No Amazonas, reintegração de posse deixa 500 famílias desabrigadas na comunidade Itapuranga

Na decisão judicial, obtida pela REVISTA CENARIUM, uma empresa de construção solicitou a retomada do terreno (Ricardo Oliveira/Revista Cenarium)
Ívina Garcia – Da Revista Cenarium

MANAUS – Aproximadamente, 500 famílias da comunidade Itapuranga, localizada na Avenida Torquato Tapajós, próxima ao Igarapé da Bolívia, zona Norte, ficaram desabrigadas nesta terça-feira, 6, depois de uma reintegração de posse realizada pela Polícia Militar (PM) e pela Prefeitura de Manaus.

Na decisão judicial, obtida pela reportagem da REVISTA CENARIUM, uma empresa de construção solicitou a retomada do terreno. O juiz Victor André Liuzzi Gomes deu o prazo de 48 horas para que os residentes saíssem voluntariamente do local.

Reintegração de posse deixa 500 famílias desabrigadas em Manaus (Ricardo Oliveira/Revista Cenarium)

Alguns moradores conversaram com a reportagem e afirmaram não ter recebido a notificação para saída voluntária. Eles disseram que as assinaturas de moradores no documento não são verdadeiras e relataram que os policiais agiram agressivamente e chamaram os moradores de “vagabundos”.

PUBLICIDADE

No documento tem o nome de 12 pessoas, mas eles não assinaram isso… De estar ciente da reintegração. Ninguém assinou“, afirma um dos moradores que não quis ter o nome divulgado. “Isso aí foi forjado!“, grita outro. “Eles têm que comprovar essa assinatura, é ilegal isso, forjar assinatura“, reforçou outro morador que também preferiu não se identificar.

Eles ainda contaram que o início da ação de retirada das famílias foi truculenta por parte dos policiais. “Eles entraram e deram o prazo da gente tirar as coisas em 30 minutos, só que nesse tempo eles já foram invadindo e quebrando tudo, nesse corre-corre acabaram batendo uns moradores e teve gente que ficou machucada“, afirmou o homem entrevistado pela reportagem.

Moradores tentam recuperar bens durante ação (Ricardo Oliveira/Revista Cenarium)

O indígena foi espancado, ele saiu sangrando, isso não é coisa que aconteça, porque aqui somos pessoas dignas, ninguém aqui é ladrão“, protestou uma das moradoras da comunidade Itapuranga, que afirmou que as máquinas começaram a trabalhar quando ainda havia pessoas nas residências.

Ao longo do terreno, pessoas tentavam salvar o que podiam. Membros da mesma família escavavam os escombros buscando madeiras, ripas e materiais para tentar construir as casas em outro lugar. “Isso aqui foi o que restou para gente, né”.

Escombros após ação de reintegração de posse (Ívina Garcia/Revista Cenarium)

Conforme os moradores, algumas famílias ocupam o local há dois anos, outras chegaram a poucos meses e os barracos eram na maioria improvisados com buracos no chão para os banheiros e chapas de MDF para as paredes.

Policiais do Batalhão de Choque faziam a contenção, impedindo que os moradores trafegassem por onde as máquinas trabalhavam. Em alguns trechos havia fogo no terreno, o que poderia causar risco para quem tentasse voltar ao local. “E para onde nós vamos agora?“, perguntou um dos moradores.

Invasões

Recorrentes em Manaus, as invasões são responsáveis pela criação de grande parte dos bairros já reconhecidos e cadastrados na cidade. Tendo como característica a ocupação de terrenos públicos e privados, as ocupações causam riscos ao tecido urbano, principalmente quando conduzidas próximas a áreas de preservação.

Reintegração de posse em Manaus (Ricardo Oliveira/Revista Cenarium)

Em julho deste ano, o Ministério Público do Amazonas (MPAM) realizou uma ação de fiscalização e constatou o crescimento de invasões em Manaus. À época, os dados não foram divulgados pelo órgão, porém o Ministério realizou levantamento dos focos e realizou reuniões com responsáveis para buscar soluções que encerrem o problema das invasões e ocupações em áreas verdes.

PUBLICIDADE

O que você achou deste conteúdo?

Compartilhe:

Comentários

Os comentários são de responsabilidade exclusiva de seus autores e não representam a opinião deste site. Se achar algo que viole os termos de uso, denuncie. Leia as perguntas mais frequentes para saber o que é impróprio ou ilegal.