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Quase extintos nos anos 1970, povo Karipuna teme nova ameaça a partir da BR-319
Os Karipuna chegaram à beira da extinção e, de quase dizimados, pelo contato desastroso com os não indígenas, nos anos 1970, o povo se reconstruiu e, agora, sofre nova ameaça com a BR-319 (Reprodução/Funai)
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02 de março de 2023
Mencius Melo – Da Revista Cenarium
MANAUS – Dados relativos a 2022, do “Observatório BR-319”, apontam que a Terra Indígena (TI) Karipuna sofreu a maior pressão de desmatamento, entre as 69 TIs que estão no raio de influência da rodovia BR-319. O povo Karipuna quase foi dizimado nos anos 1970, quando de isolados passaram a ter contato forçado com os não indígenas. Com o projeto de reconstrução da estrada, levado a cabo pelo governo do ex-presidente da República, Jair Bolsonaro (PL), a população Karipuna teme nova onda de extinção.
De acordo com o InfoAmazonia e OBR319, a Polícia Federal (PF) investiga um esquema de comércio ilegal de madeira a partir de serrarias legalizadas, instaladas em distritos próximos ou vizinhos às terras do povo Karipuna. A madeira ilegalmente retirada passaria por um processo de “esquentamento” para ganhar certificação e, com isso, burlar os órgãos fiscalizadores. A ação é apontada como o principal eixo de pressão sobre floresta já que, no ano passado, foram devastados 1.733 hectares na TI Karipuna.
Em entrevista à REVISTA CENARIUM, a ambientalista Paula Guarido avalia o quadro. “O que levou a esse dado alarmante foi o descaso com os povos indígenas, que sempre aconteceu no Brasil, mas que aumentou, exponencialmente, nos últimos anos. As lideranças indígenas dessa TI denunciam as invasões de desmatadores e grileiros, desde 2017, como informou o líder indígena Adriano Karipuna, recentemente. Nenhuma medida efetiva foi feita para a retirada permanente desses invasores, desde então”, condenou.
A ambientalista continuou. “Para se ter uma ideia, em 2017, essa TI apresentou 258 hectares de desmatamento. Em 2022, foram 1.733 hectares, o maior valor dos últimos 13 anos”, denunciou. “Essa inação do governo é um aviso bastante claro aos invasores, de que eles podem entrar, praticar atividades ilegais e ameaçar os indígenas, que nada será feito. O resultado disso é essa sequência de recordes de desmatamento e focos de calor que o Observatório BR-319 aponta há anos”, lamentou.
Guarido traçou um quadro preocupante, já que com o desmonte de órgãos como Funai, Ibama, ICMBio e a inação que tomou conta da Polícia Federal (PF), nos últimos quatro anos, deixou os Karipuna expostos. “Esses indígenas são ameaçados, constantemente, e as denúncias que fazem para salvar seu território, legitimamente demarcado, colocam suas próprias vidas em risco. Além disso, é amplamente conhecido que o contato de invasores com as populações indígenas pode levar doenças, além da violência sexual e outras mazelas a essas populações”, elencou.
Medidas
Para Paula Guarido, reconhecer os erros é o primeiro passo: “Primeiramente, o governo federal e o governo do Estado de Rondônia precisam admitir que estão falhando na proteção das pessoas que vivem na TI Karipuna. A partir disso, como medida emergencial, deve ser elaborado um programa para a retirada permanente dos invasores desse território, incluindo ações integradas dos órgãos de fiscalização, de controle, organizações indígenas, etc. É importante que estas sejam ações executadas a longo prazo, para coibir o retorno desses agentes ilegais após um tempo.
A TI Karipuna é um marco verde diante da destruição ambiental da Floresta Amazônica, no Estado de Rondônia. A agressão à natureza levou boa parte do tecido verde que foi quase todo consumido em torno da terra Karipuna. A Reserva Extrativista (Resex) Jaci-Paraná foi o território mais agredido em matéria de Unidade de Conservação (UC). Foram 4.254 hectares de floresta postos a baixo em 2022. Esse avanço se direciona à terra Karipuna que sente os efeitos dessa aproximação.
O líder indígena Adriano Karipuna desabafou. “Já fizemos várias denúncias, nos últimos anos, mas o desmatamento continua. A floresta continua sendo destruída e, com isso, nosso povo está perdendo seu território e sua cultura”, lamentou. O “OBR319” se posicionou em texto: “Os povos e comunidades tradicionais devem ser ouvidos e consultados, já que serão os mais impactados pela rodovia. Acreditamos que o futuro de parte importante da Amazônia e de seus moradores depende da forma como esse empreendimento será conduzido nos próximos anos”, diz o documento.
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