Luta por reconhecimento e espaço: veja as recentes conquistas dos povos originários

Lideranças indígenas se destacam no atual governo. (Ricardo Stuckert/Governo Federal)
Bianca Diniz – Da Revista Cenarium

BOA VISTA (RR) – Após quatro anos de desfavorecimento por parte do Governo Bolsonaro, lideranças indígenas comemoram a conquista de espaço em órgãos governamentais do atual governo para discutir suas demandas, marcando um novo capítulo na busca por reconhecimento e demarcação de terras. No Dia dos Povos Indígenas, celebrado nesta quarta-feira, 19, relembre as recentes conquistas dos povos originários do Brasil.

Em 2022, enquanto exercia o cargo de deputada federal, Joenia Wapichana propôs uma importante mudança na nomenclatura do “Dia do Índio”, que passou a ser denominado “Dia dos Povos Indígenas”. Essa alteração foi formalizada por meio do Projeto de Lei 5466/19, cuja autoria é de Wapichana, que atualmente preside a Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai), e que foi aprovado tanto pela Câmara dos Deputados quanto pelo Senado, em maio de 2022.

Para Joenia, a alteração é simbólica e busca valorizar a importância dos povos indígenas para a sociedade brasileira. “O propósito é reconhecer o direito desses povos de, mantendo e fortalecendo suas identidades, línguas e religiões, assumir tanto o controle de suas próprias instituições e formas de vida quanto de seu desenvolvimento econômico”, declarou na época.

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Marco histórico

Em um evento histórico, no dia 11 de janeiro, a líder indígena Sônia Guajajara foi nomeada ministra do recém-criado Ministério dos Povos Indígenas (MPI). Para as lideranças indígenas, a nomeação foi um marco importante para o governo brasileiro, que se comprometeu durante a campanha eleitoral a criar um ministério dedicado exclusivamente às questões indígenas, visando a promover um diálogo direto e mais efetivo com essas comunidades.

Ministra dos Povos Indígenas possui longa trajetória na luta indígena. (Reprodução/Mídia Ninja)

A ministra é considerada uma liderança indígena de renome nacional e internacional, com vasta experiência na defesa dos direitos dos povos indígenas, bem como na luta pela preservação da cultura e do meio ambiente. Foi coordenadora da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib), organização que representa mais de 300 povos indígenas do País, e tem uma longa trajetória na defesa dos direitos indígenas.

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Reestruturação da Funai

Em fevereiro deste ano, a nomeação de Joenia Wapichana para a Presidência da Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai) também marcou um momento histórico para o órgão federal responsável por proteger e promover os direitos das diferentes etnias do País. Joenia, defensora dos povos originários, é a primeira mulher indígena a liderar a Funai em mais de 50 anos de existência, representando um avanço significativo na luta pela representatividade.

Wapichana é a primeira mulher indígena na Presidência da Funai. (Joedson Alves/Agência Brasil)

Natural de Boa Vista (RR), Wapichana é pioneira em diversas áreas, exercendo uma trajetória notável. Ela foi a primeira mulher indígena a exercer a advocacia no País e também se tornou a primeira deputada federal indígena do Brasil. Com profundo conhecimento sobre as necessidades e demandas das comunidades indígenas, Wapichana é altamente qualificada para liderar a Funai em sua missão de defesa dos direitos dos povos indígenas.

Reparação

A ativista, pesquisadora e mestra da etnia Wapichana, do município de Bonfim (RR), Jama Wapichana, reafirmou que o governo atual se tornou um aliado da luta indígena. “Estamos testemunhando uma participação concreta dos indígenas na política, o que é um momento histórico. Esse espaço não foi concedido, mas sim conquistado como uma reparação histórica que o Estado brasileiro deve ao movimento e aos povos indígenas que vivem em território nacional”, declarou.

A pesquisadora da etnia Wapichana declara a existência de uma reparação história. (Reprodução/Acervo pessoal)

Ao falar sobre a articulação política dos povos indígenas, Jama destacou a presença de mulheres indígenas no atual cenário político. Ela comentou sobre a atuação da ministra Sônia Guajajara no MPI, da deputada federal Célia Xakriabá e da presidente da Funai, Joenia Wapichana. “É muito gratificante ver a articulação política entre o movimento e o Estado. Elas estão democratizando espaços para a ocupação de mulheres indígenas em órgãos e nos Distritos Sanitários Especiais Indígenas (DSEIs), o que é um ganho para nós, para o movimento e para o Brasil em geral”, destacou.

“O Brasil é composto de vários ‘Brasis’” disse Jama Wapichana, ao analisar a importância da data. Ressaltando a importância da educação como chave de combate aos preconceitos, a ativista comentou sobre o dia. “A sociedade sempre celebrou o “Dia do Índio”. No entanto, estamos vivendo em uma nova realidade política, onde a incidência nos termos e palavras é justa e necessária. Neste Dia dos Povos Indígenas, é importante entender que no Brasil existe uma grande diversidade, com 305 etnias que devem ser respeitadas, reconhecidas e defendidas.” 

Região Norte

A pesquisadora alertou que há necessidade de uma valorização interna entre as comunidades indígenas na região Norte. “Como podemos nos valorizar? Por meio do autoconhecimento, dando importância às nossas línguas e culturas e reconhecendo sua beleza. Isso não significa que outras pessoas de fora não possam achar bonito, mas muitas vezes demoramos para reconhecer isso em nós mesmos.” enfatizou.

“Muitos de nossos parentes vivem nas aldeias, mas também há muitos que vivem em cidades, e devemos respeitar suas decisões e proteger nossos territórios, pois há vários modos de contemplar o mundo, respeitando e valorizando, sempre focando na educação das crianças.” completou.

Mensagem

Jama destaca que a luta indígena é uma luta coletiva que transcende as fronteiras das etnias e dos territórios: “A luta indígena é uma batalha que transcende as fronteiras das etnias e dos territórios. É uma luta coletiva, que nasce junto com cada indígena, um mundo de resistência constante pela vida, território e bem-estar”, disse a ativista que deixa uma mensagem:

“Que todos possam sentir a sua luta, não apenas como um encantamento, mas como um convite à ação. Os povos da floresta enfrentam desafios diários em sua luta pela sobrevivência, enquanto lidam com o desmatamento, a poluição e a exploração ilegal de seus territórios. É preciso mais empatia, uma aproximação mais próxima de nós mesmos, como seres humanos. A luta indígena nos convida a nos tornarmos irmãos e irmãs em uma luta pela vida em comum, para proteger o planeta e todas as suas criaturas”, finaliza.

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