No Maranhão, futura universidade indígena inaugura centro de saber tradicional

Descerramento de placa do Centro de Saberes Tenetehar (CST) com a presença de, da esquerda para a direita, Albertino Leal (Sebrae), Sérvio Túlio (Equatorial Energia), a ministra dos Povos Indígenas, Sonia Guajajara, o governador Carlos Brandão, Fabiana e Silvio Guajajara, e Carlos Schmidt (Divulgação/Assessoria)
Da Revista Cenarium Amazônia*

SÃO LUIZ (MA) – O canto e a dança indígenas entoaram as boas-vindas, calorosas e alegres, aos convidados da inauguração do Centro de Saberes Tenetehar (CST) – primeiro passo para a instalação de uma universidade indígena em território Arariboia – na manhã de quarta-feira, 11, na cidade de Amarante do Maranhão, próximo à Lagoa Quieta. A cerimônia – promovida pelo Instituto Tukán, organização não governamental sem fins lucrativos – contou com as presenças da ministra dos Povos Indígenas, Sonia Guajajara, governador Carlos Brandão, representantes das empresas Equatorial Energia e Fribal, patrocinadoras desta etapa inicial, por meio da Lei de Incentivo à Cultura do Estado do Maranhão, autoridades, parceiros, imprensa, povos indígenas e sociedade em geral.

A cerimônia de inauguração do Centro de Saberes Tenetehar (CST) (Divulgação/Assessoria)

A multidão, entusiasmada, acompanhou a comitiva de autoridades em um tour pela primeira sala do CST – que teve placas descerradas, assim como a placa do refeitório; em seguida, foram ao local da exposição “Ritos Tenetehar” dos renomados fotógrafos Taciano Brito e Meireles Jr., e das biojoias indígenas. Logo após, foram para o espaço onde ocorreu a abertura oficial do evento, com a performance da atriz Aurea Maranhão sob o tema da preservação ambiental. Nesta ocasião, a diretora-executiva do Instituto Tukán, a ativista e pedagoga Fabiana Guajajara, afirmou ser possível promover políticas públicas com a união intersetorial. “Aqui, temos várias esferas de governo e também instituições públicas e privadas. Assim, vamos conseguir construir o que era apenas um sonho e, hoje, começa a ser realidade a partir dessa parceria, com pessoas que compreenderam o projeto e que acreditaram nele”.

Responsáveis pela instalação da universidade indígena em território Arariboia, no Maranhão (Divulgação/Assessoria)

O presidente do Instituto Tukán e idealizador do CST, Silvio Guajajara, revelou que decidiu escrever esse projeto quando recebeu o diagnóstico de câncer. “Uma universidade indígena, implantada em uma terra indígena. Começa uma grande retomada da educação indígena. Esse é um sonho de muitas lideranças da terra indígena que nasceu há 18 anos, relembrou, emocionado, anunciando o vídeo institucional que, segundo ele, traduz a dimensão da futura universidade, que causou um grande impacto no público.
Em seguida, em sua fala, a ministra Sonia Guajajara frisou a emergência climática vivida pelo Brasil e o mundo e o papel de seu povo nesse contexto. “É importante a proteção das culturas dos novos indígenas, dos modos de vida dos territórios, não só como um benefício ou favor para os povos indígenas, mas como uma defesa da sua própria vida. Nós somamos apenas 5% da população mundial, mas 82% da biodiversidade preservada no mundo estão dentro dos territórios indígenas”, apontou.

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O governador do Estado do Maranhão, Carlos Brandão, e a ministra dos Povos Indígenas, Sonia Guajajara (Divulgação/Assessoria)

O governador do Estado, Carlos Brandão, afirmou que decidiu investir no projeto, logo após ter sido apresentado a ele. “Estamos dando o exemplo, não só para o Maranhão, mas para o Brasil e para o mundo, que é possível ter uma universidade em uma aldeia indígena, o Centro de Saberes Tenetehar”, declarou. Logo após, foi assinada uma celebração de cooperação entre o Instituto Tukán, responsável pelo Centro de Saberes, com a Universidade Estadual da Região Tocantina do Maranhão (UemaSul) e o Instituto Estadual de Educação, Ciência e Tecnologia do Maranhão (Iema). As parcerias vão permitir a oferta de diversos cursos na unidade.
Sérvio Túlio, presidente da Equatorial Energia no Maranhão, explicou que o patrocínio faz parte da diretriz assinada entre a empresa e a ONU em prol da educação.

Menina indígena no colo do governador do Maranhão, Carlos Brandão (Divulgação/Assessoria)

“Esse é mais um exemplo de que é possível investir em educação, com projetos associados ao Governo do Estado e ao Ministério dos Povos Indígenas. A gente está com a certeza de que aqui será um exemplo de universidade do saber”, ressaltou. O diretor de Marketing da Fribal, Carlos
Schmidt, afirmou que a empresa quis estender ao CST o patrocínio já direcionado ao livro “Ritos Tenetehar – A Cultura Ancestral de um Povo”. “Aquilo que era, inicialmente, uma semente de um livro para registrar as imagens para a posteridade se tornou algo que vai registrar também a cultura e o desenvolvimento das gerações.
Então, para nós, é uma honra chegarmos até aqui pelas mãos dessas pessoas que estão sustentando todo esse projeto; e, com certeza, continuaremos dando apoio aos novos passos dessa estrada que tem ainda pela frente até o sonho se tornar uma realidade de fato”, assegurou.

O governador do Maranhão, Carlos Brandão, e a ministra dos Povos Indígenas, Sonia Guajajara, admiram obra da exposição ‘Ritos Tenetehar’ (Divulgação/Assessoria)

Albertino Leal, diretor-superintendente do Sebrae, entidade parceira do Centro, que já está realizando ações no local – disse que novas capacitações estão por vir.
“Nós vamos trazer a capacitação em várias áreas em que nós atuamos. Podemos trazer cursos de gastronomia, turismo rural, melhorar as pequenas hortas comunitárias, familiares, artesanato, saberes de inovação. Estamos ouvindo os indígenas para saber quais são as vocações deles e vendo o que podemos construir juntos”, garantiu.
Dorilene Guajajara, indígena do território, fez o curso do Sebrae Grajaú, “Empreendedorismo no Campo”, e aprovou. “Nós, indígenas, mexemos muito com artesanato. Eu sou asteca, achei importante aprender a vender os produtos no mercado”.

Mulher no local da exposição ‘Ritos Tenetehar’ dos renomados fotógrafos Taciano Brito e Meireles Jr. (Divulgação/Assessoria)

Jacirene Ribeiro Guajajara, presidente da Coordenação e Organização dos Caciques e Lideranças
Indígenas do Território Arariboia (Cocalitia), entregou uma carta elaborada pelas lideranças e caciques indígenas de diversas aldeias do território, com as demandas do seu povo, à ministra Sonia Guajajara, ao governador Carlos Brandão e aos prefeitos municipais de Amarante do Maranhão e Grajaú, presentes no evento. Ela manifestou o que a comunidade indígena está achando da chegada do Centro de Saberes Tenetehar. “É uma oportunidade que estamos tendo. E que esse primeiro passo para ter uma universidade em território Arariboia venha fortalecer a nossa cultura e trazer as políticas públicas para os povos indígenas”.
Ao final da solenidade, o público almoçou e ainda conferiu o pocket show da talentosa cantora Flávia Bittencourt e uma demonstração da cultura indígena local, com apresentação cultural do povo Tenetehar.

Leia mais: Relatório aponta que ditadura militar contribuiu para genocídio dos povos tradicionais
(*) Com informações da assessoria
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