‘O Território’: documentário premiado no Emmy mostra visão indígena para o mundo, afirma ativista

Documentário que denuncia os crimes ambientais em Rondônia vence o Emmy Internacional — Foto: Reprodução/Redes sociais
Da Revista Cenarium*

MANAUS – Logo no começo do ano, a indigenista Neidinha Suruí embarcou em um voo de Porto Velho (RO) com destino a Los Angeles, nos Estados Unidos. A viagem de mais de 15 horas e 7.000 quilômetros no dia 4 de janeiro teve um motivo nobre: participar do Emmy, principal prêmio da televisão americana.

Neidinha, que fundou a Associação de Defesa Etnoambiental Kanindé e é mãe de Txai Suruí, ativista e colunista da Folha, protagonizou o documentário “O Território” com o jovem indígena Bitaté-Uru-Eu-Wau-Wau. O longa-metragem foi indicado em três categorias da premiação, considerada o Oscar da televisão.

O filme lançado em 2022 que retrata a luta do povo indígena Uru-Eu-Wau-Wau pela defesa de sua terra foi a primeira produção indígena a vencer o Emmy. Ele levou a estatueta de mérito excepcional na produção de documentários.

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“A vitória do documentário foi uma conquista do movimento socioambiental e dos povos indígenas”, diz Neidinha Suruí, apelido para Ivaneide Cardozo, ativista dos direitos humanos e do meio ambiente que se tornou referência em diagnósticos e planos de gestão em terras indígenas.

“É fundamental ter nossa luta reconhecida internacionalmente”, completa a integrante da Rede Folha de Empreendedores Socioambientais.

Para ela, o diferencial de “O Território” é que ele foi criado a partir da visão dos próprios Uru-Eu-Wau-Wau, destacando o protagonismo assumido por eles na luta contra madeireiros e grileiros.

Uma das cenas mais marcantes do longa-metragem mostra a atuação da patrulha de vigilância criada pelos próprios indígenas para se proteger de ataques. Sob o comando de Bitaté, o grupo aborda e questiona um homem invasor durante a pandemia.

Txai Suruí, que atuou como produtora, participou do evento com o também produtor Gabriel Uchida e o diretor Alex Pritz.

A indigenista Neidinha Suruí; ela usa uma camiseta preta com o nome da ONG Kanindé, da qual é líder, e que atua em defesa dos povos originários; na foto, Neidinha está sob uma ponte e ao fundo é possível ver um rio; ela sorri
A ativista dos direitos humanos e do meio ambiente, Neidinha Suruí, trabalha há mais de 40 anos em defesa dos povos originários – Arquivo pessoal

Governo novo, problemas antigos

A ativista acredita que a aclamação do documentário, que também levou prêmios em outros festivais, como o Sundance Film Festival, trouxe maior visibilidade à causa indígena. No entanto, os problemas enfrentados pelos Uru-Eu-Wau-Wau na época da gravação persistiram após a troca de governo.

“De lá para cá, pouca coisa mudou. Apesar de agora termos o Ministério dos Povos Indígenas e a Funai (Fundação Nacional do Índio), que tem à frente uma mulher indígena, continuamos sofrendo ameaças”, relata.

“A diferença é que, no período do presidente Bolsonaro, nossa terra era invadida e a polícia simplesmente não atendia aos chamados.”

Neidinha relembra a emboscada que sofreu no dia 14 de maio de 2023, com a filha Txai e um grupo de indígenas e cinegrafistas. Na ocasião, 50 homens, alguns armados, cercaram a reserva indígena alegando que a terra era uma propriedade privada.

“A gente conseguiu fazer com que o governo mandasse a Força Nacional para a área. Então, isso é uma mudança, lógico. Mas a pressão por parte dos invasores também aumentou”, conta.

Nesse sentido, um empecilho para a proteção dos povos originários é a atuação da bancada ruralista, que tem ganhado força no Congresso Nacional e emplacado medidas como a instituição da tese do marco temporal para a demarcação de terras indígenas.

“Nós elegemos o presidente, mas não o Congresso. O Congresso é anti-indígena, odeia o meio ambiente e defende o agronegócio. Isso não mudou”, diz Neidinha.

O que vem depois do Emmy

Produzir filmes sobre a situação vulnerável dos povos originários é uma maneira de dimensionar o problema para o restante da população, argumenta a indigenista.

“Para quem não mora aqui e não vivencia as invasões como a gente, tudo parece muito distante. A partir do filme, as pessoas passam a ter outro olhar”.

Por essa razão, Neidinha defende que a Agência Nacional do Cinema (Ancine) crie editais voltados para indígenas. Ela diz, ainda, estar planejando a criação de um centro de formação em cinema para jovens indígenas, negros e periféricos.

(*) Com informações da Folhapress

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