PRF anuncia ‘policiamento de choque’ para liberar rodovias de RO: ‘modo de ação exauriu seus efeitos’

As equipes se mobilizam, agora, para desinterditar esses pontos bloqueados em estradas que dão acesso ao Acre e Mato Grosso (Maison Bertoncello/CENARIUM)
Iury Lima – Da Revista Cenarium

VILHENA (RO) – Depois de quatro dias de diálogo e estratégias para convencer eleitores da extrema-direita, inconformados com a derrota de Jair Messias Bolsonaro (PL) nas urnas, a desbloquear pontos de rodovias federais tomadas por protestos, em Rondônia, a Polícia Rodoviária Federal (PRF) mudou o tom nesta quinta-feira, 3. A corporação afirmou que “o modo de ação exauriu seus efeitos” e que, por isso, vai utilizar “policiamento de choque” na liberação de estradas, e que a desobstrução se dará “pelo uso da força“. 

A polícia diz, também, que já liberou quase uma dezena de pontos de bloqueio “sem registro de conflitos”. Nesta tarde, cinco locais permanecem ocupados por manifestantes: todos na BR-364, em cidades próximas à capital Porto Velho, segundo relatório mais recente da PRF. 

As equipes se mobilizam, agora, para desinterditar esses pontos bloqueados em estradas que dão acesso ao Acre e Mato Grosso. Dois trechos já estão em negociação: um no distrito de Extrema e outro na cidade de Ariquemes, acerca de 200 quilômetros da capital. “Se necessário for, nós vamos fazer a liberação com o uso de força policial pela imposição de choque”, detalhou o assessor de imprensa da PRF em Rondônia, Andrei Milton.

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Ponto de bloqueio na BR-364, em Vilhena, a 706 quilômetros de Porto Velho (Maison Bertoncello/CENARIUM)

Leia também: Eleitores da extrema-direita fecham rodovias em oito Estados da Amazônia Legal

Equipes do Batalhão de Choque da Polícia Militar, Força Nacional, Polícia Federal e Corpo de Bombeiros participam da força-tarefa acompanhada pelo Ministério Público Federal (MPF). A Justiça também fixou multas para quem descumprir as ordens, que chegam a R$ 10 mil para pessoas físicas e R$ 100 mil para pessoas jurídicas.

Para a PRF, a expressão social por meio da livre manifestação “não pode servir de artifício para ferir direitos consolidados na Constituição Federal de 1988, como o de ir e vir“.

Desabastecimento

Ainda não há números estimados sobre o impacto econômico em Rondônia, mas as paralisações de caminhoneiros e apoiadores do presidente derrotado no 2° turno chegaram a desabastecer postos de combustíveis em diversas cidades e ameaçam os estoques de alimentos nos mercados.

“Neste momento, existem riscos reais de desabastecimento de produtos e serviços essenciais, como, por exemplo, a falta de combustível para ambulâncias em cidades do interior, falta de insumos médicos em hospitais, diminuição da disponibilidade de diversos tipos de alimentos em comércios, dentre outros“, diz a PRF.

As manifestações também preocupam moradores do Acre. Mesmo que não haja mais bloqueios por lá, segundo os agentes rodoviários federais, as interdições de Rondônia acendem alerta, visto que a BR-364 é a única estrada que liga o Estado ao resto do País.

Os acreanos temem a falta de produtos no comércio, como os alimentos perecíveis, já encontrados com dificuldade nos estabelecimentos, segundo a Associação Comercial do Acre (Acisa).

Interdição da BR-364, em Rondônia, ameaça comércio de alimentos, combustíveis e remédios, no Acre (Maison Bertoncello/CENARIUM)

Churrasco

Empresários dão apoio às manifestações. Em Vilhena, a 706 quilômetros de Porto Velho, os atos ocorreram regados à bebida e churrasco.

Em Vilhena, manifestantes ocupam a BR-364 e realizam churrasco durante os atos (Maison Bertoncello/CENARIUM)

Em Ji-Paraná, a quase 400 quilômetros da capital, um frigorífico distribuiu peças de carne aos manifestantes apoiadores de Bolsonaro. O vídeo da entrega de mercadorias viralizou em uma rede social.

“Frigorífico mandando para nós aí, ó [sic]”, narra um participante do ato. “Aqui é Brasil, pessoal. Ji-Paraná, Rondônia! Tamo aí, capitão, nos autoriza, capitão [sic]”, diz ainda.

Manifestantes comemoram doação de carne para manifestações em Ji-Paraná, na região central de Rondônia (Twitter/Reprodução)

Pautas antidemocráticas

Para barrar a disseminação de pautas antidemocráticas, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) determinou que as plataformas de mensagens WhatsApp e Telegram removam grupos utilizados por eleitores e simpatizantes da extrema-direita, incluindo aqueles em que houve convocação para a paralisação das rodovias.

Nesses grupos, opositores ao presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT) pedem, inclusive, um golpe militar, como ocorreu em manifestações em Manaus, no início da semana. Já em Rondônia, o Ministério Público (MPRO) investiga a mobilização de uma vaquinha virtual para financiar um ataque ao candidato do PT, que assume a presidência em 1° de janeiro de 2023.

A Corte entende que essas condutas incitam grave perturbação ao ambiente democrático, além de desvirtuar o artigo 142 da Constituição Federal, que trata da hierarquia e disciplina das Forças Armadas. As plataformas já estão retirando esses grupos do ar.

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