Mato Grosso: indígenas denunciam compra de votos para Bolsonaro, Mauro Mendes e outros

Um maço de notas de cem preso com um elástico Dinheiro que teria sido entregue a indígenas Yudjá/Juruna, no Xingu (MT), em tentativa de compra de votos - Arquivo pessoal
Com informações da Folha de S. Paulo

BRASÍLIA – Indígenas da etnia Yudjá/Juruna, da região do Xingu, no Mato Grosso, dizem que foram alvo de uma tentativa de compra de votos, ainda antes do primeiro turno, em prol da aliança do presidente Jair Bolsonaro (PL) no Estado.

Segundo boletim de ocorrência, registrado na delegacia de Marcelândia (MT), ao qual a Folha teve acesso, o caso aconteceu em 16 de setembro. A reportagem também conversou com indígenas da região, que pediram para ter a identidade preservada por segurança, mas confirmaram o descrito à polícia.

Segundo o relato, na manhã daquele dia, um homem chamado Lincoln Nadal visitou de barco uma série de aldeias da região, sob o pretexto de conversar sobre política. Ele, que estava acompanhado de um homem não identificado no boletim, é secretário de Agricultura e Meio ambiente de Marcelândia, segundo o site da prefeitura local.

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A reportagem teve acesso a fotos dos santinhos que Nadal distribuiu e que indicavam votos em Bolsonaro para presidente, Mauro Mendes (União Brasil) para governador, Wellington Fagundes (PL) para senador, Fabio Garcia (União Brasil) para deputado federal e Silvano Amaral (MDB) para estadual.

Pescadores preparam um corredor com galhos de árvores para arrastar  canoa em um trecho seco do rio Xingu em direção a uma área de pesca em Altamira; com a construção da hidrelétrica de Belo Monte e a a contínua redução do volume de água no trecho do rio Volta Grande, é preciso arrastar a canoa pelas pedras nos lugares mais secos
Pescadores preparam um corredor com galhos de árvores para arrastar canoa em um trecho seco do rio Xingu em direção a uma área de pesca (Lalo de Almeida/Folhapress)

Segundo o BO, após a conversa com os indígenas presentes, Lincoln chamou uma das lideranças para falar reservadamente, pedindo para que servisse como cabo eleitoral de seus candidatos. Quando o indígena se negou, o secretário insistiu e lhe entregou um maço de R$ 1.500 em notas de cem, junto com mais santinhos.

De acordo com o depoimento, ele ainda “disse que, se os candidatos ganhassem, iria dar outra parte do dinheiro, não especificando o valor”. “Lincoln não pediu para votar em um candidato específico, pediu voto para todos os candidatos da ‘colinha’”, diz o registro.

Após a proposta, Nadal voltou à sua embarcação e continuou sua viagem pelas aldeias. Quando estava retornando, mais tarde no mesmo dia, os indígenas acenaram para que ele estacionasse na margem para uma nova conversa.

Folha teve acesso a uma série de vídeos deste momento. Neles, é possível ver os indígenas devolvendo o dinheiro e o secretário questionando se eles não queriam ficar com o valor para, por exemplo, comprar gasolina.

O indígena Towayanin Kaiabi, conhecido como Velhinho, limpa placas solares que abastecem o polo Diauarum, no Xingu
O indígena Towayanin Kaiabi, conhecido como Velhinho, limpa placas solares que abastecem o polo Diauarum, no Xingu (Lalo de Almeida/Folhapress) 

No boletim de ocorrência, ainda consta que Lincoln teria passado em pelo menos mais duas aldeias da região.

Segundo um indígena ouvido pela Folha sob anonimato, não é incomum que pessoas passem pelas aldeias para falar sobre política em tempos de eleição. O secretário, no entanto, não era conhecido pelos Yudjá até pouco tempo antes do episódio, segundo essa liderança.

Dias antes da visita de Nadal, representantes da aldeia haviam se reunido na prefeitura de Marcelândia e solicitado verbas para melhorias na estrutura do local. De acordo com o relato de um dos presentes nesse encontro, a gestão municipal não liberou o dinheiro.

A reportagem procurou Nadal por meio de seu telefone, mas não teve resposta. Também contatou a prefeitura de Marcelândia, que não se pronunciou.

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