‘ONU está comprometida com a causa’, diz consultor sobre combate à fome na Amazônia

O consultor da ONU/FAO Cezar Alvarez (Matheus Medina/Reprodução)
Adrisa De Góes – Da Revista Cenarium

MANAUS (AM) – O consultor da Organização das Nações Unidas (ONU) para a Alimentação e a Agricultura (FAO, sigla do inglês Food and Agriculture Organization) Cezar Alvarez ouviu neste sábado, 24, as demandas de gestores de órgãos da área ambiental e agentes ligados ao desenvolvimento regional do Amazonas, durante debate para tratar a fome na Amazônia. O encontro aconteceu no auditório do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra), no Aleixo, Zona Centro-Sul de Manaus.

De acordo com Alvarez, a FAO no Brasil está comprometida com a causa, e a visita à capital amazonense tem o objetivo de entender a realidade dos atores que percorrem meios nos quais a segurança alimentar é existente. Para ele, medidas efetivas de combate à segurança alimentar devem ser estabelecidas com quem possui papel de interlocução.

“A FAO conhece muito da realidade brasileira, a realidade amazônica, mas dentro dos seus limites. A diversidade social, produtiva, de pensamento, de visões é uma riqueza que temos que incorporá-la, no sentindo quase que mandatório, na construção e monitoramento de políticas públicas. Nós temos também articulado com outros países e contribuindo para trazer para cá a realidade social, econômica, política e produtiva presente nos demais países Pan-amazônicos”, disse o consultor da ONU.

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Gestores de órgãos da área ambiental e agentes ligados ao desenvolvimento regional do Amazonas se reuniram no auditório do Incra em Manaus (Matheus Medina/Reprodução)

Ainda de acordo com Alvarez, as demandas vão contribuir para os diálogos da preparação da 30ª Conferência das Partes da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (COP30), que será realizada em Belém, no Pará, em 2025.

As reivindicações também poderão ser discutidas em um evento da cúpula dos chefes de Estado dos países Pan-amazônicos – Bolívia, Brasil, Colômbia, Equador, Guiana, Peru, Suriname e Venezuela, em agosto, na capital paraense.

“No momento, estamos concentrados em fazer apoio na articulação social para a cúpula, em agosto, e na COP30. Nessa dimensão, vamos dar sustentação dos sistemas alimentares, numa visão mais ampla, no sentido de melhorar a visão da qualidade do produto e do consumo, para evitar perdas de toda a cadeia do processo produtivo. As cidades também precisam dessa capacidade de alimentação, hortas e restaurantes comunitários para enfrentamento da fome e segurança alimentar”, afirmou.

Preocupação

A professora do Programa de Pós-Graduação em Sociedade e Cultura da Amazônia, da Universidade Federal do Amazonas (PPGSCA/Ufam), Marilene Corrêa, responsável por articular o debate, disse que o setor acadêmico discute a relação natureza e cultura na Amazônia a mais de 50 anos. De acordo com ela, atualmente, a desigualdade é mais explícita na região.

A professora do PPGSCA/Ufam Marilene Corrêa (Matheus Medina/Reprodução)

“Na Amazônia profunda, a precariedade das políticas públicas é muito maior, o abandono das populações ainda herdeiras da distribuição das pessoas que foram soldados da borracha. O mapa da fome em Manaus é escandaloso. Como é que as políticas institucionais são insuficientes, nesse momento, para intervir numa progressiva peste da fome nas cidades da Amazônia?”, indagou Corrêa.

Fome na Região Norte

No ano passado, um estudo da Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional (Rede Penssan) apontou que, no Norte brasileiro, a insegurança alimentar grave e moderada está em 54,6% dos lares. O quadro mais grave são em zonas rurais, entre agricultores familiares, onde há o índice maior do que em qualquer outra macrorregião do País.

De acordo com a Escala Brasileira de Insegurança Alimentar (Ebia), usada pela Rede Penssan e pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), insegurança alimentar é quando a pessoa não tem acesso regular a alimentos. O indicador é dividido em três níveis: leve, moderado e grave.

Quadro retirado de apresentação do IBGE, de setembro de 2020, sobre orçamentos familiares e segurança alimentar (Reprodução/IBGE)
ONU para Agricultura e Alimentação

A Organização das Nações Unidas para Alimentação e a Agricultura (FAO) é a agência especializada das Nações Unidas que lidera os esforços internacionais para derrotar a fome. O objetivo é alcançar a segurança alimentar para todos e garantir que as pessoas tenham acesso regular a alimentos de qualidade suficientes para levar uma vida ativa e saudável. Com 195 membros – 194 países e a União Europeia – a FAO trabalha em mais de 130 países em todo o mundo.

No Brasil, a parceria do País com a FAO tem ênfase na consolidação de uma política de abastecimento e em ações voltadas à superação da extrema vulnerabilidade social da população brasileira.

Leia mais: Professora da Ufam, Marilene Corrêa é eleita membro da SBPC
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