‘Não queremos tolerância, queremos respeito’, afirma babalorixá no Dia Nacional da Umbanda

Dia 15 de novembro é comemorado o Dia Nacional da Umbanda (Arquivo Pessoal)
Fábio Leite – Especial para a Revista Cenarium

MANAUS — De matriz africana e participação massiva de negros, a Umbanda é a versão brasileira do Candomblé. Ela é cultuada por três pilares, a caridade, a luz e do amor. Praticantes da religião pedem respeito e menos intolerância religiosa nesse Dia Nacional da Umbanda, comemorado nesta terça-feira, 15. “Esse dia é uma conquista do movimento de matriz africana, uma conquista de luta. Queremos exercer a nossa religião sem medo de ser apedrejado”, afirmou o babalorixá Otto Franco de Oxu.

De acordo com o IBGE, mais de 400 mil pessoas se declararam umbandistas no Brasil, em 2010. Fundada em 15 de novembro de 1908, por Zélio Fernandino de Moraes, na cidade do Rio de Janeiro (RJ), a Umbanda completa 114 anos nesta terça-feira e é considerada uma religião brasileira. A prática é baseada nos cultos da pomba-gira, exu, erês, pretos-velhos, caboclos, orixás, baianos, boiadeiros e em outros conceitos. Umbanda significa “arte de curar”.

É essa cura que boa parte dos praticantes da Umbanda buscam, para si próprio e para aqueles que agem com preconceito, pelo simples fato dos adeptos usarem vestimentas, como turbante, roupas brancas ou qualquer outra veste que faça alusão a práticas de religiões de matriz africana.

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Um exemplo disso é o professor Otto Franco, babalorixá e pratica o umbandismo há 15 anos. Ele conta que lida diariamente com preconceito, seja de atitudes de colegas de trabalho ou do afastamento de alunos na sala de aula. “É difícil lidar com o preconceito, lido diariamente com isso. O aluno fica com um pé atrás quando abordamos esse assunto na sala de aula. Todo dia plantamos a semente do respeito, da liberdade, da não-tolerância“, contou.

Umbanda significa “arte de curar” (Arquivo Pessoal)

Umbanda no Amazonas

Com mais de 2 mil casas no Amazonas, a Umbanda segue em busca de se livrar de preconceitos, é o que garante o Doté André de Togum, um dos organizadores da festa realizada em Manaus pelo centenário da Umbanda. “O preconceito ainda é muito forte. É um preconceito institucional que a gente tenta lidar para levar com respeito as outras religiões e credos“, afirmou Doté.

A aposentada Socorro Cardoso, “Mãe Socorro”, tem quase 50 anos de Umbanda e ela diz que a principal perseguição religiosa que os umbandistas sofrem é de evangélicos. “Comigo não aconteceu diretamente, mas aconteceu com algumas pessoas que eu conheço. O preconceito vem de todos os lados, mas principalmente dos evangélicos, eles dizem que é do diabo, porque faz mal pros outros, mas não veem que na religião deles têm assassino, estuprador e traficante“, disse.

Entre outros relatos, “Mãe Socorro” diz que a “Umbanda cultua encantados”, mas que é uma religião como outra qualquer. “Não mexemos com ninguém, em pleno 2022 não era para ter mais isso, a gente adora só um Deus. Isso é uma questão de sensibilidade e ter um pouco mais de consciência. Precisamos mudar a cabeça dessas pessoas, não queremos mais ser motivos de chacotas e de atentados, nós também adoramos a Deus”, finalizou.

A prática é baseada nos cultos da pomba-gira, exu, erês, pretos-velhos, caboclos, orixás, baianos, boiadeiros e em outros conceitos. (Arquivo Pessoal)

Curiosidade

Algumas personalidades se declaram como umbandista, é o caso do apresentador Miguel Falabella, da atriz Juliana Paes, da cantora Daniela Mercury, dos cantores Zeca Pagodinho, Caetano Veloso e Maria Betânia, do ator Henri Castelli entre outros artistas.

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