Maioria de mulheres no AM reforça necessidade de políticas públicas, apontam especialistas

Mulheres trabalham em linha de montagem do Polo Industrial de Manaus (PIM) (José Paulo Lacerda/CNI)
Filipe Távora – Da Revista Cenarium Amazônia

MANAUS (AM) – As mulheres são a maioria no Amazonas, segundo Censo Demográfico 2022 divulgado na sexta-feira, 27, pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Do número total de pessoas contabilizadas, 50,1% são mulheres, à frente de 49,9% de homens. O Amazonas também apresentou uma grande quantidade de jovens — 23,26% de homens e 22,57% de mulheres.

No Estado havia 1.965.810 homens e 1.975.803 mulheres no ano da coleta de dados. A população do Amazonas era, em 2022, de 3.941.613 pessoas, o que representa um crescimento total de 13,1% entre 2010 e 2022.

O crescimento populacional foi crescente no Amazonas, nas últimas décadas, apresentando os seguintes números: 1991 (2.102.901), 2000 (2.817.252) e 2010 (3.483.985).

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A cientista social Ana Claudia Bandeira de Melo afirmou que o aumento de mulheres em idade reprodutiva, no Amazonas, indica que pode haver um déficit maior de crianças fora de creches no Estado. “Segundo o IBGE, o Amazonas já possuía um déficit de 250 mil crianças sem creches em 2019. Esse número absurdo coloca o Amazonas como o Estado do Norte com a menor quantidade de creches públicas disponível”, afirmou.

As mulheres também são maioria no restante do País (Reprodução/Agência Brasil)

Dentro do contexto de não poder contar com creches ou escolas de tempo integral, as amazonenses tendem a recorrer à ajuda de familiares para cuidar dos filhos, ainda conforme Melo. A tendência dessa massa de trabalhadoras jovens é se voltar ao Polo Industrial de Manaus (PIM), bem como a outros ramos de trabalho.

Para a professora e pesquisadora das relações de gênero Milena Barroso, a convivência com várias jornadas de trabalho tende a gerar cansaço acrescido às mulheres. Ela salienta que o cuidado com os filhos pode ser visto como trabalho, embora não remunerado. “É importante que as políticas públicas considerem esse labor reprodutivo como trabalho e garantam proteção social e segurança às mulheres”, afirmou.

Adaptação

Embora o número de mulheres cresça no Amazonas e no País, a socióloga Marilene Corrêa afirmou à REVISTA CENARIUM AMAZÔNIA que o mercado brasileiro precisa adaptar as condições de trabalho de algumas funções a necessidades biológicas femininas.

“Hoje, nós temos uma diversidade de problemas com a inserção da mão de obra feminina em todos os setores, o que inclui setores que não são bons à saúde feminina, como trabalhar em postos de gasolina ou áreas que coloquem em risco a vida reprodutiva das mulheres. Há áreas que fazem muito mal à vida reprodutiva e hormonal da mulher”, disse Corrêa.

Mulheres aguardando em fila de emprego (Reprodução/Ufpa)
Novas relações de trabalho

Para a economista Denise Kassama, a tendência é que os jovens encontrem dificuldade de inserção no mercado de trabalho devido às transformações pelas quais eles passam atualmente. “No Amazonas, o emprego de carteira assinada é minoria na população economicamente ativa. Isso está mudando algumas relações de trabalho. Agora, é comum que o patrão, ao invés de assinar a carteira de trabalho, peça para que o trabalhador abra uma MEI e preste serviço dessa forma”, disse.

Enquanto que trabalhar como microempreendedor reduz custos de tributação sobre folha em cargos, a nova dinâmica prejudica o trabalhador, que perde direitos trabalhistas importantes, ainda conforme Kassama. Para ela, outro problema decorrente do aumento de jovens entrando no mercado de trabalho é a indisponibilidade de vagas.

“Parte desses jovens acaba migrando para o empreendedorismo ou informalidade. O primeiro emprego se torna cada vez mais difícil para um jovem nessa faixa, de 20 a 24 anos. O que temos observado é que esses jovens não têm sido absorvidos plenamente pela economia. A disputa por vagas se torna mais acirrada e sobe o nível de exigências para determinadas vagas”, afirmou.

Mulher realiza trabalho artesanal (Reprodução/Agência Brasil)
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Editado por Jefferson Ramos
Revisado por Adriana Gonzaga
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