Morte de indígena é confirmada por hospital após ação da PM contra aldeia em Mato Grosso do Sul

Há outros 11 feridos, entre eles, 3 policiais e 8 indígenas, sendo uma adolescente de 13 anos e uma criança de sete anos (CIDH/Divulgação)
Bruno Pacheco – Da Revista Cenarium

MANAUS – Um indígena morreu nessa sexta-feira, 24, após ser atingido por disparos de arma de fogo durante uma ação de tropas de choque da Polícia Militar de Mato Grosso do Sul (PM-MS) na comunidade Guarani e Kaiowa, na Zona Rural de Amambaí (a 338 quilômetros de Campo Grande). A informação foi confirmada pelo Hospital Regional de Amambaí e por lideranças da comunidade. Pelo menos outras 11 pessoas também estão feridas e recebendo atendimento médico.

Segundo a unidade hospitalar, o homem chegou ao pronto-socorro sem vida e com três perfurações pelo corpo oriundas de tiros. Uma outra morte de indígena foi relatada pela comunidade, mas não confirmada pelas autoridades até o momento. Entre os feridos, estão 3 policiais e 8 indígenas, sendo uma adolescente de 13 anos e uma criança de sete anos.

O confronto armado aconteceu após um grupo de 30 indígenas da comunidade Guarani-Kaiowá ocuparem na quinta-feira, 23, parte do território de Guapoy, considerado por eles como ancestral, e que está localizado em uma propriedade rural de Amambaí. Segundo o Conselho Indigenista Missionário (Cimi), órgão ligado à Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), “Guapoy é parte de um território tradicional que lhes foi roubado – quando houve a subtração de parte da reserva de Amambai”.

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Na manhã seguinte, policiais militares foram enviados a região para atenderem uma “ocorrência de crime contra o patrimônio e contra a vida” e para auxiliar na manutenção da paz. Ainda nessa sexta-feira, 24, o secretário de Estado de Justiça e Segurança Pública, Antonio Carlos Videira, disse em coletiva de imprensa que o conflito está relacionado que problemas sobre indígenas que trabalham em roças de maconha no Paraguai e que foram na aldeia de Amambaí para tentar destituir a liderança local.

“A Polícia Militar foi acionada para atender ocorrência grave de crimes contra o patrimônio e contra a vida. Não se trata de reintegração de posse”, destacou Videira.

“Essas pessoas que atuam nas roças de maconha no Paraguai vieram para a aldeia tentando tomar a liderança. Há cerca de um mês, começamos capacitação de indígenas da aldeia para criação do conselho comunitário de segurança indígena a pedido das lideranças da aldeia, devido o aumento de crimes”, reforçou o secretário.

De acordo com a polícia, cerca de 100 policiais estão no local. Além disso, um helicóptero empregado na operação foi alvejado a tiros por criminosos armados. Apesar do conflito, o secretário Antonio Videira salienta que Amambaí é um local pacífico e que cresceu após uma ‘eleição acirrada’ pela liderança da região.

Indígena morto

O episódio que resultou no confronto aconteceu na madrugada e na tarde dessa sexta-feira, 24. Vídeos e fotos de feridos do conflito foram compartilhados na internet por lideranças da comunidade Guarani-Kaiowá. Entidades indígenas relataram o caso nas redes sociais e pediram por assistência médica, ambulâncias e justiça pelo indígena morto e pelos feridos.

Em nota, o Cimi destacou que teme que a situação se evolua rapidamente para um novo episódio de massacre contra os Guarani-Kaiowá, como o ocorrido em 2016, em Caarapó (MS), quando um indígenas a tiros e outros 20 ficaram feridos após um confronto entre fazendeiros e lideranças loais.

“Diante das informações dos feridos, do contingente populacional local e do histórico de violência na região, o Conselho Indigenista Missionário (Cimi) teme que a situação evolua rapidamente para um novo episódio de massacre contra os Guarani Kaiowá, como o ocorrido em 2016, em Caarapó (MS)”, declarou o Cimi, em nota.

Segundo a entidade, a reserva de Amambai é a segunda maior do estado de Mato Grosso do Sul em termos populacionais, com quase 10 mil indígenas. “Os indígenas clamam atenção, exigem proteção às suas vidas e seus direitos”, reforçou o conselho indigenista.

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