicou.

Sobre a ocupação de ilegal de extrativistas e madeireiros que podem ter levado o vírus para as aldeias, segundo a opinião de ambientalistas, o presidente da FEI explicou que barreiras foram feitas com a instalação de cancelas provisórias nas estradas pelos próprios indígenas.

“Por rio, fazemos abordagem com a voadeiras, questionando a passagem das embarcações e pedimos, educadamente, para  irem embora, caso não haja necessidade da sua estada lá”, pontuou.

Em nota, a Aliança dos Povos da Floresta pela Vida, através do Fórum Nacional Permanente em Defesa da Amazônia (FNDPA), que representa entidades ligadas à povos indígenas, extrativistas e quilombolas disse estar preocupada com a potencialidade do contágio e transmissão do novo coronavírus, além da falta de insumos médicos para dar suporte aos atendimentos.

Reforço Federal

O secretário executivo do Ministério da Saúde, João Gabbardo, enfatizou durante coletiva nesta segunda-feira, 13, que o Hospital de Campanha Municipal Gilberto Novaes, que está sendo montado no Centro Integrado Municipal de Educação (Cime), na zona Norte de Manaus, vai ser referência para os indígenas.

“Vamos alocar recursos para a abertura de 350 leitos no hospital de referência de Manaus e também abrir um hospital privado, que é o Hospital da Unimed, que não estava sendo utilizado”, enfatizou.

Auxílio Emergencial

O deputado José Ricardo (PT) tem alertado para o risco de genocídio em áreas indígenas e apresentou à Câmara Federal um projeto de lei que determina a liberação de auxílio emergencial aos povos indígenas no valor de um salário mínimo mensal.

“O projeto de lei em relação aos indígenas foi protocolado no final de março. Fizemos um pedido à Mesa Diretora para que tramite em caráter de urgência. Esse projeto é importe porque especifica com mais detalhes, além da renda emergencial, ações para área da saúde e da assistência dos povos indígenas. Estamos  discutindo com a Frente Parlamentar Indígena se unificamos esse PL a outros similares”, disse.

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