Pela segunda vez, Casa de Chico Mendes é atingida por enchente do Rio Acre

Casa de Chico Mendes, em Xapuri, no Acre, está sob observação, com a forte subida das águas que assolam parte da população do Estado (Cairine Lima/Reprodução)
Mencius Melo – Da Revista Cenarium

MANAUS – Nesta quarta-feira, 29, as águas do Rio Acre chegaram pela segunda vez à casa do líder seringueiro Chico Mendes, em Xapuri (distante 188 quilômetros de Rio Branco), no Estado do Acre. A residência do conhecido ambientalista da Amazônia, assassinado em 1988, se tornou um museu para visitação pública e é tombada pelo Instituto do Patrimônio Artístico Nacional (Iphan).

O imóvel sofreu com a inundação de 2015. Na época, a grande enchente chegou à casa, que foi, imediatamente, interditada. A subida obrigou a um restauro que, segundo o Iphan, já estava previsto desde 2014. Por ser em madeira, cuja arquitetura segue os padrões das casas ribeirinhas da Amazônia, a residência precisará de cuidados assim que as águas baixarem.

Ruas e avenidas de cidades no Acre estão comprometidas com a subida das águas, que atingem grande parte da população acreana (Reprodução/AC24h)

De acordo com Ângela Mendes, filha de Chico Mendes, em entrevista à REVISTA CENARIUM, a casa estava em processo de restauro, mas com a enchente pode haver comprometimento da estrutura. “Se o nível das águas subirem mais, talvez haja comprometimento da estrutura, sim, afinal, é madeira”, avaliou. O nível das águas, segundo o vídeo obtido pela reportagem, chegou à base do imóvel. “Como é possível ver, a água já chegou no assoalho”, comentou. Questionada se haverá nova intervenção, ela respondeu: “Não consigo confirmar isso, mas acho que pelo menos a pintura terá que ser refeita”, apontou.

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Restauro

A CENARIUM apurou que o imóvel estava quase totalmente restaurado, com as obras de infraestrutura elétrica e hidráulica, como a canalização da água da chuva, concluídas. As paredes que são de madeira também foram restauradas, menos a parede da cozinha, que conserva marcas do sangue do seringueiro, que morreu alvejado por um tiro de espingarda disparado por Darcy Alves da Silva, filho do fazendeiro Darly Alves da Silva, mandante do crime.

História

Na noite de 22 de dezembro de 1988, o presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Xapuri, no Acre, foi morto a tiros de espingarda calibre 12, no quintal de sua casa, por Darcy Alves da Silva. O crime fora encomendado por seu pai, o fazendeiro Darly Alves da Silva. À época, se apurou que o assassinato foi decidido em reunião com outros fazendeiros da região. Chico Mendes era, além de ambientalista, a resistência dos seringueiros diante da grilagem de terras. Fundou a primeira reserva extrativista do Brasil, com 40 mil hectares de exploração, em São Luiz do Remanso, situado a 80 quilômetros de Rio Branco, capital do Acre.

Darly Alves e Darcy Alves, pai e filho durante julgamento em que foram condenados pelo assassinato de Chico Mendes, em 1990 (Reprodução/RedeAmazônicaAcre)

Em dezembro de 1990, depois de um julgamento que durou quatro dias, Darcy e Darly foram condenados há 19 anos de prisão. O povo e a imprensa mundial, que aguardavam o resultado do julgamento, aplaudiu a leitura da sentença. Em 1992, Darly Alves chegou a ter o julgamento anulado pelo Tribunal de Justiça do Acre, mas, um ano depois, o Superior Tribunal de Justiça manteve a condenação. Em março de 1993, Darly e Darcy fugiram da penitenciária, sendo recapturados em 1996. Três anos mais tarde, Darly Alves ganhou o direito de passar os dias fora da cadeia. Após cumprirem as penas, os dois voltaram a viver em Xapuri.

O ambientalista dá nome ao Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), autarquia em regime especial vinculada ao Ministério do Meio Ambiente.

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