No Pará, eventos discutem desenvolvimento da bioeconomia na Amazônia

Povos indígenas e tradicionais querem ser ouvidos também na bioeconomia (Sikupti Xerente/Coiab)
Cassandra Castro – Da Cenarium

Brasília O Pará recebe nesta semana dois eventos distintos, mas que abordam o mesmo tema sob óticas distintas. O primeiro – cuja abertura foi oficializada pelo governador do Pará, Helder Barbalho, é o Fórum Mundial de Bioeconomia, sediado pela primeira vez fora da Europa. O segundo, com o objetivo de representar um contraponto ao encontro internacional, é o Encontro Amazônico da Sociobiodiversidade, que contará com a participação de mais de 100 lideranças amazônicas que não foram convidadas a participarem do Fórum.

O Encontro Amazônico é organizado pelo Conselho Nacional dos Seringueiros (CNS), a Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira (Coiab) e outras organizações de povos e comunidades tradicionais. Durante três dias, esses representantes irão discutir sobre a bioeconomia enquanto solução para o desenvolvimento da Amazônia.

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Os eventos acontecem de 18 a 20 de outubro. Sem terem sua participação integrada à construção e realização do Fórum Mundial, os movimentos sociais entendem que a discussão pública não pode avançar sem sua atuação e envolvimento. Por isso realizam o evento paralelo.

Governador Helder Barbalho abre o Fórum Mundial de Bioeconomia, que será realizado pela primeira vez fora da Europa (Reprodução/Agência Pará)

Abertura com falas contundentes

A vice-coordenadora da Federação dos Povos Indígenas do Estado do Pará (Fepipa), Alessandra Korap, foi enfática durante sua explanação na abertura do encontro que acontece em Belém, capital do Estado. Para ela, a bioeconomia, da forma como vem sendo apresentada, pode ser mais uma ameaça à vida dos povos indígenas.

“Já chega das empresas tomarem territórios, já chega de bancos internacionais financiarem projeto que vem para nos matar. Não queremos mais nenhum projeto que venha de cima para baixo, todo projeto que vem de cima para baixo é morte”, disse a liderança.

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Alessandra Korap firmou posição contra ameaças ambientais e econômicas aos povos indígenas (Sikupti Xerente/Coiab)

Para o assessor político da Coiab, Toya Manchineri, é fundamental o respeito ao protagonismo dos povos indígenas e populações tradicionais dentro do contexto da bioeconomia.

“Nós, povos indígenas e populações tradicionais, já promovemos a sociobiodiversidade há milênios, por intermédio de nossa relação com a floresta e com nossos territórios. É fundamental que a nossa atuação e importância seja reconhecida e fortalecida a partir de nossos conhecimentos. Estamos promovendo esse evento para criar um espaço de discussão e marcar nossa posição nesse debate sobre bioeconomia”, enfatizou.

Mais de 100 lideranças fazem evento paralelo ao Fórum Mundial de Bioeconomia (Sikupti Xerente/Coiab)

Durante a abertura do evento, diversas lideranças falaram sobre a importância de se levar em consideração qual o conceito definido para bioeconomia. Elas defendem que a economia deve estar a serviço das pessoas e não o contrário. Os povos originários e tradicionais defendem uma economia capaz de conviver com a floresta, garantir direitos e distribuir renda de forma justa.

“Acreditamos que o desenvolvimento da bioeconomia não deve ser feito de forma isolada e que deve estar inserido num contexto mais global, com a participação de todos os atores envolvidos, em especial das populações tradicionais que, além de ter o conhecimento, têm conservado estes sistemas florestais ao longo dos tempos”, afirmou o presidente do CNS, Julio Barbosa.

Na tarde desta segunda-feira, 18, participantes fizeram ato político na Estação das Docas, local onde é realizado o Fórum Mundial (Sikupti Xerente/Coiab)

Ao final do encontro será redigida a Carta da Amazônia. Fruto dos três dias de discussões, é esperado que o documento marque, publicamente, as principais recomendações dos povos tradicionais para a transição econômica. A ideia é permitir a conservação do bioma e o respeito aos direitos fundamentais de seus povos e comunidades tradicionais, bem como dos milhões de brasileiros que habitam as cidades da região.

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