Livro apresenta perspectivas e desafios de povos indígenas do Vale do Javari

Indígena do Vale do Javari (Composição: Weslley Santos/Revista Cenarium)
Carol Veras – Da Revista Cenarium

MANAUS (AM) – As pluralidades, perspectivas e desafios de três etnias indígenas de Atalaia do Norte, município a 1.138 quilômetros de Manaus, no Amazonas, são a principal abordagem do livro “Políticas Públicas de Preservação do Patrimônio Cultural e da Memória Social: Perspectivas e desafios para os povos indígenas do Vale do Javari”, escrito pela professora de Direito Civil Karla Maia, que será pré-lançado na sexta-feira, 19 de abril.

A escolha da data não foi uma coincidência, já que é o Dia Internacional dos Povos Indígenas. A data celebra a diversidade cultural dos povos indígenas no Brasil, além de contribuir para a preservação da cultura e da história desses povos.

A autora conversou com a REVISTA CENARIUM. Ela destaca que fez uma abordagem específica a respeito dos povos do Vale do Javari, trazendo para o leitor informações sobre as etnias existentes, a existência de povos isolados e povos já em contato com pessoas não indígenas. No livro, são retratadas todas as etnias que residem na região, mas, para exemplificar a diversidade cultural, três entram em destaque: os Marubo, Corubo e Matis.

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“Trago dentro das etnias existentes três que escolhi para aprofundar um pouco mais o conhecimento, justamente para que o leitor que não conheça aquela cultura verifique que dentro das próprias culturas indígenas existem divergências e pluralidades culturais. As diferenças culturais é que fazem com que eles sejam tão interessantes, tão plurais e tão respeitáveis”, afirma a professora a respeito da abordagem.

Prof.ᵃ Karla Maia, autora do livro (Reprodução/Arquivo Pessoal)

O livro também traz uma visão sobre políticas públicas de preservação da cultura dos povos originários. Sobre isso, Maia comenta que a história e cultura dos indígenas são exploradas, mas não tem retorno. “As pessoas utilizam os indígenas e exploram eles também na parte da pesquisa, mas não dão o retorno efetivo para os povos originários”, explica.

Indígenas acampados no porto de Atalaia do Norte (28.fev.23 – Ricardo Oliveira)
Inspiração

A inspiração para a autoria surgiu a partir de um colega de mestrado da etnia Marubo que abandonou o curso devido à dificuldade de acesso à internet na região. As questões apresentadas pelo colega fizeram Karla Maia refletir.

Basicamente, ele me falava sobre questões de infraestrutura: problemas básicos de saúde, questões sanitárias e a dificuldade de acesso à internet. Como nosso mestrado era remoto, ele precisava de uma conexão de internet de boa qualidade. Além disso, ele não tinha acesso à rede de telefonia quando estava na aldeia. Então, acabou por abandonar o curso“, comenta.

A presidente da Comissão dos Povos Indígenas da Ordem dos Advogados do Brasil no Amazonas (OAB-AM), advogada Inory Kanamari (Reprodução/Redes Sociais)

Outra personagem importante para a idealização do tema foi a advogada indígena Inory Kanamari, presidente da Comissão dos Povos Indígenas da Ordem dos Advogados do Brasil Seccional Amazonas (OAB-AM). A advogada apresentou a realidade dos povos indígenas do Vale do Javari, como casos de violência sofrida pelas mulheres indígenas, falta de apoio nas unidades hospitalares, nas delegacias e até mesmo nos bancos.

Naquela seca severa do final do ano passado não chegava sequer barco grande para lá. Então, quando nós conseguimos fazer algumas arrecadações de material para mandar de higiene e saúde, nós tínhamos que esperar um barco pequeno atracar em Atalaia para poder buscar essas doações. O que nós percebemos é um total descaso com os direitos básicos e humanos dos povos indígenas. Uma falta de preparo das pessoas que deveriam ampará-los, seja na administração pública, seja na administração privada“, conta a autora sobre sua experiência pessoal com auxílio humanitário aos povos do Vale do Javari.

Indígenas em frente à Univaja, em Atalaia do Norte (28.fev.23 – Ricardo Oliveira)
Obstáculos

Durante o processo de pesquisa, Karla Maia enfrentou obstáculos. Isso porque órgãos públicos se esquivaram de responsabilidades ao negar acesso a documentos. “Eu obtive como resposta de um órgão público a seguinte afirmação: ‘Para de pesquisar documentos e vá para lá ver a realidade’, sendo que essa afirmação veio seguida de uma negativa, dizendo que não havia documentos” afirma a autora.

Além da falta de suporte das instituições públicas, o idioma também foi uma barreira no momento da pesquisa. “Nós não somos preparados em atender os parentes da Inory, como ela chama eles, porque nós não sabemos os dialetos maternos, e eles também não são obrigados a saber a língua portuguesa“, salienta.

Capa oficial do livro (Reprodução/Divulgação)

O livro será publicado de forma física e pode ser adquirido no site da editora, mas também está disponibilizado de forma virtual na Amazon, Magazine Luiza, Casas Bahia, Ponto Frio, Carrefour, Mercado Livre, Americanas, Extra e Submarino.

Leia mais: Daniel Munduruku desafia visão não indígena: ‘Tempo é circular, como a natureza’
Editado por Marcela Leiros
Revisado por Gustavo Gilona
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