Rio Negro estabiliza no menor nível em 121 anos

Tomada de drone da seca do Rio Negro no Porto do Cacau Pirêra, em Iranduba no Estado do Amazonas. (Ricardo Oliveira/Revista Cenarium)
Yana Lima – Da Revista Cenarium Amazônia

MANAUS – Apesar das chuvas registradas nos últimos dias no Amazonas, o Rio Negro continuou baixando, após ter atingido o menor nível em 121 anos. Nessa quinta-feira, 26, ele atingiu novo recorde histórico, com 12,70 metros no Porto de Manaus, e se manteve estável nesta sexta-feira, 27.

O ritmo da vazante vem diminuindo no Rio Negro nos últimos dias. Desde o dia 20, o rio vinha baixando 10 centímetros por dia. Na quarta-feira, 25, a vazante caiu para 6 centímetros. Na quinta-feira, baixou apenas 3 centímetros até que nesta sexta, ele estabilizou.

O nível do rio está ligado ao rio Solimões, que começou a subir em Tabatinga e em Santo Antônio do Içá, no Sudoeste do Amazonas, assim como outros rios da bacia. No entanto, segundo o Serviço Geológico do Brasil (SGB), os níveis registrados no Solimões ainda são baixos para o período.

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Segundo o SGB, à medida que o nível do Solimões estabilize, o Rio Negro deve começar a subir, o que deve ocorrer nos próximos dez dias. Em 2010, maior seca da história, o nível do Rio Negro atingiu seu ponto mínimo no dia 24 de outubro.

Chuvas registradas nos últimos 3 dias ainda não foram suficientes para que o Rio Negro comece a subir (Foto: Reprodução/Inmet)
Vazantes

Conforme boletim agroclimático do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) de outubro, na Região Norte, as vazões continuam em recessão nos rios tributários do Rio Amazonas, atingindo situação de seca em diversos pontos e com impactos sobre a navegação já reportados em pontos dos rios Purus, Juruá, Madeira, Solimões e Negro.

As vazões naturais no rio Madeira, em Porto Velho, capital de Rondônia, apresentam valores 51% abaixo da média para o mês (era 35% no último boletim), e no rio Xingú, 23% abaixo da média para o mês. O nível d’água em Porto Velho atingiu o mais baixo valor já registrado desde 1967, levando a Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico (ANA) a declarar situação crítica de escassez hídrica.

O armazenamento nos reservatórios do Sistema Interligado Nacional teve pequena redução e atingiu 68,4%. A Praticagem dos Rios Ocidentais da Amazônia (Proa), no entanto, já aponta para a leve subida em rios menores da bacia Amazônica.

Fonte: PROA
El Niño

Conforme mostrou a REVISTA CENARIUM AMAZÔNIA, a seca fora do comum nos rios da Amazônia tem relação com o fenômeno El Niño e o aquecimento do Atlântico Norte, tornando a situação ainda mais crítica. Foram confirmadas as previsões da Defesa Civil e do SGB de que o ápice da estiagem ocorreria na segunda quinzena de outubro.

À reportagem, o meteorologista do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa) Renato Senna apontou que mesmo com as chuvas registradas nos últimos dias na capital amazonense, o período chuvoso ainda não chegou oficialmente. A previsão é que as chuvas se intensifiquem somente no fim deste mês.

“O rio deve permanecer ainda baixando por mais alguns dias, pois, será necessário que as chuvas ocorram com maior frequência, principalmente nas principais bacias formadoras dos Rios Negro e Solimões”, explicou.

Dragagem

Além de causar ainda a mortandade de peixes e comprometer a pesca para subsistência, a diminuição do nível dos rios coloca em risco a qualidade da água potável em várias cidades e dificulta a navegação.

Empresários do setor de comércio, transporte e logística expressaram séria preocupação com a iminência do desabastecimento na região, a menos que medidas sejam tomadas imediatamente para enfrentar a crise de navegação provocada pela seca recorde.

Para reduzir os impactos econômicos, o Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit) começou, na segunda-feira, 23, a dragar um trecho do Rio Amazonas conhecido como Costa do Tabocal, próximo ao município de Itacoatiara, que fica a cerca de 270 km de Manaus.  

Dragagem é realizada pelo governo federal (Foto: Divulgação/Dnit)

Conforme boletim emitido pelo Governo do Estado nessa quinta-feira, 26, 60 dos 62 municípios amazonenses estão em situação de emergência e dois estão em alerta. São mais de 608 mil pessoas impactadas por esta estiagem, que já é considerada a maior seca da história do Estado. 

Confira o comportamento dos principais rios da Amazônia

Bacia do Rio Solimões: Na semana atual, o Rio Solimões em Tabatinga continua a subir, com uma média diária de elevação de cerca de 25 centímetros. No entanto, em Itapéua e Manacapuru, o rio está em processo de descida, com uma recessão média diária de 7 centímetros. Os níveis registrados no Solimões estão consideravelmente abaixo do esperado para este período.

Rio Branco, em Boa Vista, Roraima, enfrenta seca histórica (Alex Barroso/Reprodução)

Bacia do Rio Branco: Durante esta semana, o Rio Branco subiu em Boa Vista e Caracaraí, embora os níveis nessas estações ainda sejam considerados baixos para o período. No entanto, houve alguma recuperação nos últimos registros.

Bacia do Rio Negro: Nas últimas medições, o Rio Negro voltou a subir em São Gabriel da Cachoeira, Tapuruquara e Barcelos. Em contrapartida, em Manaus, o Rio Negro continua em recessão, apresentando uma descida média diária de 10 centímetros e registrando níveis considerados muito baixos para o período.

Bacia do Rio Purus: No Acre, o Rio Branco apresentou oscilações ao longo da semana. Já em Beruri, o Purus segue em processo de descida, com uma média diária de recessão de 10 centímetros.

Bacia do Rio Madeira: O Rio Madeira demonstrou uma recuperação constante de seu nível ao longo da semana, com pequenas subidas em Porto Velho e uma elevação média diária de 16 centímetros em Humaitá.

Bacia do Rio Amazonas: As estações monitoradas ao longo do Rio Amazonas, como Careiro da Várzea, Itacoatiara, Parintins, Óbidos, Almerim e Santarém, registraram níveis mínimos ao longo da semana, sendo os mais baixos já registrados nas séries históricas de monitoramento para este período. Isso indica níveis muito baixos para a estação.

Fonte: SGB – CPRM
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