‘Operações rápidas e com pouco efetivo’, diz procurador do MPF sobre atuação do Governo Bolsonaro em TI Yanomami

'Ano do caos', declarou o procurador sobre a tragédia humana que se abate sobre o povo Yanomami (Mateus Moura/Revista Cenarium)
Mencius Melo – Da Revista Cenarium

Matéria atualizada às 12h desta sexta-feira, 27, para corrigir o título anterior que atribuía a Alisson Marugal a fala “Bolsonaro fez ações para não funcionar”, frase que não foi dita pelo procurador.

MANAUS – O Ministério Público Federal (MPF) tentou frear os avanços das ocupações e atividades garimpeiras nos últimos seis anos em Roraima, a informação foi dada pelo procurador do MPF-RR, Alisson Marugal, em recente coletiva de imprensa. As omissões do governo do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) resultaram na emergência humanitária em que vivem os Yanomami hoje.

Havia 421 pontos de mineração ilegal e o governo atuou apenas em nove“, afirmou Marugal. “Eram operações muito rápidas, de cinco ou dez dias, com pouco efetivo, com pouca logística”, denunciou o procurador.

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Crianças Yanomami desnutridas em decorrência da opressão de garimpeiros sobre o povo Yanomami (Reprodução/Urihi Associação Yanomami)

Marugal considerou que a atuação do governo federal na região foi com “operações feitas para não funcionar”. Para o procurador do MPF-RR, o que houve foi um movimento pequeno. “Atuaram em apenas alguns pontos do território, não de maneira global”, avaliou.

Saúde

Outro ponto observado pelo procurador foi a atuação do governo federal junto às questões de políticas públicas de saúde, direcionadas ao povo Yanomami. “O Ministério da Saúde, de maneira incompreensível, cessou a alimentação dos indígenas nos postos de saúde e isso fez com que muitos indígenas deixassem de procurar os postos de saúde ou desistissem dos tratamentos“, lamentou.

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Os Yanomami são uns dos mais de 180 povos que habitam a Amazônia e se dividem entre o Brasil e a Venezuela. No Brasil, estão entre os Estados do Amazonas e de Roraima (Reprodução/ISA)

Segundo Alisson Marugal, o MPF recomendou, ainda em 2020, a volta da alimentação nos postos de saúde, principalmente, para crianças desnutridas e idosos em situação de desnutrição, que são acompanhados pela Vigilância Alimentar, e a secretaria disse ‘não‘. “Esse era o primeiro aviso, lá em 2020, de que algo não estava sendo bem gerido no âmbito da Secretaria Especial de Saúde Indígena (Sesai)“, recordou.

Com a situação fora de controle, o flagelo do povo Yanomami se tornou um escândalo de proporções internacionais. “Esse ano de 2022, houve uma rápida aceleração da tragédia Yanomami. É um ano em que nós costumamos chamar aqui, entre os procuradores que trabalham com essa temática, de ‘ano do caos'”, considerou o procurador Alisson Marugal.

ONG

De acordo com a reportagem de O Globo, a ONG Missão Caiuá, cujo slogan é “A serviço do índio (sic!) para a glória de Deus”, recebeu R$ 872 milhões nesses quatro anos de Governo Bolsonaro. Desse valor, R$ 52 milhões deveriam ser destinados ao povo Yanomami, apenas no ano de 2022, só que quase toda a verba, conforme denunciam lideranças indígenas, teria sido destinada a “burocracias”, como contratar aviões e helicópteros para o deslocamento de agentes da ONG e de médicos e enfermeiros. O detalhe é que várias dessas aeronaves pertenciam a garimpeiros.

Junior Yanomami, presidente da Urihi Associação Yanomami (Reprodução)

O líder Júnior Hekurari, presidente da Urihi Associação Yanomami, declarou que o que houve foi descaso e crime, e o dinheiro foi mal gasto e mal planejado. “Quase tudo foi gasto com ‘aéreo’. Avião e helicóptero, para levar profissionais dentro do território, mas apenas na hora da emergência, quando muitas vezes já é tarde demais. Como a ambulância do Samu nas cidades. Não sobra nada para comprar medicamentos. O que a gente precisa é de prevenção, um plano de ação e compromisso com as vidas.

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