No Dia Nacional da Imprensa, presidente da ABI destaca avanços e desafios: ‘Data de festa, mas traz grande preocupação’

A data foi instituída por meio da Lei N° 9.831, de 13 de setembro de 1999 (Reprodução/Internet)
Marcela Leiros – Da Revista Cenarium

MANAUS – “A data é, historicamente, de festa, porque exalta o nosso trabalho, o trabalho da imprensa. Não há democracia sem o trabalho da imprensa”. A declaração foi dada à CENARIUM pelo jornalista e presidente da Associação Brasileira de Imprensa (ABI), Octávio Costa, nesta quarta-feira, 1°, data em que é celebrado o Dia Nacional da Imprensa. O jornalista relembra que o clima é de apreensão e preocupação pelas eleições que estão por vir, e dos ataques sofridos por jornalistas.

A data foi instituída por meio da Lei N° 9.831, de 13 de setembro de 1999, escolhida por ser a mesma quando começou a circular o jornal Correio Braziliense, em 1808. Fundado por Hipólito José da Costa, em Londres, o periódico expressava críticas ao governo de Dom João, no Brasil, e pretendia ser livre da censura imposta pela coroa portuguesa.

“São duas coisas que correm juntas, a democracia e a liberdade de imprensa e de expressão. Como é uma data que lembra a criação do primeiro jornal brasileiro, em Londres, representa a todos nós jornalistas. A nossa atividade tem que ser recebida com exaltação e festa, sim. Nós somos a correia de transmissão para todos os anseios do povo brasileiro. O jornalismo é vital para a democracia, e a imprensa também”, disse ele à CENARIUM.

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Ataques à imprensa

O presidente da ABI lembra, ainda, que a imprensa, neste ano, está muito apreensiva e preocupada com o que está por vir. O principal motivo? Os ataques feitos contra a democracia e profissionais da área. E a tendência, segundo ele, é piorar.

“Esse ano, especialmente, é de muita apreensão para nós jornalistas, porque a gente tem uma eleição pela frente, e um presidente [Jair Bolsonaro] que já tem lançado dúvidas e ataques ao TSE [Tribunal Superior Eleitoral], pondo em dúvida as urnas eletrônicas, o que é muito grave, que traz muita preocupação. Além disso, ele também ameaça não acatar o resultado das eleições. Seguidores dele falam em repetir o que aconteceu, nos Estados Unidos, em 6 de janeiro do ano passado, quando o Capitólio foi invadido. Eu acho que todas as forças democratas do Brasil estão muito preocupadas com isso”, explicou.

“E um alvo desses grupos radicais são, exatamente, os jornalistas no seu trabalho. Nós já vimos equipes de jornalistas sendo atacadas na rua; nada justifica. O que justifica é um presidente da República que incita seus seguidores contra a imprensa, que incita grupos radicais contra os nossos trabalhos. É evidente que isso vai radicalizar, na medida em que a campanha eleitoral vai chegar às ruas, que vai se aproximar a eleição, que virá o resultado dela. Alguns já receberam até ameaça de morte, como é o caso de Jamil Chade, em Genebra. Isso é inadmissível num regime democrático. Então, realmente, é uma data de festa para nós jornalistas, mas em um ano que nos traz grande preocupação e apreensão”, declara.

Agressões na Amazônia

O Relatório da Violência contra Jornalistas e Liberdade de Imprensa – 2021, publicado, anualmente, pela Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj), indicou que o número de agressões a jornalistas e a veículos de comunicação, no ano passado, foi maior pelo segundo ano consecutivo, desde que a série histórica começou a ser feita na década de 1990. Foram 430 casos, dois a mais que os 428 registrados em 2020. O Estado do Pará concentrou a maioria dos casos de violência contra jornalistas, na Amazônia, em 2021, com oito registros.

Leia também: Liberdade de Imprensa: jornalistas falam sobre a importância da data; ‘fundamental para a manutenção da democracia’

O presidente do Sindicato dos Jornalistas do Estado do Pará (Sinjor-PA), Vito Gemaque, reforçou que o cenário que se desenrola para as eleições preocupa. Ele analisa que os profissionais da Região Norte e da Amazônia, principalmente, nas cidades do interior, vão ter que enfrentar uma particularidade dessas regiões: um tipo de fanatismo que aflora os ânimos e pode transformar as eleições em um campo de guerra.

“Eu acredito que a gente tem uma realidade muito particular e muito preocupante, onde o estado democrático está muito afastado, as instituições civis são muito fracas e a aproximação dos poderes é muito forte. Por exemplo, você ser vereador, no interior, prefeito, juiz ou promotor, lhe confere um poder muito grande, porque, geralmente, essas pessoas também têm relações com empresários e latifundiários. Imagina o jornalista publicar uma notícia que não agrada a algum deles, essa pessoa começa a sofrer perseguição não só econômica ou virtual, mas perseguição, também, de ameaças e de violência física”, explica ele.

“No interior, eu já vi isso, uma rádio ter dificuldade em organizar um debate entre os candidatos, ou entrevista, porque apoiadores de um determinado político achavam que a rádio estava favorecendo o adversário. Teve um momento em que o locutor divulgou informações que eram verdadeiras, mas que eram prejudiciais para uma campanha, e o público queria invadir e quebrar tudo na rádio. Quem vai acompanhar as eleições, no interior, precisa redobrar os cuidados”, disse ele.

Mudanças

Sobre as mudanças na imprensa, ao longo dos anos, e as perspectivas para o futuro, Octávio Costa acrescenta que o jornal de papel, impresso, está ficando cada vez mais limitado, enquanto a comunicação e o jornalismo, feito por meio da internet, e até das redes sociais, têm conquistado cada vez mais espaço.

“De um lado tem uma coisa que nos preocupa porque o papel, o jornalismo impresso, vai se limitando e com isso vários órgãos deixarão de existir. E isso trouxe um panorama difícil na questão do emprego para nós jornalistas. Mas, do outro lado você tem o avanço das redes sociais, são blogs, sites, isso tudo permite também um outro tipo de jornalismo. No País, e nessa área, a gente tem avançado muito”, explicou.

Referente ao que ainda precisa ser mudado, Costa lembra que é necessário consolidar a democratização dos meios de comunicação.

“A nossa Constituição prevê a proibição para monopólios e oligopólios na área, e ao mesmo tempo ela fala da democratização do meio de comunicação. Se a gente pensa nessas duas coisas unidas, é lógico que tem muito o que avançar nessa estrutura. Na rádio e na TV, o que você tem é a propriedade de famílias e políticos, e isso tem que ser revisto. E, para rever isso, é preciso uma lei, a Lei dos Meios de Comunicação”, conclui ele.

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