‘MacUber’: adeptos de religiões de matrizes africana têm serviço próprio de transporte em Manaus

O servidor público e candomblecista Ogan Erick de Odé. (Arquivo pessoal)
Marcela Leiros – Da Revista Cenarium Amazônia

MANAUS – As discriminações sofridas por adeptos de religiões de matrizes africana em transportes de aplicativos em Manaus foi o que motivou o servidor público e candomblecista Ogan Erick de Odé a oferecer um serviço de locomoção especialmente voltado para este público na cidade. Há oito meses, ele faz viagens com o MacUber, para transportar, com segurança, quem deseja ser conduzido às atividades religiosas.

O MacUber é feito para centros religiosos, festividades que acontecem em locais distante e isolados, atividades litúrgicas fora dos terreiros, entre outras. O valor da corrida é negociado entre o motorista e o passageiro, e pode ser pago por Pix ou nos cartões de débito e crédito.

Devido ao trabalho de Erick como servidor público, as corridas são realizadas à noite e nos finais de semana, mas, havendo disponibilidade, é possível atender um pedido imediato. Apesar de não ter alta demanda, o serviço tem se consolidado.

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Em média, tenho feito três ou quatro atendimentos nos finais de semana e durante a semana, principalmente nas segundas (que é quando acontecem giras de atendimento na maioria das casas de Umbanda), também atendo“, conta.

Serviço do MacUber é oferecido em Manaus. (Divulgação)
Intolerância religiosa

Segundo Erick, a ideia surgiu após presenciar pessoas sofrendo discriminação na frente dos centros religiosos, devido às vestes religiosas. Motoristas de aplicativos costumam cancelar as corridas após verem as roupas dos passageiros. O servidor afirma, ainda, que relatos como esses são mais comuns do que deveria.

Há inúmeros relatos de outros terreiros onde os adeptos passam pelo mesmo constrangimento“, conta, lembrando que o objetivo é garantir o conforto e segurança aos passageiros. “Como nossa religião tem muitas festividades e atividades litúrgicas, pensei que poderia ser útil prestar esse serviço de transporte particular de passageiros para as atividades religiosas, garantindo conforto, segurança e estreitamento de laços com os irmãos da religião“.

Ogan Erick de Odé na 4ª Caminhada contra Intolerância Religiosa, em Manaus. (Arquivo pessoal)

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Aumento da discriminação

A intolerância religiosa é considerada desrespeito ao direito das pessoas de manterem as suas crenças religiosas. A prática tem punição prevista na Lei dos Crimes Raciais (Lei nº 7.716/89), que configura o crime de racismo.

O 2º Relatório sobre “Intolerância Religiosa: Brasil, América Latina e Caribe“, publicação organizada pelo Centro de Articulação de Populações Marginalizadas e pelo Observatório das Liberdades Religiosas, com apoio da Representação da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) no Brasil, apontou aumento dos casos de intolerância religiosa no País.

O levantamento, divulgado em janeiro deste ano, mostrou que, segundo dados do portal Disque 100, do Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos, foram registrados 477 casos de intolerância religiosa em 2019, 353 casos em 2020 e 966 casos em 2021.

Os dados do estudo indicam que as religiões de matrizes africana, mesmo sendo uma minoria religiosa, são as mais atingidas pela intolerância. Em 2020, foram notificados 86 casos de intolerância religiosa contra religiões de matriz africana e 244 casos, em 2021.

Baseado nos relatos que ouve e no que já presenciou, Erick pontua que a intolerância religiosa ainda é muito forte, mas precisa ser combatida. “É crime e precisa ser combatida. Todos merecem respeito, independente de seus credos religiosos“, pontua.

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