Com informações do Infoglobo
RIO DE JANEIRO – O percentual de crianças que não sabem ler e escrever nem mesmo palavras isoladas mais do que dobrou em apenas dois anos. Dados do Sistema de Avaliação da Educação Básica (Saeb), divulgados pelo Ministério da Educação (MEC) nesta sexta-feira, 16, mostram que enquanto em 2019 o País tinha 15,5% das crianças do 2° ano com esse nível de proficiência, em 2021, o índice saltou para 33,8%.
O dado reflete parte do impacto da pandemia na educação. Durante os anos de 2020 e 2021, boa parte das escolas suspenderam suas atividades presenciais devido à disseminação do coronavírus no País. As provas do Saeb são aplicadas a cada dois anos para avaliar o desempenho de estudantes dos anos iniciais e finais do ensino fundamental e do ensino médio. Na etapa de alfabetização, o Saeb é aplicado apenas para uma amostra de estudantes.
Nesta sexta-feira, técnicos do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) destacaram que a etapa da alfabetização registrou o cenário mais preocupante captado pelo Saeb. De acordo com a Base Nacional Comum Curricular, o aluno deve terminar o segundo ano do ensino fundamental alfabetizado. No entanto, a etapa foi a que mais sofreu por conta de escolas fechadas.
Já o índice de crianças no nível mais alto de proficiência em Língua Portuguesa caiu em comparação com a avaliação feita em 2019. Enquanto naquele ano, cerca de 5% dos estudantes dessa etapa atingiram o nível máximo na prova, em 2021, a taxa caiu para 3%.
“(A queda) não foge do esperado porque a gente sabe que nessa faixa etária a mediação presencial é especialmente importante. A alfabetização, em contexto de pandemia, deixou lacunas”, afirmou Clara Machado, servidora do Inep, responsável pelo Saeb.
Desde o início da pandemia, especialistas chamavam a atenção para os riscos à alfabetização de crianças. De acordo com especialistas, nesta faixa etária o papel do professor como mediador para promover a aprendizagem é essencial.
“Não é possível pensar em ensinar a ler e escrever à distância, seja uma criança, jovem ou adulto. A alfabetização envolve, além dos conhecimentos sobre a língua, interação e intervenção do professor junto aos estudantes. Não tem como fazer isso por meio da tela ou à distância”, explica a professora da Universidade Federal de Minas Gerais, Francisca Maciel, que é pesquisadora do Centro de Alfabetização, Leitura e Escrita (Ceale). “Quando o aluno já domina a leitura e a escrita, o professor pode pedir para que leia uma página, interprete, analise. Mas é preciso que o estudante tenha o domínio desse sistema e para que isso aconteça é o ‘olho no olho'”.
Compartilhe:
Comentários