Mourão admite ser o culpado por falta de coordenação no combate ao desmatamento

Vice-presidente diz que faltou integração entre Forças Armadas e fiscalização e que desmate ilegal é 'troço pra chuchu' (Foto: Adnilton Farias/Flickr)

Com informações da Folhapress

BRASÍLIA – Vice-presidente e coordenador do Conselho Nacional da Amazônia Legal (CNAL), Hamilton Mourão admitiu ter culpa no fracasso do combate ao desmatamento no Brasil. Na última semana, dados do Projeto de Monitoramento do Desmatamento na Amazônia Legal por Satélite (Prodes), do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), mostraram novo recorde de desmate no mês de outubro.

O dado é o pior dos últimos 15 anos, com uma devastação de 13.235 km², entre agosto de 2020 e julho de 2021 – um aumento de 22% em relação ao período anterior. “Se você quer um culpado, sou eu. Não vou dizer que foi ministro A, ministro B ou ministro C. Eu não consegui fazer a coordenação e a integração de forma que ela funcionasse”, disse o vice-presidente a jornalistas, após a última reunião do CNAL de 2021, no Itamaraty, nesta terça-feira, 23.

PUBLICIDADE

“Ela só foi funcionar na última fase da operação, quando a Samaúma [nome da terceira operação] aconteceu e aí a turma acordou para a necessidade de conversar efetivamente uns com os outros, despirem seus preconceitos. Porque cada um tem seu preconceito, em relação ao outro, à forma do outro de trabalhar, e, a partir daí, houve sinergia nos trabalhos”, continuou.

Mourão chefia o Conselho da Amazônia, estrutura responsável por coordenar as ações de preservação no bioma, mas que passa por um processo de esvaziamento. Não estiveram presentes no encontro os ministros Joaquim Leite (Meio Ambiente) e Anderson Torres (Justiça), que hoje coordenam as principais medidas de combate ao desmatamento, desde que a atuação dos militares na região não foi prorrogada, em outubro.

Mourão disse que Leite é “a cara do combate ao desmatamento”, mas minimizou as ausências, alegando que estariam presentes os responsáveis técnicos por coordenar as ações nos ministérios. A militarização do combate a ilícitos ambientais durou 16 dos 34 meses do governo Bolsonaro, custou R$ 550 milhões aos cofres públicos e não derrubou os índices de desmatamento da Amazônia, como a Folha mostrou em reportagem publicada no dia 24 de outubro.

Ao todo, foram três Garantias da Lei e da Ordem (GLOs), cujos decretos presidenciais deram amparo legal a três operações de intervenção militar: Verde Brasil, Verde Brasil 2 e Samaúma. O vice-presidente chegou a anunciar a prorrogação desta última, o que não ocorreu.

Os dados mais recentes do desmatamento na Amazônia foram divulgados na última quinta-feira, 18. Como a Folha mostrou, o Inpe concluiu os dados em 27 de outubro e inseriu o relatório no sistema eletrônico de informações do governo federal no mesmo dia, mas a disponibilização só ocorreu três semanas depois – em período posterior à COP26, conferência da Organização das Nações Unidas (ONU) sobre as mudanças climáticas, realizada em Glasgow, na Escócia, entre os dias 31 de outubro e 13 de novembro.

Mourão disse ainda que, dos 13.235 km² desmatados entre agosto de 2020 e julho de 2021, cerca de 60% correspondem a desmatamento ilegal. A informação não foi divulgada por ministérios ou órgãos de fiscalização.
“Em torno de 8.100 km² definitivamente considerados ilegais e os outros, como foram realizados em áreas privadas, onde havia autorização para supressão para a vegetação, são considerados desmatamento legal”, afirmou o vice-presidente. Ele reconheceu, contudo, que a área de desmatamento ilegal é “troço pra chuchu”.

PUBLICIDADE

O que você achou deste conteúdo?

Compartilhe:

Comentários

Os comentários são de responsabilidade exclusiva de seus autores e não representam a opinião deste site. Se achar algo que viole os termos de uso, denuncie. Leia as perguntas mais frequentes para saber o que é impróprio ou ilegal.