‘Não armazenamos vacina no Ibama’, afirma superintendente do órgão

Superintendente substituto do Ibama, Joel Araújo (Ricardo Oliveira/Revista Cenarium)
Ívina Garcia – Da Revista Cenarium

MANAUS – O superintendente substituto do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), Joel Araújo, desmentiu declarações de que o órgão estaria armazenando vacinas e medicamentos vencidos. A alegação foi dada durante uma manifestação da sociedade civil em apoio ao órgão na manhã desta terça-feira, 2.

O movimento organizado pela sociedade civil contou com a participação de biólogos, cientistas e pesquisadores, além de ex-funcionários do Ibama, e vai contra a disseminação de ódio que atingiu o órgão nos últimos dias, após a repercussão do “Caso Filó”, envolvendo a domesticação de uma capivara pelo influencer Agenor Tupinambá.

Leia também: ‘Abraço ao Ibama’: Manaus tem manifestação em apoio a órgão após caso da capivara Filó

Pesquisadores protestam em favor do Ibama, em Manaus (Ricardo Oliveira/Revista Cenarium)

Apoiadores do influencer, que defendem a permanência do animal com ele, estiveram na sede do órgão em duas ocasiões, na semana passada. Em uma delas, a deputada estadual Joana Darc, por meio da Comissão de Proteção dos Animais, Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável, da Assembleia Legislativa do Amazonas (Aleam), levou médicos veterinários e um biólogo, que emitiram um laudo afirmando que o Centro de Triagem de Animais Silvestres (Cetas) não possuía estruturas para manter a capivara e outros animais.

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Dentre as denúncias apresentadas pela deputada, a mesma afirma que “todos os remédios e vacinas” que encontrou no local estavam vencidos. Porém, Joel nega a existência dos materiais no local. “O animal silvestre não pode ser vacinado, não é como outras espécies domésticas, eles são tratados na medida do preparo do seu retorno e são devolvidos, não existe vacina para animais silvestres, e nós não armazenamos vacina no Ibama. Se eventualmente houvesse uma caixa de remédio a ser descartada, não teria problema nenhum, mas, com certeza, os nossos servidores trabalham com a máxima responsabilidade no cuidado com os animais silvestres“, afirmou.

Posso garantir que não existem remédios vencidos no Ibama. Nosso Cetas é simples, sim, mas é um Cetas digno, onde os animais são tratados com dignidade, onde os servidores se esforçam e dão o máximo de si para a manutenção de um espaço adequado para os animais que chegam aqui”, conta.

Superintendente substituto do Ibama, Joel Araújo (Ricardo Oliveira/Revista Cenarium)

Joel ressalta que apesar das dificuldades, o Cetas-AM é o único existente na capital. “O nosso Cetas é referência na Amazônia como um todo, nosso local é o único que recebe animais silvestres do Amazonas, em todo o tipo de situação, em resgate, acidente, maus-tratos, entrega voluntária, e a gente realiza a readaptação e a reintrodução dos animais após tratados”, diz.

Araújo assumiu a superintendência do órgão, em janeiro de 2023, após publicação da portaria assinada pela ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, e relata que recebeu o Ibama com vários problemas estruturais e de pessoal.

“Você vê que nossa sede está com vários problemas, tivemos, inclusive, uma área interditada, mas a gente está buscando a melhoria do prédio. A reforma foi garantida pelo presidente do Ibama [Rodrigo Agostinho], que esteve aqui e começamos o procedimento para fazer a reforma”, conta.

Insegurança

Entre as preocupações do superintendente, a segurança dos servidores tem sido prioridade. Isso porque, segundo os relatos, eles estão recebendo ameaças e sendo coagidos, por isso, Joel conta que já solicitou reforço na segurança.

A gente pretende tomar medidas que melhore as condições de segurança do órgão, já temos alguns projetos, como a reforma do Cetas, que está em vias de acontecer, […] recebemos o Ibama muito depredado, hoje temos apenas dois vigilantes por turno, o processo de enxugamento dos recursos do Ibama foi muito drástico, então estamos em processo de reestruturação dos recursos do Ibama, inclusive, os de segurança“, conta.

“Todos nós fomos colocados em risco, precisamos nos fortalecer e pedir ajuda dos movimentos sociais e todas as entidades que trabalham a pauta ambiental para podermos trabalhar juntos para se proteger e proteger os órgãos públicos e a sociedade”, avalia Joel, a respeito dos movimentos levantados contra o órgão.

Sociedade Civil organizou protesto em favor do Ibama (Ricardo Oliveira/Revista Cenarium)

Caso Filó

O superintendente também pontuou que o Caso Filó não está encerrado, ele afirma que já encaminhou documentos para a procuradoria do Ibama, em Brasília, na tentativa de reverter a decisão do juiz federal Márcio André Lopes Cavalcante, que entregou Filó aos cuidados de Agenor.

“Houve uma decisão judicial para a entrega do animal de cumprimento imediato ao Agenor e a gente de maneira alguma se opôs a essa entrega. Agora, o Ibama vai entrar com os devidos recursos de embargo para a revisão dessa decisão, mas isso não é a curto prazo, a procuradoria federal especializada está debruçada sobre esse caso, mas a partir de agora a gente vai rever esses atos na tentativa de revertê-los”, afirma.

Agenor Tupinambá e sua capivara Filó viraram tema de debate nas redes sociais a partir da ação do Ibama (Reprodução/Redes Sociais)

A reportagem da REVISTA CENARIUM questionou sobre o local onde a capivara estava abrigada, considerado insalubre e com “forte odor”. “A gente tem um centro de triagem, então nenhum animal fica aqui permanentemente, é um local de transição, assim que houvesse um local adequado para esse animal ser destinado, ele seria destinado, e o local adequado é a fauna silvestre, com outros da sua espécie”, respondeu.

Leia também: Biólogo responsável por laudo sobre capivara no Ibama é investigado por morte de outro animal

Capivara conhecida como “Filó”, em residência do tutor Agenor Tupinambá, em Autazes (Reprodução/ Redes Sociais)

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