Mulher na política: os desafios de Janja contra o machismo no Governo Lula

Janja is 56 years old, a sociologist, with a degree in Social Sciences and an MBA in Social Management and Sustainability (Reproduction)
Marcela Leiros – Da Revista Cenarium

MANAUS – Nas últimas semanas, muito se tem debatido sobre a participação da futura primeira-dama do Brasil, Rosângela da Silva, mais conhecida como Janja, na construção do Governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

A presença ativa de Janja, influenciando inclusive na escolha de ministros, renderam críticas por parte de aliados do presidente eleito. À REVISTA CENARIUM, representantes de organizações dedicadas a defender o direito das mulheres analisaram que a socióloga ainda enfrentará muito machismo.

Janja tem 56 anos, é socióloga e se filiou ao PT quando tinha 17. É formada em Ciências Sociais e tem MBA em Gestão Social e Sustentabilidade, também se especializou em História, pela Universidade Federal do Paraná (UFPR).

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Janja coloca óculos de estrela, no formato do símbolo do PT. (Reprodução/ Twitter)

Em novembro, logo após o resultado da eleição presidencial, a tag “Respeita a Janja” esteve entre os assuntos mais comentados no Twitter depois de comentários da jornalista Eliane Cantanhêde durante o programa “Em Pauta”, do GloboNews.

Ela criticou a posição de Rosângela Lula da Silva no gabinete de transição. “Ela estava ali sentada, mas ela não é presidente do PT, ela não é líder política, ela não é presidente de partido, enfim, por que ela estava ali? Qual era o papel da primeira-dama?”, questionou a comentarista.

A presidente da União Brasileira de Mulheres (UBM), Vanja Andrea, aponta que os questionamentos feitos à postura de Janja são de pessoas que não defendem o papel da mulher na política. Para ela, enfrentar as críticas machistas será o primeiro desafio da futura primeira-dama.

O primeiro [desafio] é enfrentar essa construção machista, que é social, que é cultural. Esses são os primeiros desafios que ela já está enfrentando e na sequência virão outros. ‘Não deveria falar, deveria se calar’. Essa questão do patriarcado, do machismo, e do não deveria fazer isso, não deveria fazer aquilo, que ela está enfrentando hoje, ela vai enfrentar mais firmemente mais para frente“, explica.

Vanja pontua, ainda, que o comportamento da socióloga é fora do convencional para o que se espera de uma primeira-dama, algo necessário para os dias atuais. “Hoje, a figura da Janja passa a ser um exemplo de rupturas com esses padrões convencionais, patriarcais, machistas que a gente tem acostumado a ver na sociedade, nessas representações políticas”, salienta.

Presidente da União Brasileira de Mulheres (UBM), Vanja Andrea diz que Janja terá que defender a participação da mulher na política (Divulgação)

Influência política

A influência de Janja na transição do governo já tem gerado frutos. Informações veiculadas na imprensa dão conta que a escolha da cantora Margareth Menezes para chefiar o Ministério da Cultura teve a intervenção da socióloga. A artista tentou emplacar o nome de Zulu Araújo para a secretaria executiva da pasta, segundo a Folhapress, mas prevaleceu o nome do historiador Márcio Tavares, secretário nacional de Cultura do PT, defendido por Rosângela da Silva.

A revista semanal francesa L’Express dedicou uma reportagem sobre Janja. Ela foi apontada como alguém que teve um papel decisivo na vitória do petista e que deve continuar a ser ativa no novo governo. “Rosângela da Silva, a futura primeira-dama, não terá papel figurativo ao lado daquele que, aos 77 anos, permanece uma estrela da política“, escreveu a reportagem.

Primeiro-damismo

A conselheira nacional dos direitos das mulheres Nágyla Drumond afirma que Janja é uma figura jovem, com vigor e que já tem uma história de formação acadêmica e militância social, algo que pode modificar a imagem que do que é o primeiro-damismo no Brasil. Ela declara, ainda, que a primeira-dama será “testada”.

O primeiro desafio é ela se firmar como uma pessoa que pensa, como uma mulher altiva, que é companheira do maior líder que esse país já construiu. Acho que primeiro de tudo ela precisa, sim, firmar. Vai ser testada dia a dia, desde a roupa que ela está vestindo, o que ela disse para a imprensa, até o trabalho que ela vai despenhar no novo governo. E a posse vai ser o primeiro teste de fogo dela“, conclui.

Janja é a coordenadora do grupo que organiza a posse do presidente eleito e todos os detalhes da cerimônia de posse de Lula são acompanhados de perto por ela. Na quarta-feira, 21, Janja e uma equipe fizeram uma visita ao Congresso Nacional para conferir todo o roteiro do evento. A posse ocorrerá no dia 1º de janeiro.

Leia também: Governo Lula: mulheres ganham destaque no comando de seis ministérios

Lula e Janja torcem para a Seleção Brasileira em seu jogo de estreia na Copa do Mundo do Qatar. (Ricardo Stuckert)
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