Mesmo com pessoas em casa, produção de lixo doméstico cai durante pandemia em capital da Amazônia

Mesmo com as pessoas em isolamento social, a quantidade de lixo domiciliar durante a pandemia de Covid-19, caiu drasticamente em Manaus. (Reprodução/Internet)

Luciana Bezerra – Da Revista Cenarium

MANAUS – A pandemia do novo Coronavírus teve impacto significativo nos hábitos de consumo da população em geral. As medidas restritivas de circulação impostas pelas autoridades de saúde globais para conter a disseminação do vírus fizeram cair a geração de lixo domiciliar em todo o território brasileiro e Manaus teve destaque para essa redução.

De acordo com pesquisa realizada pela Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental (Abes), entre março e abril houve uma queda de 10% a 22% no volume de lixo produzido nas residências brasileiras, pelo menos em dez capitais.

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O levantamento contou com dados dos serviços de coleta de São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Brasília, Salvador, Fortaleza, Manaus, Recife, Porto Alegre e Natal.

Em Manaus, de acordo com a Secretaria Municipal de Limpeza Urbana (Semulsp), a quantidade de lixo domiciliar coletada no período de isolamento social (de março a maio) foi de 9,9% em relação ao período pré-quarentena (de janeiro a março), que foi de 11%.

Segundo Paulo Ricardo Farias, secretário municipal de Limpeza Urbana, a queda foi atribuída à redução das atividades comerciais que interfere na produção de lixo, mesmo considerando que mais pessoas estejam em suas casas, consumindo.

“A geração do lixo domiciliar em Manaus está associada a renda das famílias. Além disso, os grandes geradores de lixo domiciliar como shoppings e centro comerciais estavam fechados. Isso fez o consumo diminuir, consequentemente, mesmo com mais pessoas em casa, a quantidade de lixo foi reduzida”, destaca Farias.

Segundo a Semulsp é de responsabilidade da população embalar o lixo de forma correta para a coleta domiciliar. (Reprodução/Internet)

Antes do isolamento social, a população de Manaus gerava em média mais de 2,4 toneladas de lixo domiciliar. Com a adoção do distanciamento a capital amazonense passou a gerar por volta de 2,2 toneladas, uma redução de 9,9% (de março a maio), de acordo com dados da Semulsp.

Já o crescimento de 13,8%, aponta Paulo Farias, foi contabilizado por meio das 2.516 toneladas recolhidas de 1 a 15 de junho, após as duas etapas de reabertura do comércio, na cidade.

Desta forma, com a abertura do comércio, houve um incremento de 2,6% em relação ao período de isolamento social (de março a maio).

O secretário enfatiza também que mesmo com a interrupção dos trabalhos em grande parte dos setores, a coleta de resíduos entrou na lista dos serviços considerados “essenciais” e que, portanto, não podem parar, por vários motivos, mas, principalmente, pela importância em relação à proteção do meio ambiente e da saúde humana, mesmo durante processos epidêmicos.

Novas lixeiras

Como parte das ações de infraestrutura e paisagismo da Prefeitura de Manaus mais de 390 lixeirinhas públicas em seis avenidas da cidade foram implantadas. A expectativa, segundo o secretário municipal de Limpeza Urbana, é de que outras 10 mil lixeiras sejam instaladas por toda a capital amazonense, com objetivo de oferecer à população a opção correta para o descarte de resíduos.

Novas lixeiras para a coleta seletiva estão sendo implantadas nas principais vias da cidade. (Reprodução/Internet)

A operação de instalação das lixeiras em passeios públicos começou pela avenida Djalma Batista, zona Centro-Sul, com 126 lixeirinhas, e já passou pelas avenidas Jacira Reis, zona Centro-Oeste, Mário Ypiranga, zona Centro-Sul, e Dr. Theomário Pinto, Centro-Oeste. No momento, as equipes da Semulsp ainda trabalham nas avenidas Efigênio Salles e Darcy Vargas, ambas na zona centro-Sul.

