Lygia Fagundes Telles: escritora brasileira tinha 103 anos ao morrer, e não 98

A escritora Lygia Fagundes Telles em retrato de 1949; fotografia recuperada (Chico Albuquerque/ Acervo Instituto Moreira Salles)
Com informações da Folha de S. Paulo

SÃO PAULO – Lygia Fagundes Telles, uma das principais escritoras brasileiras, tinha 103 anos quando morreu, no último domingo, 3, e não 98 anos, conforme divulgava. A informação havia sido publicada pelo genealogista Daniel Taddone em sua conta no Instagram, na ocasião da morte da autora.

Na tarde desta quinta, 7, o portal G1 confirmou a informação, citando fontes da Secretaria da Segurança Pública, que seria responsável pela expedição do registro geral. Contatada pela reportagem, a assessoria da SSP afirma que não pode confirmar a data de nascimento no RG pois se trata de uma informação pessoal fora de alcance.

Porém, além de ter anunciado a informação em sua rede social, Taddone fez uma publicação em seu site reunindo reproduções dos registros de nascimento, batismo e do primeiro casamento —com Goffredo Teixeira da Silva Telles, em 17 de abril de 1947—, obtidos via portal da FamilySearch, uma entidade de pesquisa genealógica, todos apontando para a data corrigida.

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A Certidão de Casamento aparece no registro original, remetendo à Corregedoria Geral da Justiça. Procurada, a assessoria do Tribunal de Justiça de São Paulo não conseguiu confirmar a autenticidade do documento até a publicação da reportagem, por se tratar de um documento físico antigo.

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Reprodução de trecho da certidão do primeiro casamento da escritora Lygia Fagundes Telles, em 1947, no qual sua data de nascimento aparece como 19 de abril de 1918 – Reprodução

Entretanto, o que confirma que Lygia tinha mesmo 103 anos quando morreu é uma nova via dessa mesma certidão, emitida em fevereiro de 2020, e que possui um selo digital verificável, encontrada pela Folha. A consulta no site do Tribunal de Justiça comprova a veracidade do documento que aponta, ao lado do nome de Lygia, o nascimento em 19 de abril de 1918.

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Reprodução de via emitida em 2020 da certidão do primeiro casamento da escritora Lygia Fagundes Telles, em que sua data de nascimento aparece como 19 de abril de 1918 – Reprodução
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Reprodução de consulta no site do Tribunal de Justiça de São Paulo que confirma autenticidade de via da certidão do primeiro casamento da escritora Lygia Fagundes Telles, em que sua data de nascimento aparece como 19 de abril de 1918 – Reprodução

Já a fonte do registro de nascimento é ofício de registro civil do subdistrito de Santa Cecília, e nele lê-se que o documento foi registrado em 23 de abril de 1918, citando que Lygia teria vindo ao mundo “no dia 19 do corrente mês”.

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Reprodução da certidão de nascimento da escritora Lygia Fagundes Telles, em que sua data de nascimento aparece como 19 de abril de 1918, em ofício de registro civil do subdistrito de Santa Cecília – Reprodução

O de batismo, por sua vez, está no rodapé do livro de batismos da igreja Nossa Senhora da Consolação, citando o evento no dia 3 de maio de 1918.

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Reprodução de documento de batismo da escritora Lygia Fagundes Telles na Matriz da Consolação, em que sua data de nascimento aparece como 19 de abril de 1918 – Reprodução

A assessoria da Academia Brasileira de Letras diz não ter informações sobre o dado, e, conforme publicou em seu site oficial, sugere que o ano de 1923 seja a data correta.

Tadonne contou à reportagem que todo o material no Family Search faz parte de um esforço de catalogação da Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias, que financia a plataforma e tem, entre suas doutrinas de salvação, uma relacionada à genealogia e à união com seus antepassados. Por isso, desde o século 19, os mórmons —como são conhecidos popularmente— recolhem documentos referentes a isso.

No Brasil, explica, isso começou a ocorrer principalmente após os anos 1970 e hoje, com as cópias digitais, muitos desses documentos estão disponíveis e de maneira indexada por inteligência artificial.

Sobre a origem dos documentos, o genealogista explica que grande parte é oriunda da digitalização de microfilmes, mas outros, como a própria certidão de Lygia, foram digitalizados recentemente diretamente do arquivo do estado.

Em 2016, os mórmons fecharam um acordo com Arquivo Público de São Paulo para catalogar quase 200 mil livros, conforme noticiou a revista Pesquisa, da Fapesp.

Lygia Fagundes Telles foi um marco na literatura brasileira e recebeu os principais prêmios —foi ganhadora do prêmio Camões em 2005, o maior troféu da literatura em língua portuguesa, além de ter vencido o Jabuti em 1966, 1974, 1996 e 2001. Ela fazia parte da Academia Brasileira de Letras desde 1985, além de pertencer também à Academia Paulista de Letras.

Ela fazia parte da Academia Brasileira de Letras desde 1985, além de pertencer também à Academia Paulista de Letras. Na foto, a escritora em 1964
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