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No Dia Nacional da Liberdade de Imprensa, sociedade cobra notícias sobre jornalista e indigenista desaparecidos no AM
A falta de informações sobre a localização da dupla chamou atenção de profissionais e veículos de comunicação nacionais e internacionais (Reprodução)
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07 de junho de 2022
Ingred Maeve – Especial para Revista Cenarium
MANAUS – No Dia Nacional da Liberdade de Imprensa, o Brasil e o mundo continuam sem notícias do jornalista Dom Phillips e do indigenista Bruno Araújo Pereira, desaparecidos há mais de 48 horas na Amazônia. Dom é correspondente do ‘The Guardian’ e estava no exercício de sua profissão quando desapareceu. A falta de informações sobre a localização da dupla chamou atenção de profissionais e veículos de comunicação nacionais e internacionais.
Durante esta terça-feira, 7, o assunto foi um dos mais comentados nos principais veículos de comunicação do mundo, nas redes sociais e entre órgãos e entidades que cobraram respostas das autoridades, destacando não ser o primeiro caso de desaparecimento de jornalistas no Brasil.
A Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji) é uma dentre as 11 organizações que solicitaram audiência urgente com o governo federal para discutir o andamento das buscas pelo jornalista e o indigenista que desapareceram na região do Vale do Javari, no Amazonas.
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No Senado, o presidente da Comissão de Direitos Humanos (CDH), senador Humberto Costa, também solicitou apuração das denúncias de ameaças que o indigenista Bruno Araújo estava recebendo em consequência do seu trabalho com líderes comunitários nas comunidades do município de Atalaia do Norte (AM).
Medidas urgentes
Na Câmara dos Deputados o assunto também foi pauta, o deputado Ney Leprevost (União-PR) anunciou na sessão desta terça-feira, 7, o envio de ofício ao Ministério da Justiça para pedir a concentração de esforços nas buscas. Leprevost presidiu a sessão solene pelo Dia Nacional da Liberdade de Imprensa.
Para ele, o Congresso precisa aprovar regras que responsabilizem quem produz e dissemina notícias falsas, pois os jornalistas profissionais já podem ser punidos quando atuam dessa forma. E citou o prejuízo causado pela desinformação durante a pandemia de Covid-19: “Muitas mentiras circularam na internet e muitas pessoas de bem, pessoas boas, pessoas íntegras acreditaram nessas mentiras”.
Ainda na sessão, o presidente da Associação Brasileira de Imprensa, Octávio Costa, disse que a entidade vai estar atenta às ameaças aos jornalistas neste ano eleitoral. Ele lembrou que o Brasil está em 110° lugar no ranking de Liberdade de Imprensa da organização Repórteres Sem Fronteiras, lista que reúne 180 países.
“Nós não vamos calar, nós não vamos deixar de exercer a nossa missão de informar a sociedade. Como disse a ministra [STF] Cármen Lúcia, o cala-boca já morreu”, disse.
Para a presidente da Associação Brasileira de Comunicação Pública, Cláudia Lemos, não há democracia sem jornalismo. Ela defendeu a aprovação do projeto que trata do conceito e das diretrizes da comunicação, em órgãos públicos, nas três esferas de governo (PL 1202/22).
Aventura não recomendável
Por outro lado, em coletiva de imprensa, o presidente Jair Bolsonaro classificou como “aventura não recomendável” o trabalho jornalístico que o correspondente do “The Guardian” estava desenvolvendo na Amazônia desde que mudou para o Brasil, em 2007.
Segundo um colega de trabalho, além das reportagens para o jornal onde trabalha, Dom também estava escrevendo um livro sobre a Floresta Amazônica e sua autossustentabilidade quanto às chuvas. O material tem apoio da Fundação Alicia Patterson, sediada na Bahia, onde o jornalista mora.
A jornalista e mestre em Ciências Políticas, Liege Albuquerque, comentou com tristeza a falta de segurança e respeito com a imprensa e cobrou ação do presidente da República. “É um absurdo o presidente Bolsonaro chamar de “aventura” o jornalismo investigativo, trabalho jornalístico que o Dom estava desenvolvendo na região do Javari”, disse
“O governo federal tem que demonstrar respeito à imprensa ao invés de instigar a população a xingar os jornalistas, pois, servimos a sociedade com informação e precisamos de segurança e liberdade no nosso trabalho”, acrescentou a jornalista.
O presidente do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Amazonas, Wilson Reis, também criticou a falta de proteção aos órgãos públicos e grupos de repressão às atividades ilegais nas fronteiras do País. “Faz-se necessário a cobrança às autoridades, dos governos federal e estadual, para a garantia ao trabalho da imprensa e de pesquisadores na Amazônia”, disse.
“É preciso pôr um fim à política de desmonte dos órgãos públicos de fiscalização e de repressão às atividades ilegais nas fronteiras do País, como a Funai e a Polícia Federal. Além, é claro, de garantir a proteção dos grupos indígenas e ribeirinhos que, atualmente, estão sendo ameaçados por grileiros de terras, garimpos ilegais e o narcotráfico em toda a região da Amazônia brasileira”, completou Reis.
Equipe ameaçada
De acordo com o coordenador da Associação do Vale do Javari, Paulo Dollis, a equipe de vigilância da Univaja foi ameaçada no sábado, 4, quando fazia inspeção ao lado do indigenista Bruno Pereira e do jornalista Dom Phillips. Ainda de acordo com Dollis, o jornalista conseguiu registrar o momento em que homens armados ameaçam a equipe e o indigenista na região do município de Atalaia do Norte. “No domingo que o Bruno retornaria para a cidade foi quando acabou acontecendo o desaparecimento”, destacou.
Dom Phillips é jornalista investigativo e já escreveu artigos para The New York Times, Intercept, Financial Times, Washington Post, The Guardian, entre outros. As buscas por Bruno e Dom continuam, mas até o momento da publicação desta matéria ainda não haviam notícias do paradeiro de ambos.
Sobre a data
Comemorada, mundialmente, no dia 3 de maio, a liberdade de imprensa foi instituída pela Organização das Nações Unidas (ONU), em dezembro de 1993, por decisão da Assembleia Geral. No Brasil, desde 1977, o dia 7 de junho foi escolhido para celebrar a data.
A data marca um manifesto pela liberdade de imprensa assinado por cerca de três mil jornalistas, em plena ditadura, durante o governo do general Ernesto Geisel. Um ano e meio antes, em 1975, o jornalista Wladimir Herzog tinha sido executado numa das celas do Departamento de Ordem Política e Social (DOPS) de São Paulo.
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