Essa ação da Semulsp também contempla praças e parques dentro desses perímetros, com mais 50 unidades espalhadas. Outras 116 lixeiras foram implantadas próximas de paradas de ônibus e o restante ao longo das avenidas. As ruas Pará e João Valério deverão ser as próximas a receber os equipamentos.

Queda na produção de lixo

Balanço realizado pela Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais (Abrelpe) e pela Associação Internacional de Resíduos Sólidos no Brasil (ISWA) mostrou que a geração de resíduos domiciliares no país caiu 7,25%, em abril, na comparação com o mesmo período do ano passado. A pesquisa foi feita junto a empresas que representam 60% do mercado privado de limpeza urbana e que atuam em todas as regiões do Brasil.

O estudo indicou que a coleta de materiais recicláveis aumentou entre 25% e 30% no período, o que não indica aumento da reciclagem na mesma proporção. Segundo os dados, boa parte do volume coletado tem sido encaminhado para os aterros sanitários devido o fechamento ou diminuição da atuação nas unidades de triagem em diversas cidades.

Em busca do lixo zero

Segundo a fundadora da Casa Causa e embaixadora do Instituto Lixo Zero Brasil, Flávia Lemes, apenas 10% do que a população consome deveria ir para o lixo.

“Todo o resto deveria voltar para a cadeia produtiva. Tudo vem dentro de embalagem de papelão, vidro, plástico. Tudo isso tem valor econômico. Muita gente no Brasil vive disso”, explica Flávia.

Flávia aponta ainda que entretanto, muitas pessoas veem como utopia uma sociedade que não gere lixo.

“A gente é pioneiro do possível. Muhammad Yunus (economista e vencedor do Prémio Nobel da Paz) fala que a partir deste momento temos de ser pioneiros de possibilidades, de um mundo desejado e que a gente quer construir. O lixo zero nasce disso, é uma meta ética e visionária”, diz Flávia.

Essa meta de lixo zero começa com assumir um consumo mais consciente. Para a embaixadora do Lixo Zero Brasil, quando o consumidor decide colocar em prática o consumo consciente, ele deve buscar saber se a empresa da qual está comprando é comprometida com o meio ambiente, com as práticas sustentáveis.

“As empresas que estão realmente comprometidas divulgam isso. Elas trazem essa informação no produto, no site, nas redes sociais. Existe uma preocupação dessa marca com o consumidor. Não tem nenhuma marca 100%, porque é um processo que precisa mudar a mentalidade, a partir de dentro”, concluiu.

Coleta Seletiva

Além do recolhimento de lixo, a também o serviço de coleta seletiva, que por conta da pandemia de Covid-19 está paralisado. Este serviço, segundo o secretário Paulo Farias, ajuda a “retirar” os dejetos do aterro e geram renda e emprego para a cooperativa responsável pelo trabalho.

“Em 2019, a coleta seletiva de Manaus foi responsável pelo recolhimento de 12.455 toneladas de materiais recicláveis, gerando emprego e renda para os catadores e cooperativas”, finaliza.

Confira abaixo a lista de materiais que podem ser reciclados:

Garrafas, embalagens de produtos de limpeza;

Potes de cremes, xampus;

Sacos, sacolas e saquinhos de leite;

Isopor;

Latinhas de bebidas;

Jornais, revistas, impressos em geral;

Embalagens de papelão e etc;

Dicas de como separar o lixo para a coleta

Plásticos: lave-os bem para que não fiquem restos do produto, principalmente no caso de detergentes e xampus, que podem dificultar a triagem e o aproveitamento do material;

Vidros: lave-os bem e retire as tampas;

Metais: latinhas de refrigerantes, cervejas e enlatados devem ser amassados ou prensados para facilitar o armazenamento;

Papéis: podem ser guardados diretamente em sacos plásticos.

A separação do material reciclável não precisa ser feita por tipo, basta separar o lixo orgânico, como restos de alimentos, do lixo seco.

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