‘Ninguém faz fiscalização efetiva’, lamenta Univaja sobre região onde indigenista e jornalista desapareceram na Amazônia

Yura Marubo chamou de tardio o início das buscas pelo ativista da Fundação Nacional do Índio (Funai) e o colaborador do 'The Guardian' (Bruno Pacheco/CENARIUM)
Bruno Pacheco – Da Revista Cenarium

MANAUS – O assessor jurídico da União dos Povos Indígenas do Vale do Javari (Univaja), Yura Marubo, disse nesta terça-feira, 7, que não há nenhuma fiscalização efetiva na região do Vale do Javari, no interior do Amazonas, onde o indigenista Bruno Pereira e o jornalista Dom Phillips desapareceram. Em entrevista coletiva, Yura chamou de tardio o início das buscas pelo ativista da Fundação Nacional do Índio (Funai) e o colaborador do ‘The Guardian’.

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“Não há interesse. Ninguém faz uma fiscalização efetiva. E não é algo pontual, mas que vem de longa data. Enquanto mais longe são as terras indígenas, maiores são os problemas, e a população não conhece, porque você não tem como chegar nesses lugares com a logística cara”, lamentou Yura Marubo.

Na entrevista, o assessor jurídico explicou que o lugar onde Bruno e Phillips desapareceram é extremamente isolado e afirmou que tem problemas severos que envolvem narcotraficantes, madeireiros, empresários, pescadores e mineradoras. Segundo Yura, esses invasores entram na Terra Indígena do Vale do Javari com a inércia das autoridades policiais e fiscalizadoras.

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“Nós não temos o poder de polícia instalado nesses lugares, o que facilita e recai aos povos indígenas, à organização indígena, o papel de fazer a fiscalização, o controle, a apreensão, a apresentação desses criminosos junto às autoridades. Ou seja, o papel desses lugares isolados está invertido. O Estado brasileiro não tem poder nesses locais, porque não está presente”, lamentou.

Yura reafirma que o Vale do Javari não é terra para amadores e que, por esse motivo, apenas profissionais com grande conhecimento da região trabalham no local e são destinados a ficarem nesses lugares. Segundo Maruba, os problemas na terra indígena vêm acontecendo há, aproximadamente, quatro décadas e as violações contra as populações tradicionais não são levadas a sério.

“O Vale do Javari está centrado e é conhecido, mundialmente, como a segunda maior terra indígena do Brasil, em que tem a maior população de isolados do mundo. É uma área fronteiriça com o Peru e esse problema aconteceu em águas internacionais. É muito sensível a questão indígena do Vale do Javari, nos preocupa”, ponderou.

‘Perda de contato’

Segundo o assessor, a Univaja trata o desaparecimento, até o momento, como uma ‘perda de contato’, pois Bruno Pereira conhecia, como poucos, a Terra Indígena do Vale do Javari. “Desconhecimento de área está descartado. Bruno era exímio conhecedor, tanto da caminhada em mata quanto em barco, por ter trabalhado muito tempo, também, com os povos indígenas isolados do Vale do Javari”, frisou.

Na coletiva, Yura Marubo descreveu como o ativista e o jornalista desapareçam e destacou que, assim que a Univaja percebeu o sumiço de Bruno e Phillips, uma equipe da organização foi enviada para fazer a busca ativa deles. Sem sucesso, a instituição buscou pelas autoridades policiais competentes e de fiscalização para que ajudassem na procura.

Yura Marubo critica retorno tardio das autoridades sobre procura por desaparecidos (Bruno Pacheco/CENARIUM)

“A instituição fez o papel dela em comunicar. Todavia, o retorno foi tardio. E mesmo não esperando nenhuma ação, tanto do governo federal quanto do Governo do Estado, [a Univaja] tomou as medidas cabíveis para procurar, por conta própria, a pessoa de Bruno Pereira e Dom Phillips”, frisou Marubo.

“Após sair na mídia internacional o desaparecimento do jornalista inglês é que as autoridades começaram a tomar conta da dinâmica e do problema que estava acontecendo. Foram forçados, justamente, para fazer a busca ativa por completo”, continuou o assessor.

Ainda segundo o assessor, cerca de 60 pessoas trabalham nas buscas pelos desaparecidos, em um espaço de 200 quilômetros, onde houve a última comunicação com Bruno e Phillips, até o município de Atalaia do Norte. Na equipe que atua na região, segundo o assessor jurídico, há dois grupos de 20 pessoas da instituição indígena.

Relembre

O caso aconteceu no domingo, 5, quando Bruno Pereira e Dom Phillips faziam o trajeto entre a comunidade ribeirinha São Rafael até a cidade de Atalaia do Norte. O indigenista já era constantemente ameaçado por sua atuação contra invasores na região: pescadores, garimpeiros e madeireiros. Já o jornalista, apaixonado pelo Brasil, era conhecido por reportagens denunciando as violações dos direitos indígenas e vinha trabalhando em um livro sobre meio ambiente.

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