Municípios na BR-319 tiveram aumento de 41% no desmatamento em 2021, aponta observatório

Trecho desmatado às margens da estrada (Gabriel Monteiro / Agência O Globo)
Marcela Leiros – Da Revista Cenarium

MANAUS – A área de influência da BR-319 registrou recordes de desmatamento e focos de calor em 2021. A situação acontece no momento em que o processo de licenciamento ambiental referente ao Trecho de Meio da rodovia avança rapidamente. Ano passado, houve aumento de 41% no desmatamento na região em relação a 2020.

O relatório “Retrospectiva 2021: desmatamento e focos de calor na área de influência da rodovia BR-319”, produzido pelo Observatório BR-319 (OBR-319), aponta que “o ano de 2021 foi um dos mais difíceis para a Amazônia, pois a devastação do bioma, em diversos sentidos, avançou a passos largos”. A pesquisadora de políticas públicas do Instituto de Conservação e Desenvolvimento Sustentável da Amazônia (Idesam) e do observatório, Paula Guarido, destaca os principais pontos do documento.

“Só em 2021, os municípios da BR-319, juntos, tiveram uma aumento de 41% no desmatamento e 9% nos focos de calor em comparação com os dado de 2020. Esses números são os mais altos desde 2010. Vale lembrar que as audiências públicas da BR-319 foram realizadas sem a apresentação do componente indígena para a população, isso porque esse componente ainda não estava pronto”, explica a pesquisadora.

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O conteúdo apresenta dados e análises que mostram que municípios que nunca registraram números expressivos, como Tapauá (AM), se destacaram no monitoramento. Além disso, chama a atenção o Estado do Amazonas, por onde passa a maior parte da rodovia, que vem se consolidando entre os que mais destroem a floresta na região.

O desmatamento e os focos de calor afetaram também as Áreas Protegidas na região da BR-319. A Reserva Extrativista (Resex) Jaci-Paraná e a Terra Indígena (TI) Karipuna, em Rondônia, apresentaram os maiores índices referentes ao desmatamento e focos de calor entre as Unidades de Conservação (UCs) e Terras Indígenas (TIs), respectivamente. A UC registrou 654 focos de queimadas e perdeu 7.818 ha para o desmatamento. A TI teve 81 focos e 1.091 ha desmatados.

“Foi também em 2021 que o Governo de Rondônia reduziu as áreas das unidades de conservação Resex Jaci-Paraná e Parque Estadual de Guajará-Mirim, na área de que fazia fronteira com a reserva indígena Karipuna. Nossos dados mostraram que as Resex e a Terra Indígena foram as áreas protegidas mais desmatadas e com maior número de focos de calor da área de influência da BR-319″, disse ela.

Perda de floresta

O relatório indica ainda que, para 11 dos 13 municípios monitorados pelo OBR-319, 2021 foi o período de maior desmatamento nos últimos 11 anos. Os seis municípios que tiveram maiores índices de desmatamento estão ao sul da BR-319: Lábrea, Porto Velho, Humaitá, Manicoré, Canutama e Tapauá. Juntos, representaram 94% do total desmatado nos municípios da BR-319 durante o ano. O município de Lábrea foi o destaque na lista de registros mensais, liderando o ranking nos meses de março, abril, maio, junho, agosto, setembro e outubro. Já Tapauá apresentou o maior aumento em comparação a 2020, com alta de 192%.

O aumento de registros de focos de calor também foi preocupante. Os 13 municípios da área de influência da BR-319 somaram mais de 10 mil focos durante 2021, um recorde para os últimos 12 anos e aumento de 9% em relação a 2020. Além disso, Lábrea e Tapauá registraram o maior número de focos de calor da série histórica.

Audiências públicas

O relatório destaca a realização de audiências públicas sobre a pavimentação do Trecho do Meio da BR-319, marcadas pela pouca participação de moradores de comunidades da rodovia e pela apresentação de estudos incompletos sobre o processo. Para a pesquisadora Paula Guarido, os resultados apresentados na retrospectiva não são compatíveis com os discursos do governo federal sobre a rodovia.

“Então isso mostra que no momento que os processos de licenciamento estão avançando em alta velocidade, os focos de calor, o desmatamento e ameaça aos povos tradicionais e seus territórios estão aumentando, e isso vem contra o que esta sendo pregado pelos governos federal e estadual, de que a BR-319 será um exemplo de estrada em relação às questões ambientais”, destacou a pesquisadora.

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