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Manifestantes desafiam a Justiça com novos bloqueios em RO e ameaçam apedrejar ônibus com passageira doente
Não há um critério específico para a liberação do fluxo. Enquanto isso, eleitores da extrema-direita ameaçam motoristas e passageiros (Arte: Thiago Alencar/REVISTA CENARIUM)
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07 de novembro de 2022
Iury Lima – Da Revista Cenarium
VILHENA (RO) – Quatro dias depoisdo emprego de tropas de choque na liberação de rodovias federais em Rondônia, apoiadores da extrema-direita, voltam a acumular bloqueios nas estradas, contrariando a Justiça Federal, que, inclusive, fixou multa que varia de R$ 10 mil a R$ 100 mil para quem insistir nas interdições. Somente nesta segunda-feira, 7, pelo menos seis trechos estão paralisados. Não há um critério específico para a liberação do fluxo. Enquanto isso, os manifestantes ameaçam motoristas e passageiros.
Em um dos bloqueios, na BR-364, no município de Ariquemes, distante pouco mais de 200 quilômetros de Porto Velho, passageiros de um ônibus reclamam que caminhões boiadeiros seguem normalmente, mas o veículo de transporte não foi autorizado. “O gado passa, mas o ônibus não passa. Tem que ser gado para passar”, critica uma passageira, em um vídeo.
As gravações também mostram uma senhora implorando pela liberação enquanto explica a necessidade de chegar à capital, onde deve embarcar em um voo comercial para dar continuidade a um tratamento cardiológico. Os homens, no entanto, ameaçaram apedrejar o veículo caso o motorista furasse o bloqueio, revelou à REVISTA CENARIUM uma passageira que preferiu não se identificar.
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Apelo pela via
“Eu tô doente, meu amigo [sic]”, diz a mulher. “Não dá, não dá. É caso pessoal, não dá”, responde um manifestante. “Desde o ano de 2020 que eu estou com esse problema de saúde, fazendo tratamento”, rebate a paciente. “O laudo da senhora não bate”, diz outro homem trajado com a bandeira do Brasil.
“Pessoal, ó, a senhora doente aqui, ó, pedindo para sair [sic] e os eleitores, aí, de direita, totalmente extremistas. Isso é o Brasil”, narra uma outra passageira, em um dos vídeos. “O ônibus preso por essa galera aí, que não tem o que fazer, assando carne num sol quente desse. Só pode ser rico, bebendo cerveja, champanhe (…)”, acrescentou.
Medo nas estradas
Em entrevista à CENARIUM, a ocupante do veículo que pediu para ter a identidade protegida, por medo de ataques, conta que saiu de Vilhena por volta das 5h30 da manhã com destino a Porto Velho, e que o ônibus só pôde deixar o bloqueio realizado em Ouro Preto depois de ameaças de apedrejamento, sob a condição de que o veículo retornasse para o terminal rodoviário.
“E assim aconteceu”, explica ela. “Nós paramos na rodoviária de Ouro Preto e estamos aqui até agora. Chegamos por volta de 13h30, e agora [momento da entrevista] são 16h40, e permanecemos aqui até o momento (…) Há vários ônibus parados aqui nesta pequena rodoviária e a situação é bem complicada, bem difícil. Eu posso dizer que é algo que eu nunca vi nem imaginei acontecer no Brasil”, desabafou.
Sobre a atuação da Polícia Rodoviária Federal (PRF), a mulher revelou ter visto uma única viatura, que apenas passou pelo movimento, mas que os agentes não interviram, segundo ela.
“O sentimento é de temor, porque não sabemos o que se passa na mente do ser-humano e até que ponto ele pode chegar, se pode ferir ou machucar alguém. A gente se sente totalmente vulnerável. O que queríamos era apenas seguir viagem”, declarou, amedrontada.
“É um radicalismo sem sentido. A gente não sabe quem financia essas paralisações, quem está por trás disso tudo. A gente entende que aquilo não é uma manifestação popular, vai além disso (…) temos nossos compromissos. Temos hotel reservado, mas não sabemos se chegaremos hoje em Porto Velho e nem como ficará essa situação até anoitecer”, lamentou.
Já a paciente, que precisa pegar um voo na noite desta segunda-feira, tenta conseguir um táxi até a capital de Rondônia para não perder o horário. A viagem está marcada paras as 22h.
Bloqueios em Rondônia
A polícia reconhece seis pontos bloqueados no Estado, de acordo com a mais recente atualização. Cinco deles, localizados na BR-364, principal via de acesso a outros estados brasileiros, escoamento de produtos agrícolas e outras mercadorias:
BR-364, KM 16, em Vilhena (RO);
BR-364, KM 383, em Ouro Preto (RO);
BR-364, KM 423, em Jaru (RO);
BR-364, KM 512, em Ariquemes (RO);
BR-364, KM 514, em Ariquemes (RO), e
BR-429, KM 166, em São Miguel do Guaporé (RO)
Questionada pela REVISTA CENARIUM, a PRF não respondeu quais ações têm feito para destravar as novas paralisações e também não se posicionou em relação às ameaças feitas ao motorista e passageiros do ônibus citado nesta reportagem.
Zonas de conflito
Rondônia não é único Estado a dar exemplo de violência e intolerância nas estradas. Manifestantes partiram para o ataque contra agentes da PRF, nesta segunda-feira, no município de Novo Progresso, no Pará, a mais de 1.600 quilômetros de Belém. Um policial e uma criança sofreram ferimentos durante o confronto e passaram por atendimento médico.
O conflito ocorreu durante intervenção das forças de segurança do Pará, acionadas para liberar parte da BR-163, ocupada por eleitores da extrema-direita inconformados com a vitória de Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
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