Inseparáveis: mãe e filha mortas abraçadas em deslizamento eram símbolo de união, afirmam familiares

Ketlen Feijó, sobrinha e prima das vítimas (RIcardo Oliveira/Revista Cenarium)
Ívina Garcia – Da Revista Cenarium

MANAUS – O velório de Jucicleia Barbosa de Lima, 31, e da filha, Eloisa de Lima Referino, 7, vítimas de uma tragédia causada por um deslizamento de terras no bairro Jorge Teixeira, na zona Leste de Manaus, aconteceu na manhã desta terça-feira, 14, na igreja “Ministério Jesus A Verdade Que Liberta”, a poucos metros do barranco onde aconteceu o deslizamento na noite do último domingo, 12, que deixou oito pessoas mortas.

No local, familiares e amigos ocupam o salão da igreja. A sobrinha e prima das vítimas Ketlen Feijó conta que mãe e filha eram inseparáveis. Jucicleia e Eloisa foram encontradas abraçadas ao lado da porta, poucas horas após o deslizamento, que iniciou por volta das 20h. O enterro das duas será realizado no Cemitério Tarumã, ainda na tarde desta terça-feira, 14.

“Ela fazia tudo pela Eloisa. Ela nunca deixou a menina com ninguém. Levava ela para todo lado, elas eram inseparáveis. A titia trabalhava em casa de família, fazia bico. No tempo livre, vinha com a Eloisa para o Campo do Teixeirão, onde ela corria por aqui, todo mundo via elas juntas, elas eram um símbolo de união”, conta a sobrinha.

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Mãe e filha fazem parte da lista dos oito mortos na tragédia, as outras vítimas são: Clebson Nunes Barbosa, 33; Kaleb Nunes Mendes, 7; Ilan Frango Corales, 35; Israel Jonniel Frango, 7; Dainelson Rosniel Alvorada, 4, e Rosmig Yelena Salazar, 43.

Local do velório das vítimas do deslizamento de terra no Jorge Teixeira (Ívina Garcia/Revista Cenarium)

Estado de choque

A reportagem tentou contato com o viúvo de Jucicleia, Edson Lima, que preferiu não conversar por ainda estar em estado de choque com as perdas. Edson, a esposa e a filha moravam no local há pouco mais de um ano.

As duas estavam sozinhas em casa no momento do acidente, isso porque Edson Lima estava trabalhando como assistente de obra em outra cidade. “O meu tio tinha o costume de toda chuva, não importava se era forte ou fraca, ele pegava uma mochila, as duas e subia para casa da avó, que fica no topo do barranco. Ele sabia que o local era de risco”, conta a sobrinha e prima das vítimas Ketlen Freijó.

Ketlen Feijó, sobrinha e prima das vítimas (RIcardo Oliveira/Revista Cenarium)

Ketlen Feijó acredita que por conta do horário e por estar sem energia elétrica no bairro, as duas estavam se preparando para dormir quando o desbarrancamento começou. “Elas já deveriam estar deitadas juntas, mas logo que aconteceu o deslizamento, os vizinhos ouviram alguém gritando ‘socorro’ no local onde encontraram elas depois, perto da porta”, relata.

Tapumes foram colocados em volta do barranco onde aconteceu o acidente (Ricardo Oliveira/Revista Cenarium)

Antes de morar na parte baixa do barranco, o casal e a filha, que cursava o 1º ano do ensino fundamental, viviam em um ‘puxadinho’ no quintal da sogra, mãe de Jucicleia. A antiga moradia fica na parte mais alta do barranco, e precisou ser interditada após o deslizamento.

A mudança para a invasão foi uma decisão do casal, que buscava independência e privacidade, eles tinham o sonho da casa própria e trabalhavam para construir a residência. Sem carteira assinada e trabalhando como autônomos, todo o dinheiro que eles recebiam investiram na moradia que estava quase concluída.

Casa onde a família morava antes de se mudar para parte mais baixa do barranco (Ricardo Oliveira/Revista Cenarium)

Segundo uma vizinha, que preferiu não se identificar, Jucicleia estava animada, pois tinha ganhado dinheiro trabalhando na campanha durante as eleições de 2022. “Ela estava muito feliz, trabalhou comigo e dizia todo tempo que o dinheiro ia ajudar a completar a casinha dela e comprar coisas para Eloisa. Era uma mulher muito guerreira, gostava de trabalhar”, relata.

“Ela era uma mulher batalhadora, fazia o possível e o impossível pela filha. Aquela criança era o que fazia ela feliz, elas não mereciam isso. Nunca imaginei que isso iria acontecer, na verdade, ninguém esperava”, relata Ianne Feijó, outra sobrinha da vítima.

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