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Prática discriminatória resulta em levantamento sobre diversidade no futebol brasileiro
Ilustração com desenhos de jogadoras, jogadores e árbitra de futebol, elementos que representam a diversidade (Reprodução/Raiana Britto)
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10 de novembro de 2023
Da Revista Cenarium Amazônia*
BRASÍLIA (DF) – Como resultado de um compromisso firmado pelo Ministério Público Federal (MPF) com a empresa Fisia Comércio de Produtos Esportivos Ltda., detentora dos direitos para comercialização dos produtos da marca Nike no Brasil, foi publicado o Levantamento sobre a Diversidade no Futebol Brasileiro, com ênfase em religião, gênero, raça e origem. O relatório apontou que mais de 40% dos jogadores negros afirmaram já terem sido vítima de racismo nos ambientes desportivos. A discriminação em razão da religião também foi um dos pontos identificados.
“O estudo ouviu 508 profissionais, entre atletas e comissão técnica das divisões de elite do esporte nacional, e trouxe estatísticas importantes sobre racismo, intolerância religiosa, xenofobia e outros pontos de atenção na busca por um ambiente mais inclusivo e igualitário no esporte.
O Levantamento sobre a Diversidade no Futebol Brasileiro foi produzido pelo Observatório da Discriminação Racial no Futebol, em parceria com a Confederação Brasileira de Futebol (CBF), com financiamento da Fisia. O estudo é parte de um termo de compromisso assinado pela empresa com o MPF, por meio da Procuradoria Regional dos Direitos do Cidadão no Rio de Janeiro (PRDC-RJ), com o objetivo de fomentar o debate público sobre o tema da diversidade, visando contribuir para a consolidação de uma cultura de paz e respeito no âmbito esportivo.
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“O levantamento trouxe dados expressivos sobre a discriminação racial como, por exemplo, 41% dos jogadores negros que atuam nos principais campeonatos do País afirmarem já terem sido vítimas de racismo. Os resultados evidenciam os ambientes mais nocivos para a prática, como o estádio (53,9% dos casos) e as redes sociais (31,4% dos casos), mas também alertam para a prática em outros espaços de atuação dos atletas, como centros de treinamento e sedes dos clubes (casos denunciados por 11,4% dos participantes), mostrando que a prática é enraizada e demanda atuação em diversos níveis para ser efetivamente combatida.
“Dados sobre a intolerância religiosa também ilustram a dimensão do problema. O expressivo percentual de 97% das pessoas que praticam religião de matriz africana diz não ser respeitado em sua crença no meio do futebol, dominado por cristãos católicos (52,8%) e evangélicos (30,91%). “A única vez que falei da minha religião, o pessoal ficou dizendo que eu tinha pacto com o diabo e me mandou calar a boca”, relatou um participante.
“A defasagem da participação feminina no esporte foi outro ponto de destaque na análise dos dados coletados. Segundo a pesquisa, o futebol masculino conta com apenas 8% de profissionais mulheres, enquanto 45% das pessoas que trabalham com o futebol feminino são homens. Às mulheres, no futebol masculino, restam cargos ligados à comunicação e saúde, o que mostra que, enquanto homens conseguem transitar entre competições masculinas e femininas, o mesmo não ocorre com as mulheres na mesma proporção. “O recorte deixa nítido a urgência de um trabalho que qualifique e incentive a abertura de espaço para mulheres em cargos de liderança, sejam esses em competições masculinas ou femininas”, diz trecho do estudo.
Metodologia
Os 508 profissionais ouvidos no levantamento participaram de forma voluntária e anônima, por meio de questionário on-line. Participaram atletas e profissionais dos clubes dos campeonatos brasileiros masculino (séries A e B) e feminino (séries A1 e A2), além de integrantes da comissão de arbitragem. A coleta dos dados ocorreu entre julho e agosto de 2023.
Suposta prática discriminatória
O acordo celebrado nasceu de um inquérito civil instaurado a partir de notícia de suposta prática discriminatória na customização de camisas da seleção brasileira em 2022. O caso consistiu na vedação da utilização de palavras relacionadas à religião de matriz afro-brasileira (Ogum e Exu) na personalização das camisas, sendo permitido, no entanto, o uso de termos ligados ao cristianismo (Jesus e Cristo). Na ocasião, a Fisia informou que a política de marketing é definida pela Nike Inc., que proíbe customizações das camisas de times e seleções esportivas com palavras ligadas a temas religiosos.
Para o MPF, a prática justificou a adoção de uma série de medidas para construção de uma cultura de paz, tolerância e respeito pela diversidade, dentre os quais estava a elaboração do estudo agora divulgado. As outras medidas reparativas consistiram na obrigação de atualizar os termos vedados para customização no sítio eletrônico da empresa, de modo a garantir isonomia entre todas as orientações religiosas e fomentar debates sobre tolerância religiosa por meio de eventos e campanhas sociais.
“Por meio do acordo, a PRDC buscou obter medidas de reforço positivo para a construção de uma cultura de respeito às diferenças. O estudo foi apresentado pela Fisia no mês de setembro e, após detida análise do material, juntamente com os demais dados e trabalhos apresentados em atendimento ao TAC, conclui-se que traz dados e números importantes, apresentados de forma bastante didática. Aborda tópicos tratados, por exemplo, pela conferência de Durban: racismo, discriminação racial, xenofobia, intolerância religiosa e intolerâncias correlatas, revelando-se importante instrumento para impulsionar o debate e as ações efetivas de combate a tais práticas”, declarou a PRDC.
A íntegra do estudo está disponível no site do Observatório da Discriminação Racial no Futebol.
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