Produção em baixa, crédito caro e desemprego: os impactos negativos dos juros altos à economia

Alta dos juros pode gerar queda na produção e no desemprego, avaliam especialistas (Marcello Casal Jr./Agência Brasil)
Mayara Subtil – Da Revista Cenarium Amazônia

BRASÍLIA (DF) – A manutenção dos juros em alta tira a força do mercado de trabalho, pois contribui para o déficit na criação de vagas ou, em um cenário ainda pior, infla o desemprego no Brasil. De acordo com economistas ouvidos pela REVISTA CENARIUM AMAZÔNIA, os empréstimos e financiamentos também são afetados, uma vez que é preciso desembolsar mais dinheiro em razão do encarecimento de ambos os processos financeiros.

“Quando os empresários deixam de produzir, acabam demitindo ou não contratam. O setor produtivo não quer aplicar em contratar mão de obra, comprar matéria-prima e entrar no processo de produção, pois o retorno que vai ter será inferior à taxa de juros quando há uma elevação”, disse o economista Newton Marques. O professor de mercado financeiro da Universidade de Brasília (UnB), César Bergo, vai além ao dizer que quem ganha com os juros altos é quem mira em aplicações.

“Os juros altos são bons para quem investe, para quem aplica. Agora, é ruim para quem toma empréstimo ou financiamento, pois a taxa de juros alta aumenta o custo do dinheiro e fica difícil fazer investimento, ou seja, no caso do empresário, investir na produção. É muito melhor tomar uma decisão quando os juros estiverem menores. Isso faz parte do controle da política monetária”, detalhou.

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César Bergo, professor de Mercado Financeiro da Universidade de Brasília (UnB) (Reprodução/Arquivo Pessoal)

No início de novembro, o Comitê de Política Monetária (Copom) anunciou mais um corte de 0,50 ponto percentual (p.p.) da taxa básica de juros (Selic) para 12,25% ao ano. Com essa, que foi a terceira redução seguida por parte do Banco Central do Brasil, a taxa chega ao seu menor patamar desde maio de 2022, à época, em 11,75% ao ano. Segundo o professor de economia do Ibmec São Paulo, Alexandre Pires, esse processo faz parte de uma manobra por parte da autoridade monetária para controlar a inflação.

E [o Banco Central] faz esse controle da inflação pelo volume de dinheiro que deixa na economia. Quando falamos em subir ou baixar juros, estamos falando se o Banco Central vai manter o que a gente chamaria de base monetária ou se ele vai aumentar essa base. Os juros servem para retirar dinheiro da economia”, explicou.

Alexandre Pires, professor de economia do Ibmec São Paulo (Reprodução/Arquivo Pessoal)

O processo funciona assim: o Banco Central determina, por meio do Comitê de Política Monetária (Copom), a taxa de juros. O objetivo do BC é manter a inflação dentro da meta que, por sua vez, é determinada por um grupo formado pelo Banco Central e pelos ministérios da Fazenda e do Planejamento.

Na verdade, conseguir manter a inflação dentro da meta é um dos três pilares da estabilidade econômica brasileira desde a implantação do Plano Real na década de 1990. A taxa de juros, portanto, é o principal mecanismo para conquistar esse controle. “Como é um juro básico, a Selic acaba por influenciar. Ou seja, encarece o dinheiro. Toda vez que sobe, os financiamentos ficam mais caros. Assim, desincentiva muitas vezes o consumo”, complementou o professor Alexandre Pires.

Lula versus BC

A questão da alta dos juros colocou em lados opostos o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e o Banco Central. Desde o início do ano, o chefe do Executivo teceu diversas críticas ao BC e afirmou que não existe explicação para uma taxa de juros que considera alta demais, pois é o que tem prejudicado o crescimento do País.

O presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), teceu críticas ao BC em razão das altas taxas de juros (Marcelo Camargo/21.jul.2023/Agência Brasil)

Para se ter uma ideia, em agosto, durante café da manhã com jornalistas de veículos estrangeiros no Palácio do Planalto, Lula chegou a dizer que Roberto Campos Neto, presidente do BC, “não entende de Brasil” e “não entende de povo”. “Não sei a quem que ele está servindo. Aos interesses do Brasil, não é”, reforçou o presidente. Em contrapartida, o Banco Central justificou que a inflação sairia do controle caso não se mantivesse em patamares mais altos.

Há uma discussão entre os economistas que o juro real, ou seja, a taxa de inflação projetada não era justificada ao ponto de elevar uma alta taxa Selic. Por isso que o Lula estava reclamando, porque não adiantava nada fazer ajuste fiscal se o Banco Central não reduz a taxa básica de juros”, explicou o economista Newton Marques.

O economista Newton Marques (Reprodução/Arquivo Pessoal)

O professor César Bergo cita ainda que a alta dos preços não é algo benéfico ao governo e a queda de braços com o Banco Central pode gerar incertezas na economia. “O presidente pode, indiretamente, impactar nas decisões do Banco Central. Sabemos que os diretores do BC são indicados pelo presidente da República, mas são de alguma forma validados pelo Senado. Teoricamente, quem nomeia para o BC é o Senado. Mas, na prática, sabemos que isso não acontece. Não nesse momento, mas, na prática, acaba acontecendo dessa forma”, explicou.

Há poucos dias, Lula encaminhou para o Senado Federal os nomes dos dois novos indicados para diretorias do BC, Paulo Picchetti e Rodrigo Alves Teixeira. Os dois nomes já haviam sido divulgados pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad, no fim de outubro.

O servidor de carreira Rodrigo Alves Teixeira foi indicado para chefiar a Diretoria de Relacionamento, Cidadania e Supervisão de Conduta. Já o economista Paulo Pichetti tem chances de comandar a Diretoria de Assuntos Internacionais e Gestão de Riscos Corporativos.

Leia mais: Queda de juros pode ajudar desenvolvimento sustentável, afirma Fiepa
Editado por Jefferson Ramos
Revisado por Adriana Gonzaga
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